ENTENDA A ORIGEM

Maniçoba é alvo de “disputa gastronômica” entre governador do Pará e ministro de Lula

A maniçoba faz parte da cultura paraense de diversas formas. Em 1960 já era citada em Belém do Grão Pará, livro de Dalcídio Jurandir

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Pará - O origem da maniçoba, tradicional prato da culinária paraoara, veio à tona na última sexta-feira durante os eventos de visitas e entregas de obras do presidente Lula em Belém, quando se travou uma “disputa gastronômica” entre o governador Helder Barbalho e o Ministro da Casa Civil Rui costa – que é baiano- , sobre qual a melhor e mais saborosa maniçoba do Brasil: a tradicional, feita no Pará, ou a baiana, da terra do ministro.

Os pratos feitos nos dois Estados possuem preparos e visual semelhantes. Na Bahia a maniçoba é típica da região do Recôncavo baiano e ao invés de ser fervida durante vários dias como ocorre no Pará, a maniva triturada é lavada várias por até 10 vezes até sumir o sumo verde da folha, quando então é levada a uma panela e fervida por 15 minutos e novamente escorrida.

Em seguida é misturada aos tradicionais temperos e ingredientes (bacon, charque, carne de porco, calabresa defumada e, em muitos casos, carne de sol) e aí novamente fervida por cerca de 2 horas e meia. Quem provou maniçoba baiana afirma que o prato nordestino tem o sabor “mais fraco” e com menos ingredientes do que o preparado no Pará.

A maniçoba faz parte da cultura paraense de diversas formas. Em 1960 já era citada em Belém do Grão Pará, livro de Dalcídio Jurandir. Veja o trecho: “As sestas no recolhimento da Gentil transformavam a senhora. Suas imprecações e sarcasmos viraram num hábito muito seu, quase cordial, o modo divertido de se vingar do infortúnio político e xingar os novos poderosos.

Aos poucos foi saboreando novos cuidados menos brilhantes e mais estáveis que eram o senhor preparo da mão de vaca, do cozidão, da feijoada, da maniçoba, do aluá, da gengibirra e da canjica em junho — em junho, seu Virgílio, ah, Inácia restituída — e do peru para o dia do Círio”.

O prato também é referido como amazônico no site da Biblioteca Blanche Knop, da Fundação Joaquim Nabuco, sediada em Recife-PE, referência nacional em diversos tipos de pesquisa, principalmente voltados à cultura.

Indo além, a maniçoba também é considerada amazônica em artigo publicado no “Journal of Food Composition and Analysis”, revista científica referência mundial em pesquisa sobre alimentação, em artigo “Maniçoba, a quercetin-rich Amazonian dish” (“Maniçoba, um prato amazônico rico em quercetina”, em uma tradução livre), de 2006.

Sua origem geográfica, no entanto, não é específica. O que se sabe é que o prato provavelmente foi criado por indígenas no século XVI, o que aumenta a polêmica sobre o estado que desenvolveu a iguaria, já que Belém foi fundada somente no século XVII.

Baiana? Paraense? Ou… Sergipana?

Além da possível origem paraense ou mesmo baiana, a maniçoba também é um prato típico em Sergipe, em especial na cidade de Lagarto. No Estado, até mesmo um povoado possuía o nome de “Maniçoba”, que depois foi modificado para Nossa Senhora Aparecida. O município foi criado em 1963 (portanto, bem próximo da obra de Dalcídio Jurandir)

Durante a peleja gastronômica em Belém semana passada, o governador Helder Barbalho brincou dizendo que que “Só não vale o Rui levar aqui de Belém maniçoba congelada do Pará para servir lá na Bahia. A maniçoba do Pará é a original. O resto é fake!”, brincou Helder. O presidente Lula disse que será o árbitro da disputa, se intitulando “degustador de maniçoba”, reconhecido pela “Federação Mundial de e Maniçoba”.