COMÉDIA ROMÂNTICA

“Amor a toda prova” e as loucuras do coração

Uma análise sobre 'Amor a toda prova' que revela como o amor pode nos fazer agir de maneira estranha, insensata, cômica e apaixonante.

O filme navega pelos altos e baixos dos relacionamentos - Foto: Divulgação
O filme navega pelos altos e baixos dos relacionamentos - Foto: Divulgação

O título original de “Amor a toda prova” é bem apropriado. Não só para a história que acompanhamos no longa, mas também por traduzir fielmente esse sentimento tão avassalador. “Crazy, Stupid, Love”. Simples e verdadeiro. Ora, quem nunca ficou meio louco e fez coisas estúpidas ao se apaixonar? E isso vale para qualquer fase da vida. Seja um pré-adolescente descobrindo as dores e delícias desse novo mar de possibilidades ou pessoas com anos de experiência em assuntos amorosos.

Ah, e claro, em comum a todas as faixas-etárias, existe essa entrega absoluta ao ridículo do amor. Lembre-se de Álvaro de Campos, alter ego de Fernando Pessoa: “As cartas de amor, se há amor, têm de ser ridículas. Mas, afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículas”. Todos os personagens do filme são assim. Buscam desavergonhadamente a sua felicidade de forma tão profunda e verdadeira que é impossível não se encantar. Mesmo eles não sendo perfeitos, deixando às claras suas neuroses, traumas e defeitos variados.

Dessa forma, quando Cal (Steve Carell) é surpreendido pelo pedido de divórcio da esposa, Emily (Julianne Moore), é dada a largada para uma série de acontecimentos que vão redefinir relações e atitudes. É raro ver em uma comédia romântica arcos dramáticos tão bem delineados e complexos como aqui, mostrando, de fato, sua evolução. E o que é melhor: sem jamais perder o timing cômico.

Ryan Gosling e Emma Stone têm química de sobra: divertidos e apaixonantes – Foto: Divulgação

Cal é o tipo de personagem que cai como uma luva para Steve Carell. Ele exala inadequação, um estranho em uma terra estranha. Apaixonado pela esposa desde a adolescência, vê-se agora obrigado a habitar o mundo dos solteiros. Um lugar inóspito, totalmente fora da sua zona de conforto. Para sobreviver, terá a mentoria de Jacob (Ryan Gosling), um cara que dedica sua existência a conquistar a maior quantidade possível de mulheres. Mas nem tudo são flores para Jacob, que tem problemas com intimidade real e acaba tendo um choque ao conhecer Hannah (Emma Stone), que resiste às suas investidas. Inclusive, a química entre Gosling e Stone é extraordinária e rende momentos hilários – não à toa os atores já repetiram a parceria em outros filmes.

“Amor a toda prova” até poderia facilmente ter caído em situações episódicas, de piadas bobas sobre flertes bem ou mal-sucedidos até chegar a um final feliz redentor para todos. Mas não. O roteiro de Dan Fogelman é muito bem construído e desenvolve cada história como se deve. Mesmo a dos coadjuvantes. Afinal, nenhuma história de amor deve ser subestimada. O garoto Robbie (Jonah Bobo) apaixonado pela babá Jessica (Analeigh Tipton). Jessica por Cal. As dúvidas de Emily, ainda dividida entre Cal e o seu affair, David Lindhagen (Kevin Bacon) – aliás, note que em nenhum momento ela é tratada como vilã, ponto para o filme. Até as pontas de atores como Marisa Tomei e John Carroll Lynch são excelentes.

O fato de que tudo, da trama principal às paralelas, converge para um clímax ousado e divertidíssimo é uma sacada de mestre. Há que se destacar aqui o ritmo da direção da dupla Glenn Ficarra e John Requa. É uma narrativa que não desacelera nem quando há a transição entre comédia, drama e romance. A carga sentimental sempre é intensa. A frase de Chaplin “A vida é uma tragédia quando vista de perto, mas uma comédia quando vista de longe” está muito bem representada aqui. Rimos e nos emocionamos junto com os personagens. Sentimos suas angústias e dores. A identificação é absoluta e irrestrita. Afinal, se trata de amor. Quem de nós não é um especialista? E quem de nós não fica totalmente vulnerável a ele?

Onde assistir

  • “Amor a toda prova” está disponível para streaming na Max, além de compra e aluguel no Amazon Prime Video e Apple TV.

E mais…

Segunda dica de hoje, filme foi dirigido pelo argentino Cristian Ponce – Foto: Divulgação
  • HISTÓRIA DO OCULTO – Na última transmissão de “60 Minutos Antes da Meia-Noite”, o programa jornalístico mais assistido da televisão, a estrela da noite é Adrián Marcato, que se prepara para desvendar supostos laços do presidente com o satanismo. O premiado longa argentino é ambientado nos anos 1980 e traz todo o medo e paranoia próprios da ditadura militar no país, com o horror como pano de fundo para essas questões políticas e sociais. O roteiro é aberto a interpretações e obriga o espectador a ficar digerindo e confabulando sobre o que acabou de assistir. Isso certamente é bastante adequado aos temas propostos e nos tira da zona de conforto. O filme está disponível para streaming na Netflix.

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