Você Empreendedor

Você empreendedor: oportunidades por meio da educação

Você empreendedor: oportunidades por meio da educação

Cintia Magno

A oportunidade para empreender pode estar situada em uma área que costuma promover transformações não apenas na vida de quem inicia um negócio próprio, mas também e, principalmente, na realidade da própria sociedade de uma maneira geral, a educação. Diante de tantos desafios a serem enfrentados na área, a educação guarda boas oportunidades para inovação em empreendimentos com diferentes enfoques.

Inseridos no mercado de idiomas há 20 anos, os professores Giselle Ramalho e Ewerton Cunha viram em uma lacuna do próprio mercado a oportunidade de empreender. Na época, ambos trabalhavam em um grande curso de idiomas quando decidiram iniciar a jornada como sócios-proprietários do próprio curso de inglês, o Life & Job.

“Na empresa que trabalhávamos nós iniciamos como monitores, bem jovens, depois viramos professores, coordenadores e ficamos bastante tempo na empresa. Só que a gente acabou percebendo, com o passar do tempo, que quando a gente faz a mesma coisa durante um longo tempo, chega uma hora que a gente, enquanto profissional, não se sente tão desafiado e nós partimos para essa perspectiva de empreender”, conta Ewerton. “Mas nós decidimos fazer algo diferente porque a maioria dos cursos de idiomas trabalha muito com o público juvenil e a gente sentia uma demanda reprimida entre os alunos adultos”.

Ewerton e Giselle perceberam que o público adulto buscava pelos cursos de idiomas em horários de pouca procura, o que acabava inviabilizando as aulas porque, normalmente, as escolas grandes quando registram uma quantidade pequena de alunos em determinado horário, acaba não fechando a turma.

Giselle Ramalho e Ewerton Cunha. Foto: Divulgação

“Nós vimos aí uma demanda reprimida de pessoas querendo estudar, querendo se capacitar, então, resolvemos mostrar para esse adulto que investir nele também é importante. Nós pensamos em uma logística diferente e em um curso menor, mais personalizado e fomos trabalhando os cursos segmentados, inglês específico para cada área de profissional, as redes de hotelaria, taxistas, restaurantes”.

O curso teve início em 2016 já com esse foco nas áreas segmentadas e com poucos alunos por sala. Com turmas de 3 ou 4 alunos, os professores perceberam que conseguiriam dar mais atenção para cada aluno e a proposta começou a surtir efeito. Com uma divulgação muito focada em indicações dos próprios alunos, eles seguiram superando os desafios das crises financeiras e até mesmo da pandemia.

“Quando chegou a pandemia, o curso precisou passar a ser 100% on-line e, com isso, em 2020 a gente perdeu metade dos nossos alunos que não quiseram seguir no on-line, mesmo a gente dando suporte, auxiliando”, conta Giselle, ao pontuar que ela e Ewerton seguem sendo os responsáveis por todas as etapas do negócio, do administrativo, até as aulas. “A gente vem em uma caminhada de retomada. Temos os cursos segmentados como o nosso carro chefe, com aulas presenciais, mas mantendo as aulas on-line também”.

FÍSICA

No caso do professor Fábio Araújo, a demanda de mercado foi diretamente até ele. Também com uma larga experiência na docência, ele viu na internet a possibilidade de proporcionar que os jovens pudessem usar não apenas como entretenimento, mas também para estudar. Foi quando ele decidiu empreender e criou, há seis anos, o Curso Física Online.

“Eu sou professor há 25 anos e eu me lembro que quando eu comecei a dar aula eu só usava o giz e o retroprojetor, mas hoje é diferente”, avalia. “Eu resolvi fazer com que o aluno que já estava usando a internet, usasse também a internet para estudar, então, eu comecei a postar vídeos no YouTube e em algumas redes sociais e os alunos começaram a vir até mim pedindo aulas. Foi quando eu decidi montar um curso on-line”.

Hoje o curso on-line recebe alunos de todo o Brasil e o professor Fábio faz questão de usar uma metodologia de aprendizado eletrônico, uma forma de fazer educação à distância usando os recursos computacionais e audiovisuais.

“Eu uso plataformas nas minhas aulas em que eu posso fazer laboratórios virtuais para os alunos. Com isso, o aluno começa a ter um aprendizado significativo mesmo, não aquela decoreba da física”, aponta. “O curso on-line veio facilitar isso, até porque estudar on-line otimiza o tempo, você pode estudar em qualquer lugar e é mais barato e acaba democratizando o acesso”.

Para se ter ideia do alcance que um curso on-line pode ter, o professor lembra que recentemente teve um aluno que mora no Estado do Acre e que contou que optou pelo seu curso porque não encontrava, na sua cidade, um cursinho pré-vestibular que preparasse para quem almejava cursar medicina. Fazendo o curso on-line com o professor Fábio, à distância, ele foi aprovado recentemente em medicina. “Também em um local dentro do Estado em que é mais difícil o acesso a Belém, o aluno tem a possibilidade de assistir as aulas on-line, então democratiza o acesso mesmo”.

Negócios de impacto social

Em um cenário onde não faltam problemas e desafios a serem combatidos na área da educação, esse segmento também pode ser uma excelente oportunidade para o desenvolvimento de empreendimentos de impacto social.

Luciano Gurgel, diretor-executivo da Artemisia, organização que atua no fomento de negócios de impacto social no Brasil, lembra que a inovação educacional foi apontada pelo Fórum Econômico Mundial como uma das três principais mudanças que serão vistas no setor da educação nos próximos anos, em um cenário pós-pandemia.

“Essa constatação – e tendência – pode ser acelerada e mediada por edtechs de impacto social. No nosso caso, o Brasil optou pela educação pública como pilar da formação da maioria dos brasileiros. Essa jornada é muito longa – vai da educação infantil até a superior e a profissionalizante”, avalia. “Estes são negócios que, por premissa, trazem inovações e geram impacto positivo para um setor tão essencial, tendo, ainda, um direcionamento a pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica – as que mais sofrem com as lacunas no setor”.

DESAFIO

Para que tais impactos positivos possam ser desenvolvidos, Luciano considera que, em primeiro lugar, negócios que busquem gerar impacto precisam entender a fundo o desafio que aflige aquele determinado público que o negócio busca atender.

“Somado a isso, entender quem é o cliente dessa solução, ou seja, quem irá pagar pelo produto/serviço. No caso da educação, é muito comum vermos exemplos de negócios de impacto no qual o cliente não é o aluno ou beneficiário final. Ou, então, exemplos nos quais o aluno paga pela solução; vemos negócios com modelos inovadores, usando a lógica do Income Share Agreement (ISA). Trata-se de um tipo de financiamento de sucesso compartilhado, no qual instituições de ensino profissionalizantes promovem a educação aos estudantes e estes pagam de volta com uma porcentagem fixa da renda conquistada após os estudos”.

Em outra medida, o diretor-executivo da Artemisia considera que para que um negócio de impacto gere impacto real, ele precisa ser um negócio sustentável com uma solução que seja, de fato, aderente. “Outro fator importante é investir na gestão do impacto, ter uma Teoria da Mudança bem estruturada e garantir os dados necessários que permitam analisar se a intervenção proposta pelo negócio está gerando os resultados esperados”.