Com quase 50 mil seguidores no Instagram e um discurso de “empoderamento” e ostentação, Iza Paiva foi detida em uma operação da Polícia Civil contra o crime organizado. Foto: Reprodução
Com quase 50 mil seguidores no Instagram e um discurso de “empoderamento” e ostentação, Iza Paiva foi detida em uma operação da Polícia Civil contra o crime organizado. Foto: Reprodução

A prisão da influenciadora digital Iza Paiva, de 26 anos, em Porto Velho (RO), escancara o abismo entre a vida dourada exibida nas redes sociais e a realidade sombria por trás de certas telas. Com quase 50 mil seguidores no Instagram e um discurso de “empoderamento” e ostentação, Iza Paiva foi detida em uma operação da Polícia Civil contra o crime organizado, acusada de ter ordenado a tortura de dois homens que furtaram sua residência.

Segundo as investigações, ela estava fora do estado quando o roubo aconteceu, mas — em vez de recorrer à polícia — teria acionado integrantes do Comando Vermelho para localizar os suspeitos e aplicar um “castigo exemplar”. A motivação: reafirmar “respeito” e “autoridade” dentro da facção. Os dois homens foram encontrados e brutalmente agredidos, com registros em vídeo da violência.

A operação foi batizada de “Arur Betach”, expressão em hebraico que significa “maldito o que confia”, trecho de uma passagem bíblica que a própria influenciadora havia publicado em suas redes sociais — uma ironia amarga para quem acreditava dominar a narrativa da própria imagem.

A fama como cortina de fumaça

Casos como o de Iza Paiva vêm se multiplicando e revelam o lado obscuro de uma geração de influenciadores que confundem visibilidade com impunidade. A lógica é simples e perversa: quanto mais seguidores, mais poder — e, aparentemente, menos limites.

Recentemente, outros nomes das redes também foram parar na cadeia. Em 2024, um casal de youtubers de Mato Grosso foi preso por lavagem de dinheiro e tráfico de drogas, depois que a Polícia Federal descobriu que o “luxo” mostrado em vídeos de viagens era financiado pelo transporte de entorpecentes escondidos em veículos de luxo.

No mesmo ano, uma influenciadora fitness de São Paulo foi detida em um aeroporto internacional com cocaína escondida em frascos de suplemento alimentar. E, no Rio de Janeiro, um “guru digital” com mais de 200 mil seguidores foi preso acusado de aplicar golpes financeiros e ostentar o dinheiro de vítimas nas redes como se fosse fruto de “empreendedorismo”.

A cultura da ostentação e a erosão moral

O fenômeno dos influenciadores criminosos é um retrato cruel de uma sociedade onde a fama substituiu a reputação e a “visibilidade” virou moeda de poder. Muitos desses personagens não vendem produtos ou ideias, mas fantasias de sucesso rápido e poder absoluto, sem limites éticos ou legais.

Ao agir por vingança e se aliar a criminosos, Iza Paiva demonstrou o que acontece quando a busca por status ultrapassa o senso de civilidade e respeito à lei. A fronteira entre “influencer” e má influência nunca foi tão tênue.

A operação “Arur Betach” deixa um recado simbólico e necessário: não há curtida que apague crime, nem filtro que disfarce barbárie. A Justiça pode demorar a chegar, mas chega — e quando chega, não pede autógrafo.

Editado por Fábio Nóvoa