Grande Belém

Ver-o-Peso: trabalhadores reclamam de feira provisória

Belém, Pará, Brasil, Cidade. Retranca: REMANEJAMENTO/ FEIRANTES/ VER-O-PESO - . Gancho: . Local: Feira do Ver O Peso - Campina - Belém. Data: 27/05/2024. Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.
Belém, Pará, Brasil, Cidade. Retranca: REMANEJAMENTO/ FEIRANTES/ VER-O-PESO - . Gancho: . Local: Feira do Ver O Peso - Campina - Belém. Data: 27/05/2024. Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.
Irlaine Nóbrega
A tentativa de remanejamento dos trabalhadores dos setores de polpa, maniva, raízes, alimentação e artesanato foi marcada por reclamações dos feirantes do mercado do Ver-O-Peso, ontem (27). Alguns se negaram a mudar para a feira provisória porque a obra não condizia com o que foi acordado no projeto junto aos feirantes. Os vendedores de comida e maniva disseram que serão os principais afetados, já que o local temporário é pequeno e construído com material inadequado para a venda das mercadorias.
O material que foi construído na feira provisória é o principal impedimento ao trabalho dos vendedores de maniva. Isso porque o espaço está todo construído com compensado e, ao entrar em contato com a água no processo de moagem da folha da maniva, não resiste por ser um material frágil. É o que diz o feirante Elias Soares, 41, que considera um mau momento para o remanejamento dos trabalhadores.
“Eles nos falaram que ia ser feito com um material, agora já é outro. É feito de compensado e colocaram até umas tendas. Falaram que ia ser feito por etapas, agora já querem colocar todo mundo pra lá. Eles falaram que com três meses a obra tava pronta, mas três meses foi só pra arrumar essa feira provisória. Agora vem o mês de junho, vem Círio, eles estão com o dinheiro selado, mas e a gente que tem muita dívida para pagar? Nós queremos uma feira nova, mas do jeito que tá, só enrolação”, revelou o feirante.
Segundo Jane Santos, 45 anos, a mudança de local de trabalho próximo a realização da quadra junina vai prejudicar na venda da mercadoria. “Por um lado é bom, por outro não. Todo mundo tá discordando porque como a gente trabalha com uma quantidade grande de mercadoria ficou ruim pra gente ficar num pedacinho de banca. Essa época tem quadra junina, a gente precisa trabalhar porque é quando a gente ganha bem, mas agora vamos ter que ir pra lá. Ninguém sabe com isso vai ficar”, confessou.
A proximidade com as festividades juninas, além do Círio, era o que também preocupava a feirante Osvaldina Ferreira. Durante o mês de junho, com a realização dos Arrastões do Pavulagem, a trabalhadora recebe muitos clientes no seu box. Mas, esse ano, ela acredita que a quantidade de consumidores não será a mesma, já que o espaço não traz qualquer conforto.
“Nós queremos sair porque queremos que a obra vá pra frente, mas que eles deem suporte pra gente trabalhar melhor, seis meses não são seis dias. Está chegando junho, tem o Pavulagem, que a gente aproveita para ganhar um dinheirinho, tudo isso vai atrapalhar. Era bom fazer fim do mês de junho. Eles vieram convencer a gente a descer pra cá hoje [ontem]. Hoje não dá, já são umas dez da manhã, vamos deixar pra próxima segunda-feira”, contou a feirante.
O espaço é considerado pequeno pela dona de box de comida Lissandra Souza. Trabalhando com alimentos e bebidas, os quais são condicionados dentro de freezers, os feirantes só foram liberados para utilizar um único refrigerador no novo espaço que, segundo ela, não comporta a quantidade de material com o qual trabalham. Por isso, a feirante cobrava um posicionamento da prefeitura sobre essa situação, já que com o impedimento tornava o trabalho inviável.
“A gente trabalha com comida e bebida e eles só querem liberar um freezer, como a gente guarda eles juntos? Vendemos peixe e camarão, alimento perecível, a cerveja fica super gelada e a gente tem que desligar o freezer porque senão estoura, como fica a comida? Nós cozinhamos o alimento conforme o pedido do cliente, é diferente. A gente também coloca mesa e nesse espaço a gente não tem lugar pra isso. Estamos cobrando uma posição da prefeitura sobre essa situação”, afirma a feirante de 50 anos.
Trabalhadores como Lissandra Souza temem terem prejuízos após o remanejamento para o espaço provisório Foto: MAURO ÂNGELO
REFORMA
Os 25 mil metros do Complexo do Ver-O-Peso, que inclui o Mercado de Peixe e o Mercado de Carne, a Feira do Açaí, a Doca, a Pedra do Peixe e a ladeira do Forte do Castelo, serão totalmente reformados. No total, serão remanejados 1.100 trabalhadores em duas etapas. A primeira delas terá a mudança dos 450 trabalhadores dos setores localizados na plataforma do mercado principal para o estacionamento, onde foi construída uma feira provisória. Com a negativa, a Secretaria Municipal de Economia (Secon) vai realizar a ação ainda essa semana.
De acordo com o secretário municipal de Urbanismo (Seurb), Lélio Costa, o projeto de remanejamento atendeu a todas as reivindicações possíveis dos permissionários, dialogadas em 12 audiências públicas. Mesmo com as reclamações sobre a estrutura, ele considera que a mudança está sendo feita de forma tranquila.
“Todos o processo foi feito de forma transparente e dialogada. Foram feitas doze audiências públicas com os feirantes, todo o projeto foi discutido, inclusive o remanejamento. Tão transparente é que todos vão começar a mudar pra cá sem grandes tensionamentos porque foi fruto de uma diálogo grande com os permissionários daqui. A obra já começou, a ladeira do Castelo está pronta, já entramos na Feira do Açaí e vamos entrar na grande feira a partir de hoje [ontem]. O artesanato já está mudando para o Solar da Beira e os outros setores estarão ocupando o espaço provisório”, afirmou o secretário.