Grande Belém

Ver-o-Peso comemora 396 anos hoje. VEJA FOTOS

O Complexo Ver-o-Peso também entra no bolo, com obra de revitalização que contemplará as áreas das feiras hortifruti, setor de alimentação, vendas, utensílios, estacionamento, além do Mercado de Peixe, do Mercado de Carne Francisco Bolonha, Pedra do Peixe e todo o entorno, incluindo a Feira do Açaí.. Foto Celso Rodrigues/ diário do Pará.
O Complexo Ver-o-Peso também entra no bolo, com obra de revitalização que contemplará as áreas das feiras hortifruti, setor de alimentação, vendas, utensílios, estacionamento, além do Mercado de Peixe, do Mercado de Carne Francisco Bolonha, Pedra do Peixe e todo o entorno, incluindo a Feira do Açaí.. Foto Celso Rodrigues/ diário do Pará.

Wesley Costa

Conhecida como a maior feira a céu aberto da América Latina, o Complexo do Ver-o-Peso também é o principal cartão-postal e ponto turístico da capital paraense, completando nesta segunda-feira (27) os seus 396 anos de existência. O local é onde parte da população desperta todos os dias, bem antes do sol nascer, com cultura, cheiros e sabores amazônicos, sem deixar de lado o seu grande e importante papel na economia local.

Segundo a Prefeitura Municipal de Belém, que administra o espaço por meio da Secretaria Municipal de Economia (Secon), a feira conta com 1.193 permissionários atuando formalmente em todo o complexo que compreende a Feira do Açaí, Mercado de Carne Francisco Bolonha, Mercado de Ferro (Peixe), Pedra do Peixe e a própria feira do Ver-o-Peso. Este número pode ser ainda maior, se levado em consideração os ajudantes e ambulantes da área.

Além das estruturas arquitetônicas datadas do século XIX, o cenário possui milhares de histórias a serem contatadas por aqueles que tronam o Ver-o-Peso o que ele é para a cidade de Belém e também para o mundo. Somente na feira do açaí, a Secon contabiliza 99 permissionários ativos. Na pedra do peixe o número de trabalhadores registrados chega a 163.

Outros 95 que exercem atividades com pescados e mariscos, estão dentro do famoso mercado de ferro que começou a ser construído em 1899, com influência europeia. No mercado de carne datado da mesma época, a prefeitura contabiliza 93 feirantes. O maior número de permissionários está ligado diretamente a feira de Ver-o-Peso, que comporta seus 743 trabalhadores formais.

Quem trabalha no local, conta que o Ver-o-Peso é uma extensão da própria casa. Há 56 anos, Davi Furtado, 82, saiu do município de Bujaru, no nordeste paraense, com destino à capital em busca de trabalho. Ele começou a frequentar a feira porque conhecia algumas pessoas que já trabalhavam nos espaços, mas não imaginava que se tornaria um dos filhos desse ponto turístico.

“Por eu ser caboclo já conhecia a farinha, mas nesse início não sabia como e nem tinha orientações de como trabalhar com ela. Foi estando aqui que comecei a aprender sobre esse universo e graças a Deus, tudo que tenho hoje devo a essa atividade que me prendeu aqui. Espero que nos próximos anos essa essência do Ver-o-Peso continue forte e que mais pessoas possam vivenciar tudo o que tem aqui, seja nos seus trabalhos ou até mesmo com frequentadores”, disse.

ROTINA

Dos 62 anos de idade do artesão Tomás Alonso, 45 já foram destinados ao Ver-o-Peso. Sua história com a feira começa não tão diferente de outras que existem ali. Por influência de amigos e parentes, as artes produzidas lhe ajudaram a fixar raízes em um dos setores de maior circulação de turistas que visitam o complexo. Nesses anos todos, as marcas que ficam são do próprio trabalho, conta Alonso.

“Aqui acontece tanta coisa diariamente, mas nada é tão marcante quanto a nossa rotina mesmo. O compartilhar desse espaço com outros irmãos feirantes, as pessoas que passam por aqui sempre ensinando algo, é o que move essa feira. Claro que o trabalho também nos permite realizar muitos sonhos e quem vive aqui, está porque gosta mesmo”, afirma o artesão.

Outro lado importante da feira são os consumidores bastante exigentes, e que não abrem mão de ir ao local para garantir os melhores produtos, desde os pescados até o famoso almoço com açaí vendido nos boxes de comida. “Realmente, o Ver-o-Peso é algo inexplicável e com certeza faz parte da vida de todos que moram em Belém. Fazer a feira no Ver-o-Peso é muito diferente e sempre tenho certeza de que o melhor está aqui”, diz Sandra Rodrigues, 61.

O aposentado Jorge Dutra, 56, diz que o preço de comercialização, que geralmente é mais em conta, não é um dos principais motivos que o leva ao complexo. “Mesmo com essa conjuntura da nossa economia, essa questão do valor fica até em segundo plano quando a gente chega aqui. O que vale é vivenciar esse ambiente e sentir essa energia que só tem no Ver-o-Peso, um espaço que abraça a todos e que oferta muita coisa além de produtos”, destacou.

O movimento na feira começa nas primeiras horas do dia e só termina na madrugada FOTOS: CELSO RODRIGUES