Grande Belém

Travessa Lomas Valentinas foi planejada para ser urbanizada

Cintia Magno

Mais uma herança deixada pelo então Intendente Antônio Lemos no cenário de Belém, o bairro do Marco é reflexo do processo de urbanização vivenciado pela capital paraense no final do século XIX e início do XX. Mas para além das largas e arborizadas vias que caracterizam o bairro, outro elemento presente na região remete a um fato histórico que é lembrado até hoje, o nome dado às avenidas e travessas que remetem a batalhas ocorridas durante a Guerra do Paraguai, como é o caso da Travessa Lomas Valentinas.

O que hoje é o bairro do Marco, ainda no século XIX era chamado de Marco da Légua, já que ali se encontrava o limite da Primeira Légua Patrimonial de Belém, extensão de terra que foi concedida pela corte portuguesa à Câmara Municipal de Belém ainda na primeira metade do século XVII. Apesar disso, a área só vai ser mais densamente ocupada nos tempos áureos da economia da borracha, período que marca um momento de expansão e de urbanização de Belém.

Até aquele momento, a área onde hoje está a avenida Almirante Barroso servia como uma região de descanso das famílias mais abastadas, já que se encontrava distante do centro urbanizado de Belém. Porém, o crescimento da cidade impulsionado pela economia da borracha fez com que, logo, essa região da cidade também fosse incluída no processo de urbanização comandado pelo Intendente Antônio José de Lemos. Natural do Maranhão, Antônio Lemos administrou a capital paraense ainda no período de 1897 a 1912, ocupando a função que, hoje, é conhecida por Prefeito Municipal e sendo responsável por desenvolver a cidade quando o país ainda iniciava o período da República.

Neste contexto, o bairro do Marco foi fruto de um planejamento feito por Antônio Lemos, que pensou a configuração do bairro a partir de um modelo arquitetônico francês pensado pelo Barão Haussmann – por isso conhecido como modelo haussmanniano – e que é caracterizado pela presença de ruas largas, arborização e saneamento básico.

Cortando a já muito importante via que veio a se tornar a avenida Almirante Barroso, a travessa Lomas Valentinas é fruto deste processo e ainda hoje guarda características que remetem a essa memória da formação da cidade, sendo marcada, à altura do bairro do Marco, pela presença do Bosque Rodrigues Alves, ainda que lateralmente.

Passando, ainda, pelos bairros da Pedreira e Sacramenta, a via hoje é caracterizada pelo fluxo intenso de veículos e pela substituição gradual, em alguns trechos, das tradicionais residências por inúmeros estabelecimentos comerciais. Já no bairro da Sacramenta, às proximidades da avenida Senador Lemos, a casa do autônomo José Luís da Silva, 48 anos, mantém a característica original de residência, mas ele lembra a importância da presença dos comércios para o desenvolvimento da via. “Depois que vieram os comércios grandes pra cá, concessionária, valorizou muito a rua”, rememora. “Eu gosto de morar aqui, me sinto bem porque é perto de tudo”.

Acompanhando as mudanças vivenciadas pela travessa há 25 anos, desde que se mudou para a Lomas Valentinas, José Luís lembra que nem sempre o cenário visto da sacada de casa foi de uma rua asfaltada. “Antigamente era um mato que tinha aqui. Melhorou 100% desde a época que eu vim pra cá”. A memória guardada pelo morador está registrada nas páginas do DIÁRIO, em uma edição de julho de 1990, onde as fotografias mostravam um cenário quase rural na altura da travessa Lomas Valentinas com a Rua Nova.

 

LOMAS VALENTINAS

l Para além da relação com o planejamento do bairro do Marco pelo então Intendente Antonio Lemos, ainda no final do século XIX e início do século XX, a travessa Lomas Valentinas ainda remete a outro fato histórico, a Guerra do Paraguai. Isso porque, assim como outras travessas – como a Perebebuí e a Curuzú -, o nome dado à Lomas Valentinas remete à guerra da qual o Brasil saiu vitorioso. O historiador e professor Rudivaldo Souza explica que o nome da travessa é uma homenagem às fortificações Lomas Valentinas, que foram instaladas durante a Guerra do Paraguai. “O Brasil, participando dessa guerra, e nesta batalha denominada também de Lomas Valentinas ou Batalha de Ita, saiu vencedor, juntamente com o Uruguai e a Argentina, que formavam a Tríplice Aliança. Solano Lopes, que era o Presidente do Paraguai, saiu derrotado. Por isso, com o passar do tempo, aqui em Belém homenagearam esta Batalha Lomas Valentinas e é por isso que se chama Travessa Lomas Valentinas”.

José Luis da Silva Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.