Grande Belém

Salve, São Jorge! Todos celebram o santo guerreiro

Belém, Pará, Brasil. São Jorge é homenageado por moradores da Marambaia. Depois de dois anos, a caminhada pelo bairro em devoção ao santo guerreiro pôde ser realizada, para emoção dos católicos de Belém. 22/04/2022. Foto Wagner Santana / Diário do Pará
Belém, Pará, Brasil. São Jorge é homenageado por moradores da Marambaia. Depois de dois anos, a caminhada pelo bairro em devoção ao santo guerreiro pôde ser realizada, para emoção dos católicos de Belém. 22/04/2022. Foto Wagner Santana / Diário do Pará

Ana Laura Costa

Neste domingo (23), no Brasil e em parte da Europa, é dia de celebrar o “Santo guerreiro, invencível na fé em Deus, que abre os caminhos”: São Jorge.

Na fé cristã, o santo é tão importante, que é venerado tanto pela Igreja Romana, como pela Igreja Ortodoxa e Igreja Anglicana. Sua história de fidelidade e fé em Cristo são referências para milhares de devotos ao redor do mundo. Mas quem foi São Jorge?

Jorge teria sido um soldado que morreu por ser cristão. Segundo a tradição, Jorge nasceu na Capadócia, por volta de 280 d.C, região da Turquia. Na juventude, entrou para o exército romano, e ficou conhecido por sua habilidade e competência nas batalhas.

Mas, como católico, sempre lhe incomodou a forma como o império romano tratava aqueles que acreditavam em Cristo. Ao se recusar a perseguir cristãos, revoltou o Imperador Diocleciano, e em 23 de abril de 303 d.C, foi torturado e decapitado. Assim, tornou-se símbolo da fé cristã.

Sincretismo

O sincretismo nada mais é do que a mescla entre doutrinas distintas que permanecem com os traços de sua doutrina original.

Assim, no país, São Jorge é um dos santos com maior devoção, isso porque no sincretismo brasileiro, as religiões de matrizes africanas, como a Umbanda e Candomblé, também celebram São Jorge sob o nome do orixá Ogum.

Isso acontece quando africanos escravizados chegam ao país e, com suas crenças vetadas, são obrigados a passar por um processo de catequização, já que na época, apenas a religião cristã era permitida. Mas, para manter a fé em seus deuses, como instrumento de luta ancestral, começam a associar seus orixás a imagens de santos católicos, para não serem castigados.

Dessa forma, Ogum, um orixá guerreiro, o Senhor dos caminhos, patrono da agricultura do povo Yorubá, representa a luta pela sobrevivência. É o Orixá dono do ferro e de todos os utensílios feitos desse metal. Pronto para enfrentar qualquer batalha e vencer os combates, é associado à São Jorge, sendo uma grande inspiração de força aos fiéis.

Celebrações

O Santo Guerreiro é celebrado hoje em altares, missas, procissões, assim como em terreiros ao som de tambores e feijoada.

Na igreja católica, as festividades começaram desde o último dia 14. Em Belém, na paróquia de São Jorge, uma grande programação aguarda os fiéis. De acordo com o padre Raimundo Ribeiro, pároco de São Jorge, que fica no bairro da Marambaia, há uma alta expectativa para a procissão, momento mais aguardado por todos.

“Estamos aguardando de 4 a 5 mil pessoas na procissão, é um momento especial, sobretudo de fé! São Jorge representa para nós o amor ao evangelho, o amor a Cristo e suas palavras. Ele é a representação da fidelidade e da firmeza, uma referência para nos mantermos fiéis ao nosso Senhor Jesus Cristo”, destacou.

O tema da festividade deste ano é “Vocação como Graça, na Partilha do Pão e da Esperança”. Os devotos poderão demonstrar sua fé, aproximar-se do sagrado e agradecer pelas graças alcançadas em cinco missas que serão realizadas entre 10h e 17h.

Ao longo do dia, a paróquia estará aberta para visitação dos fiéis. O pároco ressalta que, neste ano, a procissão será realizada após a última missa, às 18h. “Faço questão de ressaltar que o tema deste ano não poderia ser mais propício. A vocação é dom de Deus, Ele é quem partilha conosco, é assim que devemos partilhar o pão com aqueles irmãos que mais necessitam. A esperança representa Maria, nossa Mãe, assim como São Jorge, trás em vosso rosto”, frisou. No salão paroquial, terão atrações musicais, culturais e vendas de comidas típicas para angariar fundos para reformas na igreja. Também haverá um almoço aos mais necessitados.

No último domingo (16), marcando o início das celebrações ao Santo e Orixá, umbandistas realizaram uma procissão pelas ruas da ilha de Outeiro, com o levantamento do mastro. O evento foi realizado pelo Terreiro Recanto dos Orixás e Mãe Mariana.

Já no bairro da cidade nova, no barracão da Mãe Tânia Regina, as celebrações começaram na sexta-feira (21), Dia das Oferendas. Os filhos de santo realizaram oferendas secas, como explica a mãe de santo.

“A gente chama de obrigação, os filhos de santo realizam as oferendas secas até as 12h. Ogum, o orixá, recebe feijão preto, toucinho e dendê. Mas também acompanham bolos e pipocas”.

No sábado (22), as celebrações foram realizadas com cortes e rituais, uma grande festa de aniversário, conforme a religiosa conta. Os cortes acontecem quando os animais são sacralizados, uma extensão da ‘gira’, fortalecendo a relação das filhas e filhos de santo com suas entidades. “Após isso, cantamos os cânticos invocando Ogum e, possivelmente, apreciamos sua breve passagem”, contou mãe Tânia.

Mãe Tânia explica que Ogum é uma preciosidade para seus filhos. “Ele é o patrono, o maior destaque, é quem abre as portas e age dentro com Exu. É uma grande pedra preciosa, é o Senhor do Mariô, das batalhas que vencem. Todo mal é vencido por Ogum”, ressaltou.

Hoje, o festejo termina com os filhos de santo realizando uma grande homenagem a Ogum regada a feijoada, cânticos e rodas de samba.

CATÓLICOS

Confira a programação de Celebração Eucarística na Paróquia São Jorge:

07h – Pe. João Régis Araújo Teles, CM

10h – Côn. Ronaldo Souza Menezes (Vigário Episcopal) Transmissão pela TV Nazaré

12h – Pe. Severino Isaías de Lima, SJC

15h – Pe. Roberto Ademir Henrique Melgar Junior

17h – Pe. Raimundo Ribeiro Martins, SJC

18h – Grande PROCISSÃO do Glorioso São Jorge com bençãos de São Jorge da Sacada da Igreja

l O percurso da Procissão de São Jorge abrange: saída da paróquia, avenida Dalva; passagem Nossa Senhora de Fátima; avenida Pedro Álvares Cabral; avenida Tavares Bastos; passagem Dalva; rua Anchieta; avenida Dalva e retorno para a paróquia.

Padre Raimundo Ribeiro. Fotos: Wagner Santan
Igreja de São Jorge, na Marambaia
Mãe Tânia Regina