Grande Belém

Sacramenta é fruto de história de amor

B airro tradicional da capital paraense, a Sacramenta acumula mais de 100 anos de presença no cenário de Belém e na vida das milhares de pessoas que ali vivem. Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.
B airro tradicional da capital paraense, a Sacramenta acumula mais de 100 anos de presença no cenário de Belém e na vida das milhares de pessoas que ali vivem. Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.

Cynthia Magno

Bairro tradicional da capital paraense, a Sacramenta acumula mais de 100 anos de presença no cenário de Belém e na vida das milhares de pessoas que ali vivem. Uma curiosidade que, talvez, pouca gente conheça é que o bairro, hoje tão movimentado, teve seu início ligado a uma história de amor.

O fato que levou à instalação da primeira moradia do bairro da Sacramenta é apenas uma entre as tantas histórias que serviram de inspiração para o professor de educação física e fisioterapeuta Guilherme Pimenta, morador antigo do bairro e autor do livro memorialista “Sacramenta – 100 anos de História (1922 a 2022)”, lançado pela Imprensa Oficial do Estado do Pará (Ioepa), por meio da Editora Pública Dalcídio Jurandir, na última edição da Feira do Livro e das Multivozes.

A publicação relata desde os primórdios do bairro belenense até os dias atuais e, segundo conta o professor Guilherme, o que não faltam nas memórias do bairro da Sacramenta são boas histórias. “A história da Sacramenta começou no ano de 1922. Ele não foi um bairro criado ou planejado. Antes, aquela região de mata era muito visitada por moradores da Pedreira, Telégrafo e Marambaia que iam lá caçar, tomar banho nos igarapés, tirar frutas das árvores, um lazer que era típico daquela época dos anos 20”.

O professor lembra, portanto, que desde aquele período, a área territorial que hoje compõe a Sacramenta já se encontrava entre os bairros da Pedreira, Telégrafo e Marambaia, que já eram mais antigos. O processo de ocupação da região iniciou, mais efetivamente, quando dois moradores da Marambaia decidiram se unir e iniciar a vida em uma parte daquelas terras.

“O seu João e a dona Francisca moravam nas imediações do bairro da Marambaia, eles eram filhos de pais e avós pernambucanos e que vieram trabalhar na Estrada de Ferro de Bragança. Então, eles começaram a namorar e, como adiantaram um pouco as coisas, tiveram que se casar”, lembra.

“Então, o Seu João foi atrás do terreno, ele com 18 anos e a dona Francisca também muito nova, com uns 16 anos. Como ele já devia conhecer aquela área, decidiu se instalar lá. Ele mediu o terreno e eles começaram a construir uma palhoça lá e fizeram o primeiro plantio que foi da macaxeira. Por isso que o bairro da Sacramenta sempre foi chamado de bairro da Macaxeira, a sua origem vem daí”.

Com o passar do tempo, a área que até então possuía características essencialmente agrícolas, foi recebendo novos moradores, pessoas que foram se estabelecendo pelo espaço, sobretudo nas proximidades de onde ficava o antigo Aeroclube. Depois de muita luta travada por esses moradores pioneiros, foi dado posse de toda aquela área para as várias famílias que ali já viviam. “Então, em 1922, o Seu João e a Dona Francisca, que foram os primeiros moradores do bairro, iniciaram a história do bairro da Sacramenta”.

PROCESSO

A partir de então, o bairro foi apresentando um desenvolvimento natural, embora muito difícil. O professor Guilherme conta que, já depois dos anos 30, a atuação de congregações religiosas e o trabalho social desenvolvido por elas acelerou o processo de desenvolvimento do bairro.

“Logo depois dos anos 30, a atuação religiosa começou a ter uma influência no bairro também. Os padres do bairro do Marco, da Paróquia de Santa Cruz, ficavam mais próximos de lá e iam muito por lá visitar doentes, levar orações e as irmãs do Colégio Catarina Labouré vinham de São Vicente de Paula, que é próximo à Praça Brasil, de carroça ou de charretes para tomar conta daquelas famílias, fazer partos, cuidar das crianças e começou, então, o desenvolvimento educacional e religioso no bairro nessa época dos anos 30“, diz.

“Tanto que a primeira missa que foi celebrada no bairro foi em 1939”, relata, ao explicar que a primeira construção erguida pelas irmãs era uma palhoça, instalada onde hoje se encontra o tradicional Colégio Catarina Labouré. “Então, a Igreja Católica, através das irmãs, levou o trabalho social para o bairro e no final dos anos 40 também chegou a Assembleia de Deus e também implantou o seu trabalho religioso e social no bairro, também muito importante”.