Grande Belém

Ruas Históricas: em cartaz, uma via da história de Belém

 Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.
Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.

Cintia Magno

Muitas ruas de Belém que ainda hoje recebem um tráfego importante de pedestres e veículos foram abertas pelos próprios colonizadores portugueses durante o processo de formação da cidade fundada no século XVII. Entre as vias que integram o que foi o segundo bairro criado na capital, a Campina, está a rua Arcipreste Manoel Teodoro, que inicialmente recebeu o nome inusitado de rua da Cruz das Almas.

Segundo relata o historiador Ernesto Cruz no livro ‘Ruas de Belém’, até 1839 Belém era formada por 35 ruas, 31 travessas e 12 largos, como eram chamados alguns espaços mais amplos da cidade que se configuravam como locais de sociabilidade no período colonial. Entre as ruas já abertas naquele período, já se encontrava a denominação da rua das Cruz das Almas.

O nome inicial faz referência a uma característica que marcou várias ruas da capital paraense, a atribuição de nomes de famílias que residiam na via ou de igrejas e monumentos ali presentes. “Em geral, os moradores de maior destaque davam nome à rua em que residiam. E não somente os moradores, como os edifícios públicos, as igrejas – ‘ou outra particularidade ocasional ou local’”, escreveu Ernesto Cruz, ao justificar o nome originário da atual rua Arcipreste Manoel Teodoro.

“A rua da Cruz das Almas, por ser o caminho onde ficava erguida a Cruz e colocada ao lado a caixa das esmolas para a missa das almas do purgatório. Era esse o costume da época, que se tornou tradição em todo o Brasil”.

Diante das tantas modificações vivenciadas pela rua, hoje já não se vê mais o tal cruzeiro. Acompanhando o estreito caminho ainda habitado por casarões antigos, mas bastante marcado pela presença de construções modernas e grandes prédios, é até difícil imaginar onde chegou a ser instalada a cruz que recebia as doações para as almas. Morador da rua há 25 anos, Sérgio Palmiquist conta que, segundo ouviu, a tal cruz ficava no antigo Largo São José, hoje chamada de Praça Amazonas.

“São 25 anos na Arcipreste e muita coisa mudou nesse período. Hoje a gente tem muito mais tráfego de veículos do que antigamente, o fluxo ficou muito grande”, apresenta. “Sobre a história da rua, o que eu sei é que era a Estrada da Cruz das Almas e o cruzeiro ficava aí na Praça Amazonas”.

Durante o período colonial, o espaço que hoje é conhecido como Praça Amazonas era o antigo Largo de São José. Segundo o historiador Ernesto Cruz, o nome originário fazia referência ao convento erguido em 1749 pelos frades capuchos da Ordem de Nossa Senhora da Piedade.

Após a expulsão dos jesuítas do Brasil, porém, o prédio passou a abrigar outros espaços, como uma olaria, quartel, depósito de pólvora, hospital, cadeia pública e até mesmo um presídio. Depois de mais de 100 anos de funcionamento como presídio, a cadeia foi desativada em 1980 e obras de reestruturação e restauro do prédio deram vez para a instalação do Espaço São José Liberto, que se mantém até hoje.

Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.

Parte do imaginário da cidade de Belém por diferentes motivos e em diferentes épocas, a construção é apenas um dos marcos históricos ligados à Rua Arcipreste Manoel Teodoro que podem ser contemplados ainda hoje. Além dele, na altura do bairro de Batista Campos, a rua abriga a Sinagoga Shaar Hashamaim, construída em 1826, e considerada uma das mais antigas do Brasil.

Mais à frente, logo no encontro da Arcipreste Manoel Teodoro com a avenida Presidente Vargas, o saudoso Cinema Olímpia é o grande destaque. Inaugurado em 1912 como uma casa de luxo para a exibição de filmes, o cinema passou por várias transformações ao longo do tempo, sem nunca perder a função original.

Primeira fachada do Cine Olímpia

Dos mais de um século de existência do cinema, o autônomo Antônio de Deus conhece bem 25 anos. Trabalhando na entrada da sala de exibição por todo esse tempo, ele acompanhou os tempos de grande fluxo de pessoas interessadas nos filmes em cartaz.

“O que eu me lembro era dos filmes que passavam, o movimento era muito grande. O que eu mesmo cheguei a assistir aí foi ‘Ghost – Do outro lado da vida’ e Titanic. Quando passou Titanic era fila de gente para assistir aqui”, recorda. “Depois o movimento foi caindo, mas ainda vem muita gente para ver o cinema, mesmo ele estando fechado agora. Vem gente até de fora, turistas. Eu gosto de trabalhar perto de um lugar que é histórico para a cidade. É daqui que eu tiro o sustento do meu dia a dia”.