Carol Menezes
Ganha cada vez mais força a campanha em favor de Belém como sede da trigésima edição da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, a COP 30, o maior encontro do mundo sobre o tema – para além do presidente da República, Lula (PT), do governador do estado, Helder Barbalho (MDB), e do prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL), diferentes lideranças mundiais já divulgaram apoio para a realização do evento na capital paraense.
Desde já, a possibilidade abre espaço para muitas expectativas relacionadas à movimentação da economia no período e até mesmo para algum tipo de preparação com foco em dar conta de diferentes demandas a serem significativamente aumentadas antes, durante e logo após a programação, que costuma durar cerca de uma semana.
Se Belém for de fato a anfitriã da COP 30, é possível que isso seja algo ainda maior do que foi o Fórum Social Mundial de 2009, quando mais de 100 mil pessoas de todo o mundo estiveram na cidade para seis dias de programações que se dividiram entre os campi da Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) e outros locais.
“O FSM se deu em um contexto diferente do de agora, e a proposta da COP 30 é bem maior, tem discussão mais ampliada atrelada a uma visão muito maior do que se projetava em 2009: bioeconomia, crédito de carbono, economia verde, que são conceitos que surgiram agora, não só em função das variações climáticas negativas no mundo, mas pela necessidade de pautar o clima em função do que se vive mundialmente e do que o Brasil representa com sua fauna, flora e a perspectiva disso no futuro”, avalia o supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/PA), Everson Costa.
Para ele, a oportunidade de ter Belém como palco desse debate tem de servir para que o mundo conheça o Pará e a Amazônia. “Atravessamos uma pandemia que mudou as perspectivas da relação de produção e consumo. A tecnologia que a gente tem hoje, diferente da de 2009, vai permitir que o mundo inteiro participe da COP 30, pessoalmente ou virtualmente. É um contexto diferente e mais desafiador”, sugere.
PONTES
Uma COP 30 em Belém poderá fortalecer pontes com o turismo; já temos o de negócios, o religioso, e essa é uma chance de reforçar turismo ambiental. Everson vê ainda um diferencial para investimentos no Pará, já que é o estado da região norte com o maior PIB e o 10º na produção de riqueza nacional.
“Poderíamos discutir riqueza natural fazendo relação com o desenvolvimento sustentável, mas trazendo reflexões e possibilidades de alavancar outros indicadores nossos que são ruins: a distribuição de renda per capita é muito pobre, somos a 16ª pior renda do Brasil e a 5ª pior renda per capita do Norte. Somos de um estado rico, mas de povo com dificuldades e renda muito baixa. O ganho seria na verdade para o país inteiro e para a Amazônia”, analisa o supervisor técnico do Dieese/PA.
Everson atenta ainda para a importância de se discutir e efetivar a criação dos empregos verdes, que têm a perspectiva de não agredir a natureza. “É preciso pensar em estratégias também no campo da geração do emprego, com investimento em qualificação, pesquisa, inovação distante de discursos e vieses apaixonados e radicais. Ninguém quer derrubar a Amazônia, destruir rios e avançar com exploração, mas queremos desenvolvimento com geração de emprego e renda”, diz.
“Nossa população desempregada é de cerca de 347 mil no Pará, uma informalidade acima de 1, 5 milhão, dois milhões ocupados ganhando até um salário mínimo. É um retrato que incomoda bastante, então por que não uma agenda ambiental com perspectiva de desenvolvimento sustentável que possa trazer emprego, renda e melhorar indicadores? Temos potencial para crescer nisso”, afirma.
Trabalhadores esperam grande demanda
Como o evento é somente daqui a dois anos e meio, alguns preparativos mais específicos devem ficar mesmo só para mais perto dos dias da Conferência. O Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Estado do Pará (SHRBS-PA) informa que não visualiza muitos investimentos no setor de hospedagem, mas o mesmo não deve ocorrer para quem trabalha com comida de um modo geral.
“Não justifica novos investimentos em vagas de hotelaria apenas para um evento, porque depois fica um elefante branco. A malha de leitos que há na cidade é suficiente em todos os meios, motéis, pousadas, etc, comporta bastante gente. Mas em relação a alimentação fora do lar pode sim haver investimentos, porque são pessoas de países distintos que estarão aqui, e embora se privilegie a culinária local, deverá haver quem decida investir em oferecer uma culinária mais abrangente”, sugere Fernando Soares, assessor jurídico do SHRBS-PA.
Boates, restaurantes e outros empreendimentos ligados a vida noturna devem faturar no período. “Quando acaba o dia, as pessoas querem sair, conhecer a cidade, então vai ser bom para o turismo, para a culinária”, antecipa Fernando.
APLICATIVOS
De acordo com um levantamento feito pela Uber em 2020, entre 25 mil e 30 mil motoristas de aplicativo circulam pela Região Metropolitana de Belém diariamente. Para o Sindicato dos Motoristas de Transporte por Aplicativo do Estado do Pará (Sindtapp), esse quantitativo deve aumentar em função da COP 30 nos próximos anos.
“A gente espera que seja um aumento controlado, por dois motivos: para não sufocar a profissão e não diminuir a renda dos que já estão na pista, e segundo pela esperança de que nossa economia se estabilize e índice de desemprego seja bem menor”, justifica Euclides das Dores, que preside o Sindtapp.
“Entendemos que será muito lucrativo e nosso pleito diante do poder público que cuida da mobilidade urbana na capital será pela criação de pontos de paradas para os motoristas, a exemplo dos que já existem em outras capitais. É melhor para atender os passageiros”, detalha.