Entre os produtos paraenses excluídos da lista de isenções dos Estados Unidos, o açaí está entre os que devem ser mais impactados. Segundo o estudo feito pela Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA), por meio do Centro Internacional de Negócios e do Observatório da Indústria do Pará, considerando apenas os produtos efetivamente afetados, a estimativa é que o impacto sobre o volume exportado do Pará aos EUA seja de 20,1%, dos quais 8% correspondem apenas ao açaí.
Em termos de valores, o total exportado no primeiro semestre deste ano foi de aproximadamente US$ 57.893.860, o que evidencia um crescimento de 64,96% em comparação com o mesmo período de 2024. Para os Estados Unidos, principal comprador do açaí paraense e responsável por uma participação de 75,40% das exportações do Estado, o valor total exportado foi de US$ 43.651.848, com um crescimento de 59,34% no período.
Os principais itens da pauta de exportação do açaí paraense são os sucos não fermentados e sem adição de açúcar, que lideram com mais de US$ 32 milhões exportados no período, representando 55,48% do total. Em seguida, aparecem as frutas e partes de plantas preparadas ou conservadas de outras formas, com participação de 30,83% e valor superior a US$ 17,8 milhões.
Além do impacto comercial ao Estado, o “tarifaço” dos EUA pode afetar uma cadeia estimada de cinco mil empregos diretos na indústria, além de 15 mil empregos indiretos. Embora o açaí esteja em expansão no circuito internacional, o mercado norte-americano é o que apresenta a melhor competitividade para os produtos paraenses.
“Essa medida compromete empregos, reduz a produtividade e afeta diretamente a sustentabilidade econômica de milhares de famílias da Amazônia, principalmente aquelas que dependem da colheita e processamento do fruto para sobreviver”, afirma o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA), Alex Carvalho.
IMPACTO
Apesar de o Pará concentrar os prejuízos mais diretos com a taxação, os efeitos da medida adotada pelos Estados Unidos não se restringem ao lado brasileiro. O consumidor norte-americano também deve sentir o impacto. O fruto amazônico conquistou espaço nos mercados dos EUA graças ao seu alto valor nutricional e apelo saudável, tornando-se ingrediente recorrente em sucos, bowls e suplementos. Com a elevação das tarifas, o custo de importação aumenta, o que pode levar à inflação do produto nas prateleiras americanas, tornando-o menos acessível ao consumidor final.
Nesse cenário, a taxação pode ser considerada impopular do ponto de vista interno, já que atinge diretamente um item valorizado no mercado de alimentação saudável. Embora o consumo interno do fruto tenha crescido nos últimos anos, o valor comercializado no mercado nacional, em reais, não é suficiente para compensar as perdas causadas pela redução das exportações, que são feitas em dólares e com maior valor agregado.
A retração estimada nas vendas para o mercado americano pode desencadear uma repercussão socioeconômica profunda, ameaçando a geração de renda, os postos de trabalho e os avanços em inclusão produtiva no estado.
De acordo com Carvalho, a FIEPA já articula, junto ao governo estadual e federal, uma interlocução com autoridades americanas para trocar informações técnicas, negociar soluções e evitar danos maiores.
“Precisamos buscar alternativas diplomáticas e preparar medidas mitigadoras em todos os níveis, federal, estadual e municipal, para proteger essa cadeia produtiva, que já é historicamente vulnerável e que tem papel fundamental no desenvolvimento sustentável da Amazônia”, defende o presidente.