Pryscila Soares
Em meio a rotina agitada no bairro de São Brás, em Belém, na área de confluência das Avenidas Almirante Barroso e Governador José Malcher, a situação de abandono da Praça da Leitura, que abriga o Memorial Magalhães Barata, chama a atenção de quem transita, mora ou trabalha na área. É possível observar que o local serve de moradia para pessoas em situação de rua.
Na manhã de ontem (5), a equipe de reportagem do DIÁRIO DO PARÁ flagrou uma cena inusitada: até uma rede foi armada entre as barras de ferro da Estação do BRT, situada no início da José Malcher, demonstrando a falta de uso e o abandono dos espaços públicos.
De acordo com populares, a praça se tornou um refúgio para usuários de drogas, uma situação que causa temor à população. É possível notar, também, que não há manutenção nem a presença constante da guarda municipal no espaço. A prova disso é que a grade que cercava a praça já não existe mais.
Para quem trabalha na área, o sentimento é de tristeza ao constatar o abandono de um espaço público, que poderia servir à população de alguma forma. A autônoma Sonia Broni, 59 anos, é uma dessas pessoas. Ela trabalha como ambulante naquela área de São Brás há 24 anos e lembra que quando iniciou a atividade, a praça era um local movimentado, utilizado pela população inclusive para manifestações culturais. Havia a presença de ambulantes e, portanto, possibilitava geração de renda para as pessoas.
REALIDADE
Sônia garantiu parte do sustento das filhas, que atualmente são graduadas, com a renda obtida ali. Mas hoje a realidade no local é bastante diferente. “Essa praça é a minha história. Eu fico muito triste de ver como ela está hoje, abandonada. As pessoas têm até medo de atravessar nessa praça e ser assaltada. Tem umas árvores aí que fui eu que plantei. Criei as minhas filhas aqui. Ainda trabalho, porque realmente gosto muito de trabalhar”, disse.
Hoje ela trabalha próximo ao local, na Praça Araújo Martins, onde operam as linhas urbanas do distrito de Mosqueiro. “A gente tem até medo de trabalhar na praça. Antigamente essa praça tinha reunião de estudantes. A gente trabalhava até 22h na sexta-feira, porque tinha capoeira, culto, eventos. Hoje em dia não tem mais nada. Além dos bandidos roubarem toda a fiação elétrica, a praça vive eternamente no escuro e com tudo quebrado. O poder público coloca uma venda nos olhos e finge que não enxerga nada. Podiam ocupar a praça com alguma coisa útil, porque esse espaço não é ocupado”, lamenta.
Atuando há 34 anos como taxista na área, Rodolfo Rodrigues, 58, conta que reduziu a jornada de trabalho por se sentir inseguro no ponto ao lado da praça. “É uma vergonha, uma tristeza. Essa praça e a outra (Praça do Operário), era para reformar, fazer um estacionamento. Aqui poderiam fazer tipo uma praça de turismo, colocar venda de comidas típicas, estacionamento para os carros. É abrigo de usuários de drogas. Eles ficam dentro do chapéu do Barata usando drogas e assaltando o pessoal por aqui. Só fico até 17h. Tem muito arrombamento de carro. Eu já fui assaltado duas vezes pegando passageiro aqui”, critica.
PREFEITURA
RESPOSTA
Em nota, a Guarda Municipal de Belém (GMB) informou que “realiza rondas periódicas no Complexo de São Brás, que inclui o Memorial Magalhães Barata e a Estação do BRT, localizados na Praça da Leitura, serviço feito com a utilização de motos e viaturas. Além disso, quando necessário, são realizadas abordagens e revistas pessoais na área”. O DIÁRIO também fez contato com a Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana (Semob) e com a Secretaria de Urbanismo (Seurb), mas não teve retorno.