Cintia Magno
Interligando os bairros do Reduto, Nazaré e Batista Campos, a travessa Benjamin Constant até hoje mantém alguns casarões que ajudam a contar parte da memória de uma Belém mais antiga. Apesar das inúmeras transformações vivenciadas nos bairros do centro da capital paraense ao longo dos anos, a modernidade proporcionada pelo processo de urbanização ainda convive com os traços arquitetônicos que modernizaram a cidade séculos atrás.
Mesmo com toda a movimentação de veículos no trecho da Travessa Benjamin Constant que fica entre as avenidas Brás de Aguiar e Nazaré, é possível ter uma ideia de como eram as construções que ocupavam a via no início de seu processo de formação. De um lado, se vê uma boa quantidade de casarões que, mesmo tendo passado por modificações, ainda guardam a memória de um período. Do outro lado da via, já se observam as edificações mais recentes, os prédios longilíneos que abrigam centenas de famílias.
Taxista no local há 28 anos, Charles Moura, 48, está bem habituado às características da travessa e conta que ao longo dessas quase três décadas, pouca coisa mudou no cenário. “Está mais ou menos a mesma coisa de quando eu comecei a trabalhar aqui. O que mudou mais foi o fluxo do trânsito, que aumentou consideravelmente. Mas do ponto de vista urbano, não mudou muita coisa nesses 28 anos”, avalia. “O que mudou mais foram as pessoas. Muitas famílias que moravam por aqui e que os mais antigos já faleceram”.
Entre os moradores que permanecem no trecho, Charles conta que muitos ainda são antigos, característica que acaba por fortalecer as relações entre os taxistas que atuam no ponto e a vizinhança. Ele mesmo lembra que, durante a pandemia da Covid-19, essa relação de confiança com os moradores da área rendeu uma cooperação mútua.
“Dos moradores que permanecem, muitos já moram há 40 anos ou mais aqui. E o interessante é que acaba se criando uma relação de confiança com a gente que trabalha aqui no ponto de táxi há muito tempo também”, conta. “Na pandemia nós auxiliamos muito esses moradores que não podiam sair de casa e precisavam de alguém para fazer alguma compra no supermercado, ou de medicamentos. Foi bonito porque nós ajudamos eles e eles nos ajudaram também”.
EDUCAÇÃO
As histórias relacionadas a Benjamin Constant seguem e se modificam à medida que se percorre a rua. No trecho abarcado pelo bairro do Reduto, a travessa se estreita ao ponto de apenas um veículo conseguir transitar por vez.
É nesse cenário, na esquina da travessa Benjamin Constant com a Rua Doutor Manoel Barata, que está mais uma construção antiga que permaneceu em meio às mudanças do entorno, a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Benjamin Constant. Acumulando já 122 anos de história, a instituição fundada em 19 de agosto de 1901 pelo então governador Augusto Montenegro segue contribuindo com a formação educacional.
Homenageado tanto no nome da travessa, quanto da unidade escolar, Benjamin Constant teve uma atuação ligada à educação durante a sua vida.
O historiador Jaime Cuellar Velarde explica que o nome abreviado faz referência a Benjamin Constant Botelho de Magalhães. “Benjamin Constant foi um jovem idealista, sonhador, matemático e físico, além de ter uma formação militar”, introduz. “Mas, antes, vamos falar um pouquinho da história dele de amor pelo pai. Quando o pai dele faleceu, ele tinha 16 anos e Benjamin Constant tentou tirar a própria vida por três vezes, tamanha era a admiração e o amor que ele tinha pelo pai”.
Nascido em Niterói, no Rio de Janeiro, em 09 de fevereiro de 1837, Benjamin Constant era filho de Bernardina Joaquina da Silva Botelho e do português Leopoldo Henrique Botelho de Magalhães.
Não por acaso, seu pai também foi professor e militar. “O pai teve uma formação militar bastante densa, chegando a ser um dos homens de confiança de Dom Pedro I quando aconteceram as guerras pela independência do Brasil e a expulsão de tropas portuguesas no Rio de Janeiro, em 1822”, explica o historiador Jaime Cuellar Velarde. “Benjamin Constant teve uma sólida formação militar também, chegando a participar da guerra do Paraguai como um grande estrategista”.
Apesar dessa participação, o historiador aponta que Benjamin Constant era, na verdade, um pacifista e teve sua atuação mais marcada pela área da educação. “Benjamin Constant se destacou principalmente como educador, como professor. Ele educou centenas de jovens cegos no Rio de Janeiro, no Instituto de Meninos Cegos do Rio de Janeiro. Até hoje nós temos o mesmo instituto (no Rio de Janeiro), só que ele mudou de nome. Hoje ele se chama Instituto Benjamin Constant”, explica, ao apontar outro grande feito do personagem histórico. “O grande efeito de Benjamin Constant foi influenciar as tropas brasileiras, em especial Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, a lutar contra Dom Pedro II e conquistarmos finalmente a República”.