Grande Belém

O trabalho que continua noite a dentro na cidade

Naílde Ferreira começa sua jornada às 18h em uma lanchonete no terminal rodoviário
Foto: Wagner Santana/Diário do Pará.
Naílde Ferreira começa sua jornada às 18h em uma lanchonete no terminal rodoviário Foto: Wagner Santana/Diário do Pará.

Alexandre Nascimento

A jornada de trabalho para alguns se estende para além do pôr do sol, situação que transcende os horários convencionais. É nesse expediente que vai noite adentro e algumas vezes ultrapassa a madrugada, que profissionais, sejam autônomos ou inseridos em contratos formais, com resiliência e determinação, desempenham seus trabalhos em busca do sustento no horário que naturalmente seria para dormir.

Essa é a realidade da atendente Naílde Ferreira, 26 anos, que trabalha numa das lanchonetes que funciona dentro do Terminal Rodoviário de Belém, das 18h às 6h. Durante as 12 horas em que passa no local a rotina é intensa: além de atender, desempenha ainda a missão de preparar e servir os alimentos. “Essa é minha rotina e apesar de ser de madrugada, passam muitas pessoas. Mas, não tenho o que reclamar, pois esse trabalho me dá a garantia da minha fonte de renda”, declarou.

Aos 45 de seus 67 anos de idade, Cenildo Lima trocou o dia pela noite. Ele trabalha como taxista na cooperativa de táxi que fica em frente ao terminal. Durante todo esse tempo ao volante, já ouviu muitas histórias de passageiros, sofreu assaltos, se envolveu em acidentes, mas nada que tirasse o prazer de trabalhar durante a noite. “Já me acostumei com essa vida, eu poderia até parar, mas é o que gosto de fazer e de madrugada. Com esse trabalho que cuidei da minha família, espero continuar até quando eu tiver disposição”, declarou.

Feira

É no Ver-o-Peso que o vendedor de lanches Jonas Martins, 42 anos, passa suas noites, de onde sai apenas quando o sol nasce. No local, o trabalhador vende, entre salgados, vitaminas e sucos, alimentação para as centenas de pessoas, que assim como ele, passam noite adentro na maior feira livre da América Latina. “O Veropa não para em qualquer hora do dia. Por isso, trabalho aqui de madrugada nesses 12 anos atendendo trabalhadores iguais a mim. Já acostumei, uso o dia para cuidar de casa, levar minha filha na escola e outras responsabilidades”, conta Jonas Martins.

É na agitação da Feira do Açaí, que integra o Complexo do Ver-o-Peso, que o fornecedor do fruto Wagner Andrade, 52 anos, passa a noite durante todos os dias da semana. Entre os carregadores dos pandeiros de açaí, o trabalhador fiscaliza as vendas até o amanhecer, numa atividade que já dura 32 anos. “Não consigo deixar de vir aqui, mesmo eu tendo pessoas que trabalham para mim. Já virou costume, me sustenta, ajuda a sustentar quem trabalha para mim e, por isso, virou um trabalho prazeroso, apesar do horário que eu poderia estar dormindo em casa”, disse o fornecedor.

Resiliência

Na realidade, entre todos os trabalhadores que desafiam a noite, é notório não apenas o esforço físico, mas a resiliência emocional necessária para manter-se ativo num horário de trabalho desafiador, que se explica pela busca do sustento. “Todos os que trabalham a essa hora, estão porque precisam de alguma forma. Se não fosse isso, estaríamos em nossas casas dormindo, mas como a realidade é outra, nos acostumamos e até aprendemos a gostar”, concluiu Jonas Martins.