Cintia Magno
Até meados do século XIX, a parte sul da cidade de Belém, onde foi criado o bairro de Batista Campos, era uma região periférica e habitada apenas em pequena quantidade por pessoas que não tinham condições de se instalarem nos antigos bairros da Sé ou da Campina. A partir desse período, gradativamente, a região foi sendo ocupada por sítios e rocinhas pertencentes às famílias que estavam enriquecendo com a comercialização da borracha e que decidiram mudar do agitado bairro da Campina para áreas mais distantes. Dentro deste contexto está inserida a formação de uma grande via que dava acesso a essa área da cidade, a hoje avenida Conselheiro Furtado.
As documentações e periódicos da época dão conta de que, em meados de 1870, a avenida que hoje é conhecida pelo nome de Conselheiro Furtado era chamada de Rua da Constituição, iniciando no antigo Largo de São José, local que hoje é conhecido como Praça Amazonas.
Apenas oito anos depois, em 1878, o militar, geógrafo e historiador Antônio Ladislau Monteiro Baena registra no “Almanach do Diario de Belem de 1878”, que parte da então Rua da Constituição já recebia a denominação de Rua do Conselheiro Furtado, que à época contava com apenas 51 moradias. Uma curiosidade evidenciada no documento de Antonio Baena é que, na mesma época, também existia a chamada Estrada de São José, que depois se transformaria na avenida Gentil Bittencourt.
Passados mais de 140 anos do registro, a via que ainda hoje homenageia o político Francisco José Furtado é marcada pelas características do seu tempo: casas de alvenaria, edifícios e trânsito intenso. Apesar de se referir a um passado bem mais recente, o comerciante Domingos Cardoso Valadares, 75 anos, presenciou parte das mudanças vivenciadas pela rua até que ela chegasse à configuração atual.
“Aqui na Conselheiro, antigamente, era só casa de madeira, agora é só alvenaria”, lembra, ele que mora e trabalha na avenida há 30 anos. “As casas foram mudando com o tempo, o trânsito ficou muito intenso, até porque antigamente era muito mais difícil adquirir um carro porque tudo era pago à vista, hoje já é bem diferente”.
Mesmo antigamente, quando o comerciante se mudou para avenida e instalou o pequeno comércio, o nome da via já era Conselheiro Furtado. Apesar de já bastante familiar para o morador, Domingos pouco conhece da história do homem homenageado pela avenida. “Sempre foi Conselheiro Furtado, mas quem ele foi eu não sei dizer”.
POLÍTICO
Nascido em 1818, no Piauí, o conhecido Conselheiro Furtado é Francisco José Furtado, importante político que atuou no país no século XIX e que foi ligado a ideais liberais. Depois de iniciar o curso de direito ainda na sua cidade natal, Olinda (PI), Francisco Furtado mudou-se para o Maranhão, depois para São Paulo, retornando, em seguida, ao Maranhão, onde foi eleito para diferentes cargos. Em Belém, ele chegou em 1850 para ocupar o cargo de juiz de direito até 1856, mas veio a falecer já no Rio de Janeiro, Capital do Império, em 1870.
O historiador Rudivaldo Souza lembra que o conselheiro teve uma atuação política muito significativa pelos estados por onde passou, o que explica a homenagem prestada a ele com a nomeação da importante avenida de Belém. “Conselheiro Furtado foi um político de grande repercussão nacional. Ele era do Piauí, veio para Belém, e aqui ele teve uma participação política principalmente nas ideias liberais, indo de encontro às ideias conservadoras e isso marcou a nossa história na cidade e homenagearam essa rua como Conselheiro Furtado”.