O Círio contado com habilidades e criatividade

Wesley Costa

O período do Círio de Nossa Senhora de Nazaré é um dos grandes momentos que os artesãos paraenses têm para divulgar suas artes e habilidades, que viram diversas peças temáticas, dando um toque todo especial ao clima da festividade. A devoção ao Círio por meio de tantos trabalhos minuciosos e manuais, também ajuda os produtores a garantirem uma fonte de renda a mais e significativa.

A cada ano, à medida que a data do Círio se aproxima, as pessoas que trabalham com artesanato vêm se dedicando a criar peças exclusivas e novidades que enchem os olhos de moradores e turistas que visitam a cidade e não abrem mão de levar um pedaço desse momento para casa. Sejam peças confeccionadas totalmente à mão ou incorporando a tecnologia nos processos de produção, a atenção e cuidados aos detalhes tornam os itens ainda mais requisitados.

Esse ano, as encomendas de bordados em peças especiais para o Círio foram tantas que a aposentada Nazaré Brabo, 74 anos, teve que encerrar o contato para novos pedidos. “Somente no final de setembro para o início de agosto, foram mais de 200 pedidos entregues. Muitas, entre toalhas de lavabos, passadeiras de mesa, cobertores de alimentos e boleiras, por exemplo, já estão prontos para serem entregues. Mas ainda tem muito trabalho pela frente”, revelou a costureira.

Nazaré conta que, neste ano, as encomendas mantiveram a média de outros anos e que além de ser uma renda extra, o trabalho ajuda a aumentar a sua fé. “Sou muito católica e agradeço por poder trabalhar em casa e com esse tema tão lindo que é o Círio. Já fiz e ainda faço muita produção, mas é neste período que tenho ainda mais trabalho e agradeço a Nossa Senhora de Nazaré por isso”, disse.

Quando se fala de artesanato, não há como separar a profissão da origem da família da artesã Francine Serra, 37. O trabalho com feltro ganhou tanta notoriedade na capital paraense que também já foi exportado para outro estado brasileiro. “O artesanato está no sangue da família. Minha avó e tios sempre foram ligados à arte e hoje, graças a essa atividade que passou de geração, estamos conseguindo realizar muita coisa”, diz.

Os bonecos de tecidos produzidos com a ajuda da Ana Beatriz, 65, buscam transmitir toda a emoção do segundo domingo de outubro. São carros de promessas, promesseiros, anjinhos e até presépios que anunciam a festa do Círio como o natal dos paraenses. “A cada ano que passa a produção aumenta e só temos a agradecer por isso. As encomendas são tantas que a gente não para desde julho, quando de fato já começamos a entregar algumas peças”, contou Francine.

Ana Beatriz, 65, que também é artesã e mãe de Franciane, disse prever um faturamento maior do que em outros Círios. Porém, para ambas, o valor recebido pelo trabalho impecável é apenas mais um detalhe. “A gente ama fazer isso e somos gratas pelo o que o artesanato faz em nossa família. Mas é a fé que também nos ajuda muito e dá sentido a tudo que sai daqui. Para a gente, isso é muito mais que um trabalho, é uma missão que ao mesmo tempo proporciona esse retorno”, afirma dona Ana.

As guirlandas produzidas por Râmison Carneiro, 35, também revelam um pouco do espírito do Círio. Com elementos bastante representativos da região, o arquiteto de formação vem recebendo várias encomendas. “Desde julho tenho solicitação de peças, mas foi em agosto que se intensificou. Já entramos praticamente na reta final, porque em outubro as pessoas já estão com tudo pronto. Até as minhas férias tive que mudar de período para poder dar conta do trabalho que fica voltado para as peças do Ciro”, contou.

Mais de 35 encomendas já foram entregues e outras 70, fora os terrários temáticos, também já estão encomendadas para entregar até final do mês. “A minha expectativa é que esse número de pedidos aumente devido a esse retorno bem expressivo da programação e desse clima de Círio que acaba tomando cona da cidade como um todo”, acredita Râmison.