Cintia Magno
Na Belém do século XIX, a extensa via que dava acesso ao antigo Largo de São José, onde já se encontrava o prédio que daria lugar à Cadeia Pública de mesmo nome (hoje o Espaço São José Liberto), não passava de uma estrada de terra batida, marcada pela presença de um imponente corredor de palmeiras imperiais. Hoje, com o nome de 16 de novembro, a avenida dá lugar ao asfalto e ao fluxo constante de veículos e pedestres.
A historiadora e antropóloga Dayseane Ferraz considera que a dinâmica de expansão da cidade de Belém só pode ser compreendida se analisada em uma perspectiva de longa duração, considerando os mais de quatro séculos de sua formação. A professora considera que essa expansão resulta da ação de sujeitos históricos em sua relação com a natureza, com o meio ambiente e dos interesses que permearam estas relações e é neste contexto que se pode compreender a formação da avenida 16 de novembro e a sua importância para o cenário da cidade.
“Contextualizar historicamente o surgimento da atual Avenida 16 de Novembro é remeter à sanha dos colonizadores que conquistaram esta região e que paulatinamente foram expandindo sua ocupação para além do largo inicial do núcleo colonial (Feliz Lusitânia) assinalado pelo Fortim chamado Presépio”.
Dayseane explica que, ainda durante o século XVII, a formação da cidade foi caracterizada pelos assentamentos dos colonos e missionários e pelas contendas com nativos. “Naquele período, além do Largo da Matriz (atual Praça Frei Caetano Brandão), destacava-se a abertura das primeiras ruas: “do Norte” (atual Siqueira Mendes); “do Espírito Santo” (atual Dr. Assis); “dos Cavaleiros” (atual Dr. Malcher”; e a “de São João (atual rua D’Aveiro/ Antiga Tomázia Perdigão) conforme narraram historiadores como Augusto Meira Filho. Nestes primórdios a cidade era rodeada por uma bacia alagadiça formada pelo igarapé do Piri, visto do final da atual Ladeira do Castelo”, apresenta o cenário.
“Ao ultrapassar o alagado do Piri os colonizadores acessaram o outro núcleo continental, onde primeiramente se estabeleceram os Capuchos de Santo Antônio, na área da “campina”, que edificaram o primeiro convento da cidade. O Piri se constituiu por quase dois séculos um entrave para a expansão urbana e seu aterramento no final do século XVIII e início do XIX, oportunizou o surgimento da Estrada de São José”.
São José foi o primeiro nome recebido pela via que hoje se conhece como avenida 16 de novembro e, naquele momento, ainda se configurava em uma região considerada distante do núcleo da cidade de Belém. “A estrada de São José teve esta denominação por ser o caminho que findava no convento São José que passou a ter esta função em 1749 (atual São José Liberto) e que até então ficava em uma área mais remota e distante do núcleo urbano”, explica a historiadora, que é membro do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, docente da Universidade da Amazônia e pesquisadora do Sistema Integrado de Museus da SECULT-Pa. “A mesma estrada ligava o mesmo convento ao entreposto comercial, que conhecemos como Ver- o- Peso”.
ACESSO
Nesse sentido, a antiga Estrada de São José se configurou como uma via de ligação entre os bairros da Cidade Velha e Campina, assumindo um traçado vertical em relação a baía do Guajará e seguindo mata adentro. Para a historiadora Dayseane Ferraz, “a importância daquela estrada para a expansão urbana é inquestionável, pois permitiu o acesso às áreas mais altas da cidade, dando possibilidade de abertura de outros caminhos e estradas que viriam a ser novas ruas”.
A mudança para o atual nome de 16 de novembro se deu após acontecimentos históricos marcantes ocorridos no final do século XIX. “Em 15 de novembro de 1889 tem-se a Proclamação da República, transformando o Império do Brasil numa república federativa. Esta mudança tem a Aclamação no Pará no dia 16 de novembro”, contextualiza. “Esta homenagem aos novos acontecimentos políticos no Brasil trouxe para a cidade nome de ruas importantes como Boulevard da República, Rua 15 de Novembro e, em sessão realizada em 26 de dezembro de 1889, o presidente do Conselho Municipal, Dr. Manoel Barata, propôs a alteração do nome de Estrada de São José para 16 de Novembro, dia da Aclamação do Pará à República”.