Grande Belém

No calor de Belém, não se tem para onde fugir!

 E pelo menos até novembro, a “quentura” vai permanecer assim. Haja poste e árvore para se proteger! Foto-Wagner Santana/Diário do Pará.
E pelo menos até novembro, a “quentura” vai permanecer assim. Haja poste e árvore para se proteger! Foto-Wagner Santana/Diário do Pará.

Cintia Magno

A garrafinha de água mineral sempre em mãos é apenas uma das estratégias adotadas para driblar o calorão de Belém, principalmente quando não se está habituado ao clima intenso do verão Amazônico. Seja nos espaços de grande urbanização, ou mesmo nas áreas mais arborizadas das praças e pontos turísticos da cidade, visitantes e moradores da capital paraense têm precisado buscar saídas para conviver com o calor.

Em visita à cidade para participar de um congresso da área da mineração, o engenheiro Victor Rocha, 34 anos, foi surpreendido pelo clima de Belém. Ainda que seu estado de origem, Minas Gerais, também passe por períodos de calor mais intenso no decorrer do ano, para ele, nada se compara ao calor que ele experimentou em pleno verão amazônico. “É o pior calor que eu já senti na vida. Eu achava que onde eu moro era quente, mas descobri que nem tanto”, comentou, bem-humorado, enquanto se refrescava durante um passeio ao Forte do Castelo, na Cidade Velha. “Mas eu gostei muito da cidade. Quero voltar com a minha esposa, que não conhece, mas num período de clima mais ameno”.

Também em visita a Belém em decorrência do congresso, o engenheiro eletricista Mário Pontes, 43 anos, também sentiu o calor da capital paraense, mas nada muito diferente do clima a que ele já está habituado. “Originalmente eu sou de São Tomé e Príncipe, na África, mas atualmente moro na Bahia. Ambos são lugares quentes também, então, já estou mais acostumado”, comentou. “Eu achei (Belém) um pouco quente, mas não muito”.

Apesar de também habituados ao calor, os próprios moradores da cidade das mangueiras têm sentido um calor diferente no verão deste ano. Para amenizar um pouco a sensação térmica, o sushiman Jorge Santos, 35 anos, conta que tem buscado usar roupas mais leves e, sempre que possível, fazer programações em áreas abertas, de preferência nas praças mais arborizadas da cidade.

“Esse período do ano é sempre quente, mas está bem mais quente do que antes. Haja protetor solar e água de coco para encarar esse calorzão”, considera. “O que eu tenho feito é principalmente usar roupas mais curtas, de algodão, e fazer passeios ao ar livre, onde tenha árvores por perto porque isso já ameniza o calor”.

A estratégia de buscar locais mais arborizados, adotada não apenas por Jorge, faz todo o sentido quando se pensa nas sombras proporcionadas pelas copas das árvores. Basta se aproximar de um ambiente protegido pelas folhas das vegetações para ter a sensação de um clima um pouco mais ameno, mas a verdade é que, para determinar com exatidão que pontos ou áreas da cidade de Belém apresentam temperaturas mais ou menos quentes seria necessário ter estações meteorológicas fazendo medições em cada um desses locais.

O meteorologista e coordenador do Núcleo de Monitoramento Hidrometeorológico (NMH) da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), Antônio Sousa, explica que, em Belém, existem duas estações meteorológicas que podem ser tomadas como referência, a que fica localizada na Estrada da Ceasa e a que fica na avenida Almirante Barroso, ao lado do Parque de Exposições, no Entroncamento.

O que os dados analisados nas duas estações apontam, segundo Antônio, é que a variação entre os pontos da cidade tem sido pouca.

“Nós temos a estação climatológica na Estrada da Ceasa, que é a convencional e que já está ali há mais de 60 anos, e temos a estação automática na avenida Almirante Barroso, que já tem em torno de 15 anos ali naquele ponto. Então, são esses dois pontos, que são os mais representativos, que a gente tende a tomar como base para essas informações”.

O que os dados analisados nas duas estações apontam, segundo Antônio, é que a variação entre os pontos da cidade tem sido pouca. Em alguns dias, a área da Estrada da Ceasa tem apresentado alguns décimos graus acima do que apresentou a área da avenida Almirante Barroso, mas é uma variação muito pequena. No geral, o que se observa é que a temperatura em Belém tem ficado dentro de uma mesma média, em torno de 35°.

“No mês de agosto, quando nós vivenciamos realmente a situação de calor intenso, a máxima temperatura registrada na estação automática (da Almirante Barroso) foi 35,6° C e na convencional (da Estrada da Ceasa) foi 35,7° C, ou seja, um décimo de grau de variação entre as duas. Portanto, de certa forma, o calor acaba sendo sentido de forma homogênea por toda a área. Sem um trabalho de longo prazo, a gente não teria como aferir que determinado bairro da cidade é mais quente ou mais frio porque a gente não tem uma estação com as regras da Organização Meteorológica Mundial nos diversos bairros”, explica o meteorologista, ao fazer uma observação.

“Agora, claro, baseado na questão das ilhas de calor, não se descarta um ponto mais específico que pode apresentar uma temperatura mais elevada, mas a gente só poderia afirmar isso com uma estação meteorológica no local”.

Antônio Sousa explica que é sabido que os centros urbanos estão suscetíveis à questão das variações do próprio local, o que é conhecido como Ilha de Calor. Tal fenômeno é comum nos grandes centros urbanos, justamente em função das edificações e da alteração da cobertura do solo nas cidades.

“Se você tem uma área ou uma região com um vasto repertório de prédios, e prédios mais altos, isso tende a dificultar um pouco a circulação do vento e a gente sabe que o vento é o que nós chamamos de renovador do gradiente de temperatura, então, se você tem pouco vento, tem uma concentração de microclima naquela área, e a temperatura e a própria sensação térmica tende a ficar um pouco mais elevada. Mas se você tem uma área aberta, com circulação do vento mais intenso, ela tende a ter alguma redução de alguns décimos ou até mesmo um grau na temperatura e na própria sensação térmica”.

PREVISÃO

Em termos de previsão de temperatura para os próximos meses, Antônio Sousa aponta que, com certeza, a perspectiva é que ainda sejam registradas temperaturas elevadas na Região Metropolitana de Belém nos meses de setembro e outubro, principalmente, e até um pouco de novembro.

“Esse é o comportamento normal de altas temperaturas aqui para nossa região e que, nesse período, tende a ser potencializado pela atuação do fenômeno climático El Niño, que altera a circulação dos ventos em todo globo e reduz as chuvas para nossa região”, esclarece o meteorologista. “E de que forma isso impacta na temperatura? A redução das chuvas, por si só, na maioria das vezes, também reduz a cobertura de nuvens, então, se nós temos uma redução na nebulosidade, o aumento da temperatura na superfície tende a ser mais sentido mesmo”.

 

ILHAS DE CALOR

Nas cidades, o processo normal de urbanização pode ocasionar um fenômeno conhecido como ilhas de calor, que pode fazer com que a temperatura e a própria sensação térmica fiquem um pouco mais elevadas em determinadas regiões. Isso ocorre porque, quanto mais se substitui a cobertura natural da cidade com prédios, essas elevações acabam dificultando a circulação do vento, o que, por si só, já gera um incremento na temperatura.