Irlaine Nóbrega
Os pesquisadores do Censo 2022 estão com dificuldade em realizar o levantamento de dados da população. Em agosto, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deu início a uma das maiores operações censitárias do mundo, que tem o intuito de recensear todos os domicílios do Brasil. Porém, o trabalho, que tinha previsão de ser encerrado no dia 31 de outubro, teve que ser adiado para o início de dezembro. Um dos motivos do adiamento estão as dificuldades para acessar os domicílios condominiais, onde muito residentes tem se recusado a receber os recenseadores do IBGE.
No Pará, a Subárea Batista Campos é a região que mais concentra condomínios. A área, que abrange o bairro de mesmo nome, Campina, Fátima, Nazaré, Reduto, Umarizal e São Brás, tem mais de 500 condomínios. A estimativa é que em todo o estado existam 1.736 condomínios, com mais de 2.2 milhões de domicílios. Um dos motivos de recusa, de acordo com o IBGE, é o incomodo em informar a renda média familiar e ceder o número do CPF, informações essenciais para completar o questionário.
Além disso, a questão dos golpes ou vazamento de informações também são um dos principais entraves da coleta, juntamente com a imposição de dificuldades por alguns síndicos que gerenciam os condomínios. “Nós ainda sentimos um impacto muito forte na questão da insegurança e a outra é a falta de tempo. As pessoas alegam que não tem tempo ou que não se sentem seguras de receber uma pessoa estranha em casa. Às vezes acontecem situações que as pessoas acabam destratando o recenseador, isso mostra que eles não valorizam um trabalho fundamental que vai gerar políticas públicas, inclusive para essas pessoas. São informações elementares que só com colaboração de cada um é possível gerar qualidade de vida para todo mundo”, aponta o coordenador técnico estadual do Censo 2022, Luiz Claudio Martins.
Para diminuir o número de recusas, a coordenação estadual do Censo se reuniu com os Sindicato dos Condomínios no Estado do Pará (Sindcon) para propor ações de divulgação de informações sobre a atuação dos recenseadores. “Nós tivemos a oportunidade de realizar palestras para síndicos e administradores de condomínios que ajudaram muito na questão de divulgação para gerar conhecimento. A gente teve uma efetividade boa, mas, em poucos casos, a gente não consegue nem falar com os moradores porque o síndico não permite esse contato do recenseador com os moradores”, declara Luiz Claudio Martins.
O Sindcon, por sua vez, circulou as informações de forma permanente junto aos síndicos por meio do boleto de taxas associativas. “Nós fizemos uma correspondência assinada por mim e pelo IBGE e fizemos uma comunicação no boleto de pagamento das taxas associativas. Nós esbarramos numa questão, são quase 2 mil condomínios e apenas 50% são filiados e tem contato direto, em que 800 condomínios não temos contato direto. Em novembro vamos fazer uma palestra para os síndicos em que vamos fazer a alusão a essa questão do Censo, mas nós temos que trabalhar especificamente com a questão da informação”, afirmou Nazareno Nogueira, presidente do sindicato.
A recusa à pesquisa do Censo pode ser passível de multa. A penalidade é prevista pela Lei 5.534/68, que torna obrigatória a prestação de informações ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) por todos que estiverem sob a jurisdição da lei brasileira. Quando um recenseador não consegue realizar a pesquisa em determinado endereço, o profissional informa ao superior hierárquico que vai até o local para tentar convencer o síndico ou os moradores. Sem sucesso, é deixada uma carta de notificação com informações sobre a importância da pesquisa, a obrigatoriedade da prestação de informações.
“Na carta nós informamos da lei, mas até o momento nós ainda avaliamos o que a gente vai dar de prosseguimento em questão da lei. Nós informamos nessa notificação que contém um trecho da lei que versa sobre a questão da obrigatoriedade, da multa, mas a gente ainda não começou a aplicar a multa. Quando a gente manda a notificação, colocamos os telefones para contato, inclusive o meu também vai. É a oportunidade de falar com as pessoas e elas entram em contato, eu esclareço, deixo elas mais seguras. As pessoas têm sido bem receptivas com as cartas recebidas, nos ligam falando que querem ajudar com os dados”, assegura o coordenador técnico estadual do Censo 2022, Luiz Claudio Martins.
CONHECIMENTO
Raiany Silva, de 22 anos, é uma das recenseadoras que tem enfrentado grande dificuldade em realizar a pesquisa. Isso porque, segundo ela, as pessoas desconhecer a finalidade do levantamento para a construção de políticas pública. “As pessoas têm muito medo de dar informações, elas não acham a pesquisa necessária. Muitas vezes, elas só respondem “não sei para que isso”, “acho que isso não é necessário”. Todos os dias a gente escuta que acha que a pesquisa não é necessária. O que falta é um conhecimento mais abrangente. Hoje em dia, a gente está com muitos comerciais na TV para informar as pessoas, mas parece que ainda não chegou em todo mundo”, disse.
“A gente também tenta conversar com o síndico, com o administrador e pegar algumas informações básicas. Principalmente em prédio, a tática que eu uso é de pegar com o síndico mesmo. A maioria das informações do prédio, no questionário básico, é sobre questões do número de cômodos e a gente já tem a resposta do prédio todo, é praticamente a mesma coisa e as pessoas só dão algumas informações básicas”, informa Raiany.
Há episódios, ainda, de desacato ao trabalho do recenseador. “Eu não fui totalmente ofendida, mas tiveram pessoas muito ignorantes. De eu ir na casa deles e se esconderem ou então falar que não precisava fazer isso. Teve um rapaz que fechou a janela na minha cara e eu também não consegui voltar mais lá. Tive que colocar como recusa e expliquei ao meu supervisor porque ele não queria dar a entrevista de jeito nenhum e não entrou em contato também”, relata a recenseadora.