Cintia Magno
Localizada em um ponto estratégico do bairro da Campina, a travessa Frutuoso Guimarães se configura como um importante ponto de consolidação da expansão da cidade para a região nordeste de Belém. Ainda durante o período colonial, Belém concentrava seu núcleo inicial na Cidade Velha e, com o tempo, foi se expandindo para a área que hoje é compreendida como o bairro da Campina, região onde justamente se encontra a travessa que, inicialmente, foi chamada de rua das Mercês, e que só depois recebeu o atual nome em homenagem ao médico.
Para entender o contexto em que a via surge no cenário da cidade e a importância que ela vai ter dentro do processo de crescimento urbano, o historiador Jairo Agrassar considera que é importante compreender um pouco da história da formação da cidade de Belém. Nascida no contexto de conquistas e expansão portuguesa na América, a cidade de Belém vai ter início com o Forte do Presépio e de 1616 até meados de 1626, se restringia ao que hoje é o bairro da Cidade Velha, que na época era chamado apenas de Cidade.
“Quando Belém começa a crescer, ela enfrenta dois problemas: primeiro a questão da resistência indígena e, segundo, a questão das características geográficas da região”, considera o professor, ao focar a atenção nas características geográficas da capital.
“Belém surge naquele triângulo onde há o Forte do Presépio e, de lá, ela se expande. Só que ela tinha um problema porque, para a região Sul ela tem uma parte muito alagada, de rio, e na parte Nordeste ela também tinha outro alagado, que é o famoso alagado Piri de Jussara. Não era um rio, mas uma região alagada que acabava se encontrando com a Baía do Guajará”.
Neste contexto, o núcleo de Belém se desenvolve na região da Cidade Velha, primeiramente, e apenas depois ela se expande pela região nordeste, descendo para a área onde hoje se encontra o Complexo do Ver-o-Peso e seguindo adiante. “A primeira grande construção que vai ter na região nordeste de Belém vai ser a Igreja das Mercês, criada pelos mercedários, e é a partir da igreja que começa o povoamento da região nordeste. É justamente ali naquele núcleo da Igreja das Mercês que vai surgir a travessa das Mercês, que hoje é chamada de Frutuoso Guimarães”, explica o professor.
“Então, tanto a Frutuoso Guimarães, quanto a Padre Eutíquio são dois marcos importantes da ligação entre a antiga Cidade e a chamada Cidade Nova, que hoje é a Campina. Essas ruas são pontos de consolidação da expansão da cidade para a região nordeste de Belém”.
A partir dessa expansão, o segundo bairro originado no processo de formação da cidade de Belém, a Campina, passou a exercer uma característica de bairro comercial, na medida em que muitos comércios passaram a se concentrar na região. Mesmo tendo passado tantos anos, ainda hoje a travessa Frutuoso Guimarães, assim como outras ruas do bairro, mantém essa tradição.
Há 12 anos, é do comércio instalado na Frutuoso Guimarães que a autônoma Cristina Leão, 65 anos, garante a sua fonte de renda. “Eu adoro trabalhar aqui, venho porque gosto mesmo. Tem muitas famílias que dependem daqui e o comércio é o ponto forte mesmo”.
As mudanças empregadas pela atividade comercial na via também foram percebidas por Telma Ohana, 71 anos de idade e de moradia na travessa Frutuoso Guimarães. Mesmo no outro extremo da rua, já próximo do seu encerramento no cruzamento com a rua Carlos Gomes, o comércio costuma ditar o ritmo.
“Antigamente a rua era até mais movimentada por causa do fluxo do comércio que era mais intenso no passado. Hoje está até mais tranquilo, tem períodos do dia que fica um silêncio”.
Além da movimentação característica da atividade comercial, outras lembranças também fazem parte da memória da moradora com a rua em que fica a casa onde ela nasceu e vive até hoje. Quando a via ainda era encoberta pelos antigos paralelepípedos, ela e as demais crianças aproveitavam para brincar na rua.
“A gente pulava corda, de roda, amarelinha, os meninos gostavam de jogar peteca… à noite todo mundo vinha para a porta e aqui ficávamos. Foi um tempo muito bom”, considera, ao contar que, mesmo com as mudanças impostas pelo próprio processo de crescimento da cidade, permanece a alegria de morar na travessa Frutuoso Guimarães, mais uma rua histórica de Belém. “Aqui é perto de tudo, de fácil acesso, é tranquilo. Eu gosto muito”.
PARA ENTENDER
o nome
l Originalmente, a travessa Frutuoso Guimarães recebeu o nome de Mercês, por passar ao lado da igreja construída em 1640, pelos frades mercedários. Hoje, o seu nome presta homenagem ao Dr. Joaquim Frutuoso Pereira Guimarães, médico estimado que também exerceu o cargo de vereador da Câmara Municipal de Belém.
Fonte: Livro “Ruas de Belém”, de Ernesto Cruz.