Grande Belém

'Filha do Combu': conheça a empresa de chocolate que será visitada por Macron

O consumo do chocolate puro produzido com o cacau colhido na própria propriedade foi, durante muito tempo, apenas um tradicional hábito da família da moradora da Ilha do Combu, dona Nena. Foto: Irene Almeida
O consumo do chocolate puro produzido com o cacau colhido na própria propriedade foi, durante muito tempo, apenas um tradicional hábito da família da moradora da Ilha do Combu, dona Nena. Foto: Irene Almeida

No próximo dia 26, o presidente da França, Emmanuel Macron, estará em Belém acompanhado do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, para uma visita que inclui uma ida até a ilha do Combu, em Belém. Lá, conhecerá o projeto de produção sustentável de cacau e chocolate orgânico criado pela líder comunitária Izete dos Santos Costa, a Dona Nena.

O consumo do chocolate puro produzido com o cacau colhido na própria propriedade foi, durante muito tempo, apenas um tradicional hábito da família da moradora da Ilha do Combu, dona Nena. Diante da abundância da matéria-prima que crescia livremente na floresta, o chocolate ralado era o ingrediente nobre da gemada consumida habitualmente.

A vida começou a mudar, porém, quando a família viu no chocolate natural produzido na floresta a oportunidade para a geração de renda. Não apenas na Ilha do Combu, mas em diferentes regiões do Pará, produtores veem a vida transformada pelo potencial econômico do chocolate da Amazônia.

Desde a colheita do fruto, até a fermentação, secagem e torra das amêndoas, todo o processo que resulta na transformação do cacau em chocolate é realizado ali mesmo, na área de floresta nativa em que a famosa dona Nena constituiu família. Do hábito cultivado com muito carinho pelo sogro, veio a ideia que garantiu uma boa fonte de renda.

“O meu sogro, Sebastião Quaresma, sempre foi apaixonado pelo cacau e durante uma feira do meio ambiente, em 2002, na Praça Batista Campos, eu lembrei da barrinha de cacau puro que ele fazia e que a gente consumia na família”, disse ela, em entrevista ao DIÁRIO em julho de 2022.

Dona Nena lembra que começou a participar da feira levando, inicialmente, as chamadas biojoias feitas com o caroço do açaí. Diante da baixa procura pelas peças, porém, ela começou a levar para a feira alguns dos produtos que colhia no próprio quintal de casa, no Combu.

Foi quando surgiu a ideia de apresentar, também, a barra de chocolate puro, enrolado na folha do cacaueiro. Não foram poucas as pessoas que, à época, duvidaram que tal produto tão comum no consumo das famílias ribeirinhas fosse ter saída, mas a boa aceitação na feira de meio ambiente foi apenas o início de uma história que resultou na criação do que hoje é a Filha do Combu, uma pequena empresa familiar.

“Quando eu cheguei na feira com a barrinha, isso mexeu com a memória afetiva das pessoas que lembravam que o avô ou o pai costumavam consumir aquela pasta de cacau”.

Diante da procura crescente pelo chocolate puro e nativo da floresta, dona Nena precisou adequar o processo de produção. Em 2008, começou a preparar bombons e o chamado brigadeiro da floresta.

Os produtos ficaram cada vez mais conhecidos e as pessoas começaram a chegar até a casa dela, na Ilha do Combu

Os produtos ficaram cada vez mais conhecidos e as pessoas começaram a chegar até a casa dela, na Ilha do Combu, para conhecer o processo de produção. Para atender ao público crescente, em 2017 ela construiu o que chamou de Casa do Chocolate, se tornou Microempreendedora Individual e, posteriormente, uma pequena empresa. Hoje, a chocolatier colhe os frutos da renda gerada pelo chocolate natural da Amazônia.

Dona Nena. Foto: Irene Almeida

“Hoje são 14 famílias que dependem diretamente da cadeia do chocolate, entre funcionários e produtores”, conta, ao estimar que a produção mensal é de 90 a 120 kg de chocolate. “Os nossos chocolates são vendidos aqui na Casa do Chocolate (na Ilha do Combu), em restaurantes parceiros, em uma loja em Belém e exportamos para todo o Brasil pela loja online”.