Grande Belém

Dia do Ciclista: entre a qualidade de vida e os perigos do trânsito

Cidade conta com vias destinadas aos ciclistas, mas os problemas para quem anda de bicicleta ainda existem. Falta respeito e tolerância. Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.
Cidade conta com vias destinadas aos ciclistas, mas os problemas para quem anda de bicicleta ainda existem. Falta respeito e tolerância. Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.

Trayce Melo

O Dia Nacional do Ciclista é comemorado neste sábado, 19 de agosto. A data foi estipulada em memória ao ciclista brasiliense Pedro Davison, de 25 anos, vítima do trânsito brasileiro, sendo atropelado em 2006, enquanto pedalava no Eixo Sul, em Brasília.
No Brasil, a produção de bicicletas já ultrapassou a marca de 39 mil unidades, segundo dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo).
Neste sentido, devido ao aumento constante dos preços dos combustíveis, muitas pessoas têm optado por um meio de transporte barato e sustentável, como a bicicleta. Além de contribuir para economia, pedalar também traz benefícios para a saúde, melhorando a qualidade de vida e proporcionando bem-estar. Se antes as bikes eram usadas apenas para lazer, agora servem para ir ao trabalho, ao mercado e realizar diversas funções do cotidiano.

MALHA VIÁRIA
Atualmente, a Grande Belém já possui o total de 116,5 km de ciclovia e ciclofaixas. Com isso, a cidade está entre as dez capitais brasileiras que mais possuem esse tipo de malha viária, de acordo com o levantamento realizado pela Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike) junto às prefeituras municipais.
Todavia, apesar dos recentes investimentos na ampliação da malha viária, os ciclistas belenenses apresentam os desafios que enfrentam diariamente nas ruas movimentadas e, muitas vezes, a falta de respeito por parte dos condutores. Eles relatam que muitos condutores se apropriam das vias como se fossem propriedade privada, inclusive fecham as vias destinadas à atividade ou “tiram fino” dos ciclistas numa demonstração de intolerância e desprezo à vida.
Falta de respeito. Assim o músico José Riba, 64 anos, define o sentimento de ter sido quase atropelado. “[Pedalar] É uma forma de economizar tempo, dinheiro e saúde mental, porque eu não me estresso mais com o trânsito. Por mais que a nossa cidade tenha investido nos últimos tempos em ciclovias e ciclofaixas, a falta de respeito ainda é muito grande por parte dos condutores de veículos, inclusive quase já fui atropelado. Nós temos uma cultura, no Brasil, de achar que quem anda de bicicleta é inferior. Acho o contrário, acho que as pessoas têm consciência ecológica, consciência econômica e consciência de saúde”, explica.
Ele ainda conta que foi a melhor escolha vender o carro. “Já uso a bicicleta como meio de locomoção há alguns anos. Quando vendi meu carro para andar de bicicleta, foi uma opção que eu tive, depois de tanto ter a obrigação de ter um carro. Hoje em dia eu não tenho mais essa obrigação e nem todo o gasto com manutenção, IPVA, gasolina e documentação. Quando preciso ir para lugares mais distantes, uso carros de aplicativo ou transporte público. Um dia desses fui colocar na ponta do lápis os gastos com transporte, mesmo usando às vezes, e estou gastando menos da metade do que gastava quando tinha carro próprio”, diz.
“Tem dias que percorro mais de 10 km de entre ir e vir pra casa. É muito satisfatório, não perco mais horas no trânsito com congestionamentos. Eu vou à feira, faço o mercado, vou ao banco e resolvo outros problemas. Mas no caminho ainda a gente vê muita irregularidade, falta de respeito de carro estacionado, moto andando dentro e querendo maltratar ciclista. Evito bater boca com o motorista, as pessoas andam muito intolerantes e violentas”, disse.

DESAFIOS
Já para Antônio Gustavo, 23 anos, professor de dança, os desafios são grandes para os ciclistas. “A questão da mobilidade melhorou bastante para o ciclista, mas em questão de educação no trânsito ainda temos muito para avançar. Todo o tempo a gente tem que desviar de carros e motos nas próprias vias para ciclistas e desviar de entulhos. Eu já uso um tempinho a bike como forma de transporte para o trabalho. Tem sido uma economia, porque andar de carro para lá e pra cá seria um custo muito grande. É forma de manter a qualidade de vida e cuidar da saúde do corpo e da mente fugindo do trânsito caótico da cidade”, conta.