Cintia Magno
Poucos lugares despertam tanta sensação de segurança quanto o colo de mãe e, para muitas delas, a missão de proteger vai além do cuidado com os seus próprios filhos e alcança, também, a promoção da segurança da sociedade como um todo. Em diferentes frentes de atuação, as mães que atuam na segurança pública conciliam a atenção aos filhos e a responsabilidade da defesa à população.
Quando a experiência da maternidade foi apresentada para a 3º Sargento Leonora Baía, há seis anos, ela já integrava o quadro do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Pará. Em meio à rotina intensa voltada para a defesa e proteção da sociedade nos momentos de maior necessidade, ela se viu diante de um novo desafio, o de cuidar de um ser recém-chegado ao mundo. A experiência pessoal causou transformações na própria forma de enxergar o mundo e, naturalmente, de encarar a missão abraçada em sua profissão.
“A maternidade muda totalmente a forma de encarar a vida, ela traz uma doçura para a gente, ficamos com uma sensibilidade aflorada, mas também traz essa força de quando você vê uma vida que vem para as suas mãos e que depende de você para tudo naquele primeiro momento”.
Se antes da experiência da maternidade a atuação acabava sendo mais centrada na atuação profissional, após se tornar mãe a atividade profissional ganhou uma contribuição importante, a da empatia despertada pela maternidade. Hoje, quando precisa atender uma ocorrência, seja de combate a incêndio ou de acidente, é impossível não pensar que ali pode estar a mãe ou o filho de alguém.
“A maternidade aflorou muito a empatia em mim. Eu sempre tento me colocar no lugar daquela pessoa, saber que é uma vida que está ali e que essa vida tem tantas outras vidas ligadas a ela. Diante de uma ocorrência de acidente, por exemplo, entender que por trás daquela pessoa pode ter um filho ou que tem uma mãe por trás também”.
Em meio a todo esse cuidado empenhado na sua conduta profissional, a sargento, que junto com outras três colegas foi uma das primeiras mulheres a chegar ao patamar de sargento combatente no Corpo de Bombeiros do Pará, não mede esforços para se fazer sempre presente na vida dos filhos, a Yandra Luiza, de 6 anos, e o Lian Gabriel, de um ano e 9 meses.
“A saudade é grande. Sempre que eu posso é aquela ligadinha em casa, uma chamada de vídeo. A minha filha é muito apegada a mim e sempre gosta de perguntar pela minha rotina. Quando ela sabe que é dia de plantão de 24h, ela diz que vai morrer de saudade e aí o coração aperta”, lembra. “Eu tento compensar como eu posso. Quando não é dia de plantão eu faço questão de ir buscar ela na escola para compensar o dia anterior que eu não pude ir. Então, a gente tenta se fazer sempre presente mesmo quando a gente não está”.
A maneira encontrada pela Comandante do Batalhão de Polícia Turística da Polícia Militar do Estado do Pará, Major Janete Serrão, de manter os filhos sempre por perto, mesmo quando precisa estar à serviço, está nos trabalhos escolares feitos pelos filhos Enzo, de 9 anos, e Ítalo, de 3 anos. Na mesa de trabalho, ao lado do computador, algumas das homenagens feitas pelos filhos estão sempre a mãos.
“Os trabalhos do colégio, as fotos estão sempre aqui, então, eles estão sempre comigo”, conta. “A maternidade muda muita coisa porque tem os desafios, a vontade de se fazer sempre presente. Com certeza a gente fica com um olhar mais humano, mais sensível depois de ser mãe”.
Quando se tornou mãe, a major também já integrava a corporação, então, de certa forma, seus filhos vivenciaram desde o início a experiência de ter uma mãe policial militar, experiência essa que eles adoram. “Eles adoram, sempre querem ver a viatura. Quando a gente chega em casa eles querem ver a farda”, sorri, ao lembrar que a sensibilidade despertada pela maternidade acaba chegando, também, na atuação profissional.
“A maternidade muda muita coisa. Um comandante acaba se tornando um pouco mãe da tropa também, são 36 pessoas na minha tropa para eu cuidar. E esse sentimento de cuidado é também com a própria sociedade porque a gente tem o nosso lado humano. Por debaixo da farda tem uma cidadã, uma filha e uma mãe”.
Os desafios de conciliar esses diferentes papéis também são vivenciados pela delegada Lidiane Pinheiro, titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM) da Polícia Civil do Pará. Quando engravidou do filho Pedro Henrique, hoje com 5 anos, ela ainda não era delegada, portanto, precisou trilhar os caminhos da realização pessoal e profissional juntos.
“Quando engravidei eu era policial civil, mas não delegada. As fases do meu concurso foram concomitantes à gravidez, eu tive que lutar por dois sonhos: ser mãe e ser delegada”, lembra, sem deixar de considerar que a missão de conciliar os dois mundos é árdua. “É desafiador conciliar maternidade e trabalho, pois há uma sobrecarga enorme em cima da mãe. Há uma cobrança enorme às mães, pois muitas pessoas cobram que a mulher se encarregue da educação dos filhos. É uma discussão longa”.
Independente dos desafios, o amor despertado pela experiência de ser mãe é inigualável. “Ser mãe é sentir a forma mais pura do amor. É um misto de amor, coragem, medo, orgulho, choro, cansaço. A maternidade é um encontro e vamos caminhando na velocidade dos nossos filhos, educando, amando, dando e recebendo afeto”, aponta, ao considerar que a maternidade provoca uma mudança em todos os aspectos da vida, inclusive na forma de encarar a própria profissão.
“A maternidade influencia em diversos aspectos, eu me considero mais tranquila, embora eu tenha uma personalidade agitada. Eu encaro com mais ternura também e sei que isso é essencial à polícia. Eu posso citar muitas policiais que são mães e excelentes profissionais. Quando falo de mãe, é todas as que têm o sentimento de mãe”.
A gestação do segundo filho e a preparação para a atuação policial também chegou ao mesmo tempo para a Marcela Guimarães, policial penal que ingressou na segurança pública através do último concurso realizado pela Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap). Já mãe do Bernardo, de 4 anos, ela descobriu a gestação da pequena Bianca, que hoje completa 22 dias de nascida, durante o curso de formação, uma grata surpresa que marcará, para sempre, a nova fase profissional.
“Eu venho da carreira da advocacia, há anos atuando no direito público e resolvi fazer o concurso acompanhando o meu marido. Foi um desafio desde o início porque eu consegui emagrecer 22 kg, passei no TAF (Teste de Aptidão Física) e na fase final do curso de formação eu descobri a gravidez e, ainda assim, consegui fazer todas as instruções”.
Marcela conta que quando entrou no curso de formação já estava grávida, mas não fazia ideia disso. A surpresa da espera da pequena Bianca veio durante o processo. “Eu tomava injeção, a minha menstruação vinha regularmente, eu fiz teste antes e deu negativo, então eu nunca imaginei que estaria grávida. Eu estava ali, no curso, correndo e fazendo todos aqueles exercícios pesados e, de repente, descobri que estava grávida. Primeiro fiquei preocupada em saber se ela estava bem, mas ela veio com muita saúde”, lembra.
A espera do encerramento da licença maternidade para começar a vivenciar a prática da atuação profissional na área da segurança pública, ela já tem essa nova fase profissional ligada à maternidade. Um dia após a publicação de sua nomeação como policial penal, a filha Bianca veio ao mundo e, no dia da cerimônia de posse, com poucos dias de nascida, também se fez presente no colo de Marcela. Irmão mais velho, Bernardo também pôde presenciar a conquista da mãe.