ARRUMARAM AS MALAS

Conheça o destino preferido dos paraenses que se mudaram

Saiba porque muitos moradores do Pará estão buscando uma nova vida em Santa Catarina, mesmo tendo que atravessar o país e encarar o frio do Sul.

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Conheça o destino preferido dos paraenses que se mudaram

Pouco mais de 249 mil pessoas arrumaram as malas e deixaram o estado do Pará com destino a outros estados brasileiros no período de 2017 a 2022. O registro revelado pelo Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) faz do Pará o estado com o maior saldo migratório negativo da Região Norte neste período. E do total de pessoas que se mudaram do território paraense, 44.901 seguiram rumo a Santa Catarina, o primeiro destino mais procurado pelos migrantes do Pará entre os estados brasileiros.

Entre essas pessoas está o paraense Bento Machado, que mudou-se para a capital catarinense, Florianópolis, em 2021. Ele conta que o principal motivo que o fez deixar Belém e seguir rumo ao Sul do país foi a busca por maiores oportunidades de trabalho. “O principal motivo foi a oferta de trabalho que, em Florianópolis, é bem maior em setores como comércio, bar e restaurante devido ao turismo na região”, conta, ao lembrar que toda a família acabou migrando junta. “A nossa adaptação foi rápida até. Florianópolis é uma cidade que recebe muitos migrantes, então, na maior parte das vezes você conhece pessoas na mesma situação, o que gera um sentimento de pertencer”.

Bento Machado foto: reprodução

Entre os desafios de se adaptar à outra cidade e à outra região do país, Bento não deixa de considerar o clima. Habituado ao calor predominante na Região Norte do país, ele, que também já morou na região Nordeste, não deixou de ser impactado pelo frio do Sul. “O mais difícil da adaptação com certeza é o frio e sobre pessoas. No geral, a mentalidade do Sul do país é menos acolhedora do que o Norte/Nordeste, por exemplo”, considera. “E a maior dificuldade no processo de mudança foi achar um lugar bom para alugar. Aqui na Ilha é muito mais caro que o restante da região metropolitana”.

Evidenciando o cenário apontado pelo Censo do IBGE, não é tão difícil encontrar outras pessoas que também saíram do Pará e foram morar em Santa Catarina. “O principal motivo que atrai pessoas é, sem dúvida, a oferta de emprego. Turismo, Comércio, Serviços, Tecnologia… são vários os setores que estão contratando e quem vem em busca de empregos de entrada no mercado consegue boas oportunidades, com uma base salarial bem maior do que o praticado em Belém”, avalia.

Das saudades que ele guarda do estado de origem, o clima ganha destaque, sobretudo nesta que é considerada a época mais fria do ano, quando a temperatura média em Florianópolis chega a variar entre 14°C e 20°C. “Como estamos no inverno, vou responder que o que sinto mais falta é de poder matar o calor em um delicioso igarapé. Também dos meus amigos, dos locais que eu frequentava, das minhas memórias afetivas, sinto falta de todos e cada dia que passa sinto mais vontade de voltar para Belém. Como tem muitos paraenses em Florianópolis, houve um boom na quantidade de restaurantes paraenses, então, da comida dá pra matar a saudade”.

SAUDADES

Morador de Florianópolis há um ano e cinco meses, Maxson Almeida também guarda algumas saudades do Pará, sobretudo da cultura paraense que se evidencia neste período do ano. “O que me faz sentir mais falta do Pará é a nossa cultura! As festas de junho e julho, como as festas juninas e o Arraial do Pavulagem”.

Ele considera que o fato de ter contato com tantos paraenses em Florianópolis contribuiu com a adaptação à nova cidade, para onde ele se mudou acompanhado da esposa. Assim como no caso do Bento, os motivos que levaram Maxson a sair de Belém e seguir para Florianópolis também estão relacionados às oportunidades de trabalho. “O primeiro motivo foi a maior oferta de vagas e oportunidades na área de desenvolvimento de software. Segundo foi a segurança e a tranquilidade da cidade. Terceiro a mobilidade urbana na ilha de Florianópolis”, avalia. “A comunidade paraense também já se tornou um atrativo, praticamente em todo lugar que se vá, terá um paraense”.

Também para Maxson o clima acaba pesando a favor de Belém. “A maior dificuldade na adaptação é o clima. Acostumado com o verão o ano todo em Belém, já aqui temos vários dias sem sol e com bastante frio. Uma outra dificuldade foi com a locação de uma moradia, apesar de uma oferta, não se tem uma regularização, dessa forma, somos surpreendidos com os preços altos incompatíveis com as condições dos imóveis”.

A adaptação a uma nova região do país foi um desafio para Luis Henrique Martins. Ele saiu do estado do Pará com a família ainda em 2020, em meio à pandemia da Covid-19, mas seu primeiro destino não foi Santa Catarina. “Eu fui pra o Paraná pois minha família estava de mudança pra lá, mas eu não queria ir. Fui obrigado pois não tinha com quem ficar lá em Vigia, interior do Pará”, lembra. “A minha adaptação no Paraná não foi fácil, pra falar a verdade eu não me adaptei”.

Além do clima muito diferente do conhecido de seu estado de origem, Luis Henrique conta que também passou por situações de xenofobia que dificultaram ainda mais o processo de adaptação. Essa realidade só mudou quando ele decidiu mudar para Santa Catarina, mais especificamente para Florianópolis, onde mora há três anos. “Aqui já foi outra realidade, outro ambiente e outra energia. Me adaptei super bem, as pessoas aqui são bem mais receptivas, mas existem exceções. Estou aqui faz 3 anos e gosto bastante, conheci várias pessoas boas e acolhedoras”.

A qualidade de vida que ele conseguiu conquistar no Sul do país também é um bom motivo para que ele siga construindo a sua vida lá. Ainda que a saudade do Parazão esteja sempre presente. “Uma saudade que eu sinto do meu Parazão são as nossas comidas bem temperadas, o peixe que é o nosso carro forte lá e não podemos esquecer do açaí, ainda mais eu que nasci e cresci numa casa de batedeira de açaí”, conta. “Aqui de Florianópolis eu sentiria falta da qualidade que eu tenho hoje. Consegui comprar minha moto aos 19 anos, junto com a minha carteira de habilitação, dentre outras coisas como a condição financeira que tenho, hoje, graças a Deus e ao esforço diário”.

mudanças

DESTINOS

Entre as pessoas que viviam no Pará em 2017 e se mudaram para outros estados até 2022, os principais destinos foram:

Estados

l 1º – Santa Catarina: 44.901 pessoas

l 2º – Goiás: 35.382 pessoas

l 3º – Maranhão: 27.154 pessoas

Municípios

l 1º – Goiânia (GO): 11.732 pessoas

l 2º – Joinville (SC): 7.787 pessoas

l 3º – Blumenau (SC): 4.810 pessoas

l 4º – Anápolis (GO): 4.632 pessoas

l 5º – Florianópolis (SC): 3.659 pessoas

l 6º – Aparecida de Goiânia (GO): 3.439 pessoas

l 7º – Brusque (SC): 3.023 pessoas

l 8º – São Luís (MA): 2.817 pessoas

l 9º – Imperatriz (MA): 2.774 pessoas

l 10º – Itajaí (SC): 2.637 pessoas

ATRAÇÃO

l Apesar do Pará ter registrado o maior saldo migratório negativo da Região Norte entre 2017 e 2022, o estado também continua recebendo migrantes, especialmente em polos econômicos e urbanos. O Censo 2022 relevou que o Pará é o estado da Região Norte com o maior número absoluto de moradores nascidos em outros estados. No período analisado, um total de 1.083.956 pessoas viviam no Pará vindos de outras unidades da federação.

l Cidades paraenses que mais receberam migrantes de outros estados:

l 1º Parauapebas: 19.677 migrantes, sendo 11.254 do Maranhão, 1.194 de Minas Gerais e 1.171 de Goiás.

l 2º Belém: 17.775 migrantes, oriundos principalmente do Rio De Janeiro (2.736), São Paulo (2.076) e Amapá (1.899).

l 3º Santarém: 8.226 migrantes, sendo 4.406 do Amazonas, 662 do Amapá e 361 do Mato Grosso.

l 4º Canaã dos Carajás: 8.226 migrantes, com destaque para 3.662 do Maranhão, 1.026 de Minas Gerais e 819 de Goiás.

Fonte: Censo IBGE 2022.