Cintia Magno
Um debate amplo sobre a Ciência produzida no Brasil em uma linguagem acessível a todos. É com esse espírito que cientistas, professores, estudantes, autoridades e visitantes em geral devem se reunir em Belém, no próximo mês de julho, no encontro que é considerado o maior evento científico da América Latina, a 76ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Organizado pela SBPC e pela Universidade Federal do Pará (UFPA), o encontro envolverá a realização de mesas-redondas, conferências, minicursos presenciais e virtuais, atividade cultural, exposições e mostras interativas, em uma programação aberta ao público e gratuita.
A última vez que a UFPA havia sediado uma reunião anual da SBPC foi em 2007. Passados 17 anos, o evento científico retorna ao campus da universidade, em Belém, em um cenário de intensificação do debate acerca das mudanças climáticas não apenas em decorrência dos eventos recentes observados no país, mas também porque a capital paraense se prepara para receber, em novembro de 2025, a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP30.
O reitor da UFPA, professor Emmanuel Tourinho, destaca que o momento será especialmente oportuno para se discutir temas que são centrais para a Amazônia. “O tema da Reunião Anual – ‘Ciência para um futuro sustentável e inclusivo: por um novo contrato social com a natureza’, e o fato de estarmos na Amazônia já garantem que os temas do cotidiano amazônico ocupem uma boa parte dos debates. Nossas pesquisadoras e pesquisadores terão grande protagonismo, compartilhando e discutindo suas pesquisas e suas experiências junto às populações locais, visto que conhecem a realidade da Amazônia de modo único”, pontua.
“Aproximadamente um terço de toda a programação de conferências e mesas redondas tem origem em propostas apresentadas pela UFPA e parceiros. Em todas elas, e também nas atividades apresentadas por outras instituições, teremos a oportunidade de debater a produção científica da Amazônia com cientistas de todas as regiões do país”.
Para além da programação científica tradicional, o reitor destaca que o evento também envolverá outros espaços de fomento e discussão da ciência. “Além das conferências, mesas, encontros e cursos com as(os) mais importantes cientistas brasileiras(os) em todas as áreas de conhecimento, a Reunião Anual contará com uma tenda da SBPC Jovem, voltada aos alunos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, com exposições, demonstrações e experimentos científicos, coleções, planetários e muito mais. Pela primeira vez, haverá um espaço para crianças da Educação Infantil, a tenda SBPC Mairí, com atividades lúdicas de introdução ao universo da ciência”.
Ainda estão previstos espaços como a tenda da ExpoT&C, com exposições, apresentações e debates nas áreas de ciência, tecnologia e inovação, além de programações artísticas e culturais que se concentrarão na tenda da SBPC Cultural e incluirão teatro, dança, música, oficinas e projeções de filmes. Em outro espaço, na tenda Afro e Indígena, serão realizadas exposições, debates e apresentações voltadas ao reconhecimento e valorização da diversidade étnico-racial.
Diretora da SBPC, a professora Cláudia Linhares destaca que as reuniões anuais já são, tradicionalmente, eventos grandiosos e o fato desta edição chegar à capital paraense no momento atual só aumenta a expectativa sobre o encontro.
“As reuniões anuais, por si só, já são um grande acontecimento, mas ser realizada em Belém um ano antes da COP-30 e logo depois desses eventos climáticos extremos que o Brasil conheceu no ano passado, com a seca nas florestas, e neste ano, com esses eventos extremos no Rio Grande do Sul, faz com que seja uma reunião cercada de expectativas de que a gente discuta esse novo pacto social com a natureza porque a gente está fazendo a reunião, aparentemente, com o tema certo, no momento certo e no lugar certo”.
Reforçando que o evento é gratuito e aberto a todo o público, Cláudia destaca que apenas na tenda da SBPC Jovem a programação espera receber cerca de 15 mil estudantes ao longo dos seis dias de programação, sendo o último, 13 de julho, dedicado ao Dia da Família na Ciência. Será nesta edição, também, que a reunião anual da SBPC retomará a oferta de minicursos presenciais desde a pandemia da Covid-19.
“Nós vamos ter 46 minicursos presenciais, mas além deles a gente tem quase 100 conferências distribuídas de 8 a 12 de julho. Vamos ter um número enorme também de mesas-redondas e muitas tendas para receber toda a população de Belém e toda a vizinhança que queira se encantar com a ciência”, destaca Cláudia. “É um espaço completamente democrático e aberto. O que a gente quer é que as pessoas se encantem com a ciência, se interessem, satisfaçam sua curiosidade porque, para a SBPC, a cultura científica é uma questão de cidadania. Então, a gente está preparando, junto com a UFPA, uma belíssima reunião que a gente pensa que vai ser inesquecível”.
Discussões centrais da COP deverão ser antecipadas pelo evento científico
Reunindo cientistas e pesquisadores de diferentes regiões do Brasil e com um tema voltado para a necessidade de se estabelecer um novo contrato social com a natureza, a 76ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) deve abrir caminho para muitas discussões que serão centrais na COP-30, que será realizada em Belém, em novembro de 2025.
Vice-presidente da SBPC e referência internacional na ciência das mudanças climáticas, o professor Paulo Artaxo adianta que a Reunião Anual da SBPC deverá discutir muitos dos temas associados à questão das mudanças climáticas globais, aos eventos climáticos extremos e, em particular, à questão amazônica. “Teremos muitas mesas redondas, muitas conferências exatamente nos temas principais que vão ser a questão central da COP-30, então, não há a menor dúvida que a ciência vai avançar na Reunião Anual da SBPC em Belém, discutindo temas absolutamente críticos, fazendo o apanhado da ciência brasileira para a COP-30”, considera.
“A Amazônia é uma questão central na questão das mudanças climáticas globais pelo seu papel no balanço de carbono e também na questão da emissão do vapor d’água para a atmosfera global. Então, a Amazônia vai ser muito discutida na reunião anual da SBPC não só por esses temas mais associados com a questão climática, mas também pela questão de como que a sociedade brasileira vai construir um caminho de sustentabilidade para a região Amazônica como um todo”.
O pesquisador avalia que esse caminho precisa envolver zerar o desmatamento da Amazônia até 2030, como previsto entre os compromissos do Brasil para o Acordo de Paris, além de estruturar e continuar a discussão sobre qual seria o modelo de bioeconomia que poderia trazer benefícios para a população da região Amazônica como um todo. “A ideia é discutir as várias possibilidades, as várias alternativas que temos hoje para termos um desenvolvimento sustentável para a região amazônica e para que a gente possa parar o atual modelo de desenvolvimento, que é basicamente baseado no desmatamento, baseado em atividades Ilegais, baseado em garimpo ilegal, em invasão de terras públicas e sem proteção das populações indígenas, das populações tradicionais”, considera.
“O Brasil certamente tem que estancar este atual modelo de desenvolvimento que, na verdade, só leva à destruição e implantar um modelo de desenvolvimento que seja minimamente sustentável e que beneficie a população da região amazônica. Esse é o grande desafio e este desafio vai ser discutido em dezenas de mesas redondas e conferências da Reunião Anual da SBPC, em julho, em Belém”.
Responsável por apresentar a conferência “Desastres hidroclimáticos nas cidades amazônicas” durante a programação da 76ª Reunião Anual da SBPC, o professor do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará (NAEA/UFPA), Claudio Fabian Szlafsztein, considera que a realização do evento em Belém é uma boa oportunidade para chamar a atenção para a necessidade de se analisar a questão das mudanças globais, incluindo as climáticas, a partir da perspectiva da Ciência.
“Nós estamos mudando cada vez mais rápido e, portanto, influenciamos mudanças cada vez mais rápidas ou de maior magnitude. Colocamos uma ênfase muito grande no clima porque, de alguma maneira, o clima é o que hoje nos traz algumas consequências grandes, seja na produção de alimentos, na forma de vida, na segurança hídrica. Então, a reunião anual da SBPC tem um papel fundamental para entender em que estamos progredindo cientificamente e que essa ciência se transforma, depois, em auxílios, subsídios à percepção social de que as coisas estão mudando”.
MINISTROS
A programação científica da 76ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) ainda contará com conferências de cinco ministros de estado que já confirmaram presença no evento. No período de 8 a 13 de julho, no campus da UFPA em Belém, serão realizadas as conferências da ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos; da ministra da Saúde, Nísia Trindade; da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva; da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, e do ministro da Educação, Camilo Santana.