
A tradicional bebida indígena da Amazônia, símbolo de ancestralidade e memória afetiva para os paraenses, dá nome a um inédito estudo sobre a gastronomia da capital do Pará: o projeto Belém Papa Chibé. Lançado nesta quinta-feira (29) pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa), o site com os resultados da pesquisa revela um panorama detalhado do setor gastronômico da cidade, destacando as cores, os sabores e as tradições que fazem de Belém um destino singular para os amantes da boa culinária.
Fruto do trabalho da Diretoria de Estudos e Pesquisas Socioeconômicas e Análise Conjuntural da Fapespa (Diepsac), o levantamento percorreu, ao longo de três meses, 2.400 estabelecimentos de alimentação e bebidas em 71 bairros, oito distritos administrativos e duas ilhas da cidade — que se prepara para sediar a COP30 (Conferência Mundial sobre Mudanças Climáticas).
A plataforma digital do projeto oferece um mapa interativo, onde é possível explorar rotas gastronômicas por distrito e acessar dados sobre pratos típicos, estilos culinários, especialidades e experiências disponíveis na capital. “Belém é uma das poucas cidades no mundo com o título da UNESCO de Cidade Criativa da Gastronomia. Por isso, precisava de um estudo como esse, que apresenta uma amostragem ampla e um diagnóstico socioeconômico robusto do setor”, afirma Márcio Ponte, diretor da Diepsac.
Diversidade por distrito
O mapeamento revela a riqueza e diversidade gastronômica de Belém, documentando desde os sabores tradicionais até a presença crescente de cozinhas internacionais. No centro da cidade, a culinária regional é predominante — com destaque para tacacá, vatapá e maniçoba. Em outros distritos, como Bengui e Icoaraci, predominam churrascarias, enquanto Mosqueiro e Outeiro se destacam pelos sabores praianos, como o clássico açaí com peixe frito e camarão.
Além do mapeamento culinário, o projeto identificou desafios administrativos e financeiros enfrentados pelos empreendedores do setor, servindo também como ferramenta de diagnóstico para formulação de políticas públicas.
Retrato do setor gastronômico
A pesquisa mostra que a maioria dos estabelecimentos funciona em imóveis alugados e tem até cinco anos de atividade, o que aponta para um setor jovem e dinâmico, mas ainda vulnerável. Dos empreendimentos, 77,5% são formalizados, e 22,5% atuam na informalidade.
Quase 89% das empresas têm como atividade principal a venda de refeições. O popular “prato feito”, com arroz, feijão e proteína, representa 35% do total, seguido por pratos típicos como o açaí com peixe frito (14%) e os clássicos regionais (12%). No total, o setor emprega cerca de 51 mil pessoas e apresenta um faturamento médio de R$ 40 mil mensais, com margem de lucro estimada em 17,3%.
Impacto no turismo e expansão
Durante o evento de lançamento, Bruna Almeida, coordenadora do curso de Gastronomia da Universidade do Estado do Pará (Uepa), destacou o valor estratégico do estudo:
“É um presente para Belém. Um projeto que ajuda a entender o ecossistema gastronômico da cidade, fortalece o turismo e subsidia políticas públicas para o setor”, afirmou.
A plataforma, disponível no site da Fapespa, também permite que novos estabelecimentos se cadastrem para participar da pesquisa, preenchendo um formulário com informações do negócio.
O presidente da Fapespa, Marcel Botelho, reforçou que o projeto é parte do esforço para preparar a cidade para a COP30 e valorizá-la como polo gastronômico:
“Belém é famosa pela sua culinária, mas muitas vezes desconhecemos a real dimensão da cadeia produtiva. Agora temos essas informações organizadas e acessíveis.”
O estudo também deve ser expandido para outros municípios da região metropolitana de Belém e para Santarém, outro importante polo gastronômico do estado.