Grande Belém

Árvores ajudam a contar a história de Belém

Diante de espécies que já estão presentes no território há mais de 100 anos, acompanhando todas as mudanças e transformações urbanas passadas, não é difícil criar uma memória relacionada a algum espaço da cidade em que elas se fazem presentes. Foto: Celso Rodrigues/ Diário do Pará.
Diante de espécies que já estão presentes no território há mais de 100 anos, acompanhando todas as mudanças e transformações urbanas passadas, não é difícil criar uma memória relacionada a algum espaço da cidade em que elas se fazem presentes. Foto: Celso Rodrigues/ Diário do Pará.

Cintia Magno

Na cidade conhecida pela referência de Cidade das Mangueiras, as árvores que nela habitam ocupam um espaço muito maior do que a área de terra necessária para o seu desenvolvimento. Mais do que isso, ocupam espaço também no imaginário e na memória da cidade e de seus moradores. Diante de espécies que já estão presentes no território há mais de 100 anos, acompanhando todas as mudanças e transformações urbanas passadas, não é difícil criar uma memória relacionada a algum espaço da cidade em que elas se fazem presentes.

No caso do taxista Darlan Castro, 39 anos, as memórias de infância estão relacionadas à área arborizada da Praça Batista Campos. Morador do bairro do Jurunas na infância, ele lembra que as idas ao local eram frequentes e ficaram marcadas até hoje. “Eu frequentava muito a Praça Batista Campos quando eu era criança e tenho muitas lembranças do espaço com tantas árvores. Não tenho uma lembrança com uma árvore específica, mas com aquele espaço arborizado”.

Depois de adulto, o taxista passou a trabalhar em outro ponto emblemático da cidade quando se trata de arborização, a Praça da República. Não é raro que ele próprio tenha que repetir a interessante história sobre as árvores centenárias que formam um túnel verde tanto no calçadão da praça, quanto na avenida Presidente Vargas, por onde circula com frequência.

“Esse corredor de mangueiras é fundamental até para o turismo porque é um cartão postal da cidade. Muitos passageiros não acreditam que tenha um corredor de mangueiras assim, comentam, perguntam quando foi criado”, conta. “O que eu sei é que essas árvores foram plantadas ainda na Belle Époque, vieram da Índia para sombrear a cidade”.

A informação divulgada por Darlan para os passageiros turistas que perguntam sobre as mangueiras emblemáticas da Praça da República, avenida Presidente Vargas, avenida Nazaré e ainda outras vias do centro de Belém são relatadas pela historiografia e pela própria idade das árvores mantidas até hoje. O Secretário Municipal de Meio Ambiente (Semma), Sérgio Brazão, confirma que o registro de plantio das Mangueiras da Praça da República data da época do Intendente Antônio Lemos, então, elas foram plantadas realmente há mais de 100 anos.

“Nós temos uma variedade muito grande de mangueiras pelo mundo, mas essas que foram plantadas aqui pelo Antônio Lemos vieram da Índia. Eu fui pesquisar sobre essas espécies e vi que, lá na Índia, o rei fez um pomar de mangueiras ao lado do Palácio e essas mangueiras já têm 300 anos e ainda estão dando mangas lá”.

No caso das mangueiras de Belém, por estarem em meio à cidade, acabam sofrendo uma pressão urbana, que vai desde o asfaltamento, até a compactação do solo pela passagem dos carros, sem falar na intervenção do homem, como no caso de um morador que, por exemplo, precisa instalar uma tubulação por debaixo da calçada e, por vezes, acaba cortando parte da raiz das árvores, prejudicando a absorção e a sustentação. “Tudo isso é a pressão urbana”, reforça o engenheiro agrônomo.

Belém tem 134 espécies diferentes de árvores plantadas em seu território, de acordo com a Semma. Foto: Celso Rodrigues/ Diário do Pará.

Diante dessas interferências, as demandas de cuidado com as mais de 134 espécies diferentes de árvores espalhadas por Belém são incessantes. Entre os serviços desenvolvidos pela Prefeitura, está um trabalho de monitoramento das árvores existentes para prevenir possíveis quedas. “Na natureza, como todo ser vivo, as árvores morrem e depois são decompostas, ao cair no chão. No caso da floresta, esse material decomposto se incorpora ao solo e isso serve de nutrientes para as árvores que estão de pé. É um fenômeno chamado de ciclagem de nutrientes”, contextualiza o titular da Semma.

“Só que na cidade esse fenômeno não deve ocorrer, eu não devo permitir que a árvore caia. Então, estamos adotando a prevenção, que é retirar a árvore antes que ela caia. Todo final de semana a gente faz a retirada de árvores que foram diagnosticadas com risco muito grande de queda. Temos uma equipe de engenheiros florestais e agrônomos, engenheiros ambientais, que ajudam nesse diagnóstico, além de instrumentos avançados e fazemos testes clínicos também na árvore”.

Mesmo diante desse trabalho, o secretário considera que, infelizmente, Belém possui espécies que foram plantadas de forma inadequada. Em muitos casos, a própria população foi responsável por plantar algumas árvores e, sem conhecimento técnico, acabaram plantando espécies que não são adequadas para o ambiente urbano ou que não são compatíveis com aquela região ou espaço.

Sérgio Brandão, titular da Semma. Foto: Celso Rodrigues/ Diário do Pará.

“Na cidade de Belém a população plantou muitas árvores em muitas ruas de Belém em todos esses anos que a cidade existe. O problema é que muitas dessas árvores são inadequadas, uma delas é o Fícus benjamina, que é a árvore que mais tem em Belém”, considera.

“Não foi a Prefeitura que plantou, é uma árvore inclusive proibida pela legislação por ter uma raiz muito agressiva e expansiva, formando troncos. Essa raiz vai horizontalmente, entra nas casas, levanta azulejos, destrói tubos e canos, levanta calçada. É uma árvore muito difícil de controlar e que não é adequada para cidade, além de não ter resistência a ventos, por ter esse enraizamento muito superficial. Então, toda oportunidade que temos nós retiramos o Ficus e substituímos por uma árvore mais adequada para o local”.

Entre as necessidades a serem atendidas pelo importante serviço prestado pelas árvores, além da memória afetiva e de embelezamento da cidade, está a formação de sombra. “Belém é uma cidade que está a 4° da Linha do Equador, ou seja, o impacto da luz solar é muito direta sobre nós e isso faz com que seja um lugar quente durante o ano todo, então, a gente precisa de sombra. O que a cidade está precisando é que o solo e o asfalto não sejam aquecidos para melhorar o nosso clima, então, estamos buscando árvores que deem sombra”.

Independente dos projetos de arborização previstos, o secretário destaca duas espécies que são emblemáticas e já fazem parte da paisagem da cidade de Belém. “A Samaumeira é uma árvore emblemática da Amazônia, então, é legal ter em Belém porque você não precisa ir para uma mata distante mostrar, ela pode ser vista dentro da cidade. Temos Samaumeiras na Praça Batista Campos, temos no CAN, no Hangar, ao lado do Hospital de Clínicas, na travessa Alferes Costa. Então, é legal você poder mostrar uma árvore muito grande que dá na floresta, aqui”, considera Sérgio Brazão.

“A Mangueira também é uma árvore emblemática, faz parte da nossa cidade. Inclusive, ela é uma árvore que, por lei, se eu tirar uma Mangueira, tenho que plantar outra. A Samaumeira já é uma árvore que não pode sequer ser retirada, porque ela é tombada”.

PATRIMÔNIO

As Mangueiras e Samaumeiras de Belém foram tombadas pelo Departamento de Patrimônio do Estado do Pará.

Mangueiras

Originária da Ásia desde o leste da Índia até as Filipinas, a Mangueira foi introduzida no Brasil (pelos portugueses, no século XVI) e em outros países tropicais, e adaptou-se muito bem ao clima.

Samaúma

A Samaúma ou Samaumeira é uma árvore de grande porte, podendo chegar a 50 m de altura e que ocorre em toda a bacia amazônica. A frutificação desta grande árvore ocorre de outubro a dezembro.

Fonte: Ipatrimônio. Disponível em: https://www.ipatrimonio.org/Belem-Mangueiras-e-Samaumeiras/#!/map=38329&loc=-1.4255930537100057,-48.44369779926686,17

ESPÉCIES

Belém tem 134 espécies diferentes de árvores plantadas em seu território, de acordo com a Semma. A espécie com maior número de exemplares plantados na cidade é a Ficus benjamina, seguida pelo Oitizeiro, pela Castanhola e em quarto lugar as Mangueiras.

CURIOSIDADES

Alguns nomes de bairros de Belém fazem referência a espécies de árvores que já existiram no local. É o caso do bairro do Umarizal, que faz referência à árvore Umari, uma espécie que existia em abundância naquela região durante o processo de ocupação da área, ainda no início do século XIX. Da mesma forma, o bairro do Castanheira faz referência a uma enorme Castanheira que existia onde hoje é a Rodovia BR-316. Ainda na época de Estrada de Ferro de Bragança, a área chegou a ficar conhecida como ‘Curva da Castanheira’. Hoje a árvore não existe mais.