Com o afastamento de Daniel Santos (PSB) do cargo de prefeito de Ananindeua, determinado pela Justiça do Pará, quem assume o posto é seu vice, Hugo Atayde (PSB), que é réu em uma ação penal no Tribunal de Justiça do Estado. Ele é acusado pelo Ministério Público de crimes de tortura e associação criminosa armada (milícia). A denúncia inclui ainda oito policiais militares suspeitos de participação em um grupo de extermínio.
Desde abril, Daniel Santos e Hugo Atayde ocupam, respectivamente, a presidência e a vice-presidência do diretório estadual do partido, com aval do presidente nacional da sigla, Carlos Siqueira. O processo, com quase 5 mil páginas, está paralisado há três anos e já passou por três promotores que se declararam impedidos.
A denúncia do Ministério Público aponta Atayde como mandante da tortura e morte de Matheus Gomes Silva, jovem de 23 anos acusado de furtar bens da casa do então vereador, em janeiro de 2019. Após a suspeita recair sobre uma ex-babá, uma adolescente de 16 anos, Atayde e os policiais teriam coagido a jovem sob ameaça de arma de fogo, acessado seu celular e localizado Matheus, que também foi detido e torturado.
Mesmo após a soltura do casal, por prisão ilegal, o grupo teria divulgado nas redes sociais imagens do rapaz, associando-o ao Comando Vermelho — segundo o MP, uma tentativa de justificar a execução. Em 27 de fevereiro de 2019, Matheus foi morto dentro de casa, com três disparos. A munição era da Polícia Militar, e o veículo utilizado no crime pertencia a uma policial militar. O mesmo carro teria sido usado em outros cinco assassinatos.
A acusação por homicídio foi rejeitada pelo Tribunal do Júri, mas os crimes de tortura e associação à milícia continuam tramitando na Justiça comum. Semanas após o crime, Atayde assumiu uma vaga na Câmara de Ananindeua, em uma articulação política que envolveu Daniel Santos, então presidente da Assembleia Legislativa do Pará.
Já como prefeito, Dr. Daniel nomeou Atayde como chefe de gabinete e o escolheu como vice em sua chapa para a reeleição em 2024. Além disso, Daniel responde a um inquérito do Ministério Público que apura o desvio de R$ 261,3 milhões da saúde municipal, por meio de contratos superfaturados com o Hospital Santa Maria de Ananindeua, do qual era sócio. Ele tenta trancar a investigação no Supremo Tribunal Federal.
Hugo Atayde, por sua vez, pediu o arquivamento da ação penal, alegando ausência de provas e questionando a qualificação jurídica do processo. Ambos permanecem à frente da direção estadual do PSB, mesmo diante da gravidade das acusações.
OPERAÇÃO CONTRA DANIEL
O prefeito de Ananindeua, Daniel Santos (PSB), foi afastado cautelarmente do cargo por decisão judicial, no contexto de uma operação de busca e apreensão realizada pelo Ministério Público do Estado, com autorização do Tribunal de Justiça do Pará (TJPA).
De acordo com nota do MPPA, o Centro Integrado de Investigação do Ministério Público do Estado do Pará (CI/MPPA), por delegação da Procuradoria-Geral de Justiça e com o apoio do Grupo de Atuação Especial de Inteligência e Segurança Institucional (GSI), deflagrou na manhã desta terça-feira, 5 de agosto, a Operação Hades, com cumprimento de mandados de busca e apreensão em endereços localizados na Região Metropolitana de Belém, no interior e fora do Estado do Pará. Também foram impostas medidas cautelares diversas da prisão.
A Operação Hades baseia-se em uma investigação do MPPA para apurar a prática de crimes como fraude ao caráter competitivo de licitações, além de corrupção ativa e passiva envolvendo agentes públicos e empresários. Por decisão judicial, Daniel Santos foi afastado do cargo de forma cautelar.
Segundo o MPPA, a operação ainda está em andamento, com 16 equipes atuando no cumprimento das ordens judiciais.