Irlaine Nóbrega
O Batalhão da Estrela desfilou suas cores no segundo Arrastão do Pavulagem, que tomou as ruas do centro de Belém, ontem (23), às 10h. Atraindo mais de 35 mil brincantes, o cortejo saiu da frente do Theatro da Paz rumo à praça Waldemar Henrique, onde terminou com um show da banda Arraial do Pavulagem e convidados especiais. Com o tema “Arraial do Saber”, a 37º edição do Arrastão do Pavulagem atingiu o número histórico de 1.100 integrantes nos diversos segmentos artísticos.
“É um movimento de 37 anos na cultura paraense que funciona para fortalecer nossa cultura e contribuir com uma reflexão sobre essa alegria que São João traz pra gente. É uma escola sem paredes, em que nós aprendemos brincando e se divertindo. O Arraial do Pavulagem é composto por 70% de mulheres. Isso é legal porque são conquistas urgentes para somar e dizer que somos a favor da ciência, da floresta em pé e que o Arraial continue sendo esse espaço de cidadania cultural”, afirmou Ronaldo Silva, presidente e fundador do Instituto Arraial do Pavulagem.
“Chamou Pavulagem, vaqueiro!”, foi assim que o governador do estado, Helder Barbalho, deu início ao segundo cortejo de 2024. “Essa festa é a maior festa de rua do Pará, que traz a celebração a São João, o xote, a mazurca e valoriza os foliões e tanta gente que construiu essa história em um país que Norte e Nordeste se unem em torno de culturas muito próprias. Fico muito feliz de estarmos aqui juntos em uma festa democrática, em que, independente de questões sociais, religiosas, culturais e ideológicas, todos saem às ruas para se divertir e valorizar a cultura. Estamos todos unidos na pavulagem do nosso boi”, declarou.
CORTEJO
Os brincantes do arraial do Pavulagem estavam animados para dar início ao segundo arrastão. Concentrados desde às 9h, em frente ao Theatro do Paz, os participantes se arrumaram cedo para fazer a alegria da população paraense. Há 5 anos, Ian Lima, 27, participa do setor de dança do Batalhão da Estrela. Apaixonado pelo Pavulagem, ele estava na expectativa de celebrar São João com muita alegria e festa.
“Eu to aqui dançando, levando essa energia boa pra galera e me emocionando. O Arraial é tudo pra mim. Quando eu tô dançando eu me sinto livre, aquela criança que viu o boizinho pela primeira vez se liberta, fica feliz. É uma válvula de escape que me tirou da depressão e da ansiedade. Eu amo São João e hoje [ontem] o arrastão vai homenagear o santo. Hoje é um dos melhores arrastões e a gente fica com o coração muito animado”, contou o engenheiro.
Residente de São Paulo, Kethelen Silva, 24, veio à capital paraense para curtir os arrastões e acompanhar o sobrinho Benjamin, de 7 anos, que desfila no cortejo com os cavalinhos, na ala das crianças. É o primeiro ano do menino acompanhando o boizinho azul como integrante do Batalhão da Estrela, o que, para ela, é uma forma de se conectar com as tradições amazônicas por meio dos toques dos tambores, brincadeiras e danças.
“A gente sempre trouxe ele desde bebezinho para o arrastão, virou uma tradição. Esse ano eu vim de São Paulo e a família fez toda uma organização para que ele participasse no boizinho porque achamos importante criar essa memória afetiva nele. É também uma forma de reafirmar a nossa cultura. E ele gosta muito de estar aqui, ele sempre pede pra vir”, conta a estudante de psicologia.
A animação de domingo tomou conta dos milhares de populares que seguiram em cortejo pela avenida Presidente Vargas até a praça Waldemar Henrique. Com presença confirmada, Claudia Campos, de 56 anos, estava animada para acompanhar o Boi Pavulagem pelas ruas de Belém por mais um ano. Para ela, é justamente a boa vibração da brincadeira junina que cativa os participantes.
“Todo ano eu venho para o Arraial do Pavulagem. É uma festa da minha terra que eu adoro. Não deixo de vir, nem que seja uma vez no mês eu tenho que vir para prestigiar o Pavulagem. Eu acho que já tá no nosso sangue porque exalta a cultura da nossa terra. Eu gosto muito dessa animação que nos contagia. Vou até o final e fico para curtir uma parte do show”, disse a secretária.
Foi no segundo cortejo que as filhas de Amanda Correia, 36 anos, conheceram o arrastão do Pavulagem. Brincante do boi quando era solteira, a mãe se distanciou da tradição junina depois que se casou e teve as meninas. Por isso, ontem (23) foi dia dela levar as duas, de seis e dois anos, para conhecerem o boizinho azulado e brincar em família.
“Hoje eu vim e trouxe elas para conhecerem o Pavulagem. É a primeira vez que elas vem e já estão super animadas. Elas já viram o boi na escola e isso despertou a curiosidade. Acho importante trazer elas pra cá para que elas conheçam a nossa cultura, além de criar memória afetiva com elas e aproveitar o domingo em família”, contou a fisioterapeuta.