“Mano, nem te conto (mas já contando): saí de Belém e cheguei na maior felicidade a Portugal. Vida nova, terra nova, tudo novo. Mas lá pelas tantas uma pontinha de tristeza logo apareceu. Além da distância da família, como é que eu vou viver aqui sem o açaí, o vatapá, a maniçoba, a castanha-do-Pará, a pupunha e o creme de cupuaçu?”
Te lembras da história do “Urubu do Veropa”, que virou até estrela na música “No Meio do Pitiú”, da Dona Onete? Pois é: nesses meus quatro anos em Portugal, já ouvi o sempre alegre e esfuziante paraense falar desse jeito e lembrei da clássica ave do Ver-o-Peso.
Vai pra lá, vai pra cá e nada do vatapá e da maniçoba. Até que não mais que de repente o mano deu um salto e começou a bater palmas e rolar no chão de tanta alegria. Perguntei o que aconteceu e ele nem conseguia falar: ele não acreditava mas toda a fartura de Belém, escolhida a 7ª melhor cidade do mundo para amantes da gastronomia, segundo o ranking da revista internacional Lonely Planet, tava de novo ao alcance do bucho dele. E o melhor: sem sair de Portugal.
O mano não pensou duas vezes. Pegou o primeiro comboio (que é como o trem é aqui chamado), saiu do Porto e foi bater em Braga, onde encontrou o restaurante Açaí Pará. Desde então o mano se sente no paraíso e não quer outra vida. O restaurante é de uma paraense, nascida em Breves, chamada Aurene Lobato, e do marido, o português Raul Ferreira.
A Experiência Gastronômica Paraense em Portugal
O que ele encontrou lá, realmente, é o que nós, papa-chibés mais gostamos: aquele açaí grosso com a baguda, aquela dourada frita com vinagrete e mais a maniçoba e o tacacá com tudo o que temos direito.
O lugar, que vai completar um ano, é um encanto: a decoração conta com motivos indígenas e tem até a reprodução de uma venda de açaí, com bandeirinha vermelha e tudo na porta. Abre de quarta a domingo e fecha segunda e terça para o descanso da galera. Afinal ninguém é de ferro.
Um Paraíso Gastronômico Fora do Brasil
Mano, quando vieres à Europa não vais mais passar saudade da comida do nosso Pará. Os paraenses rezaram tanto mas tanto, que a Nazica atendeu as preces: o paraíso da “bóia” papa-chibé existe fora do Brasil e fica em Portugal. Agora me dá licença que é minha vez de ir ali comer a dourada frita com açaí e farinha. FUI!!!!!
*Sérgio Augusto do Nascimento é um jornalista paraense que vive em Portugal. Foi repórter e editor e hoje é correspondente do DIÁRIO na Europa.