
Na mais nova rodada de sanções contra o Brasil, os Estados Unidos cancelaram nesta segunda-feira, 22 de setembro, o visto do advogado-geral da União, Jorge Messias. A medida atinge também outros cinco nomes ligados ao Judiciário e à Justiça Eleitoral, num claro gesto de retaliação às decisões do Supremo Tribunal Federal e ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Além de Messias, entraram na lista de Washington: José Levi, ex-advogado-geral da União e ex-secretário-geral de Alexandre de Moraes no TSE; Benedito Gonçalves, ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral; Airton Vieira, juiz auxiliar de Moraes no STF; Marco Antonio Martin Vargas, ex-assessor eleitoral; e Rafael Henrique Janela Tamai Rocha, juiz auxiliar de Moraes.
É mais um passo numa escalada que já não se limita a autoridades diretamente envolvidas com o julgamento do ex-presidente, mas se estende a familiares, assessores e até servidores da saúde pública.
Antes de Messias: ministros do STF já estavam na linha de tiro
O episódio desta segunda não é um fato isolado. Desde julho, Trump vem retaliando ministros do Supremo Tribunal Federal. O estopim foi a decisão de Alexandre de Moraes que impôs tornozeleira eletrônica a Jair Bolsonaro. No dia seguinte, Washington anunciou o cancelamento dos vistos de oito ministros: Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, presidente do STF, Edson Fachin, vice-presidente, Dias Toffoli, Cristiano Zanin, Flávio Dino, Cármen Lúcia e Gilmar Mendes.
E a ofensiva foi além: a ordem também se estendeu a familiares desses ministros. Um recado claro de que o governo americano não hesita em atingir parentes que nada têm a ver com a vida pública.
O caso emblemático de Moraes e a Lei Magnitsky
O caso mais emblemático foi o de Moraes. O ministro não apenas teve o visto suspenso, como também foi enquadrado na Lei Magnitsky, dispositivo que congela bens e bloqueia transações financeiras nos EUA. Em setembro, sua esposa, a advogada Viviane Barci de Moraes, também foi incluída nessa sanção, ampliando o cerco à família.
Agosto: o governo Lula na mira
No mês seguinte, o alvo se deslocou para o Executivo. O procurador-geral da República, Paulo Gonet, teve o visto americano cancelado, reforçando a ofensiva contra quem ocupa cargos de ponta no sistema de Justiça brasileiro.
Servidores ligados ao programa Mais Médicos também entraram no rolo: Mozart Júlio Tabosa Sales, secretário do Ministério da Saúde, e Alberto Kleiman, ex-funcionário do governo federal.
E, novamente, o ataque ultrapassou a esfera institucional. A esposa e a filha de apenas 10 anos do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, também perderam o direito de entrar em solo americano. Um gesto visto como cruel até mesmo por analistas internacionais.
Retaliação a Cidadãos Comuns
A caçada de Trump não se restringe a autoridades. O médico brasileiro Ricardo Jorge Vasconcelos Barbosa, do Recife, também teve seu visto negado. O motivo: uma postagem nas redes em que ironizava o assassinato do ativista conservador Charlie Kirk, aliado de Trump, ocorrido no início de setembro.
O caso acendeu alerta para o fato de que cidadãos comuns, sem relação direta com governo ou Judiciário, também podem ser atingidos pelo endurecimento das medidas americanas.
O Padrão de Perseguição e a Ameaça à Soberania
De ministros da Suprema Corte a chefes de instituições, de assessores a familiares, de membros do governo a profissionais da saúde — a lista dos punidos pelos EUA cresce a cada mês. O discurso da “defesa da democracia” contrasta com a prática de atingir até crianças, esposas e cidadãos anônimos.
A cada nova rodada, Trump reforça um cerco político que ameaça a soberania brasileira e coloca em xeque a imagem dos Estados Unidos como guardiões das liberdades democráticas.