Belém e Pará - Em sessão especial realizada nesta segunda-feira (6), na Assembleia Legislativa do Pará (ALEPA), líderes e representantes de religiões de matriz africana denunciaram episódios de intolerância religiosa, estigmas e violência simbólica e material contra seus terreiros e praticantes. A sessão, de autoria do deputado estadual Dirceu Ten Caten (PT), foi motivada por uma série de queixas apresentadas por comunidades religiosas que relatam violações graves ao longo do tempo.
Segundo os denunciantes, o discurso que permeou diversos casos recentes contém desinformação, estigmatização e conteúdo carregado de preconceito, que resulta em constrangimentos públicos, ameaças e até mesmo ordens judiciais para fechamento de terreiros.
Um dos casos que catalisaram a sessão foi a decisão judicial que determinou o encerramento de um terreiro no bairro de Canudos, a partir de denúncia feita por uma vizinha, o que despertou crítica por parte dos líderes religiosos, que classificam a medida como ação discriminatória e sem respaldo de diálogo com a comunidade envolvida.
Relatos revelam ameaças de morte
Além disso, relatos apresentados apontam que praticantes têm sido alvo de ameaças de morte, vandalismo em terreiros e cerceamento do direito à liberdade religiosa. Um caso emblemático citado envolve uma mãe de santo da comunidade de Outeiro, que afirma sofrer ameaças há cerca de dois meses por exercer cerimônias em seu terreiro.
Medidas Legislativas e proteção às religiões de Matriz Africana
O deputado Dirceu Ten Caten (PT), anunciou a criação de um grupo de trabalho no Legislativo estadual, com o objetivo de formular mecanismos legais e políticas públicas que garantam proteção aos povos de matriz africana contra qualquer tipo de perseguição ou constrangimento.
Também foi ressaltado que intolerância religiosa é crime, conforme a Constituição Federal — sujeito a pena de 2 a 5 anos de prisão, além de multa — e que o Estado precisa agir com firmeza para coibir práticas discriminatórias.
As lideranças convidadas à sessão demandaram que o poder público e o Judiciário dialoguem com as comunidades religiosas antes de impor decisões e que se leve em conta o caráter cultural e espiritual dos terreiros, em vez de tratá-los como “problemas” urbanos.