A Petrobras iniciou ontem, 19, uma etapa decisiva para avançar com a exploração de petróleo na Margem Equatorial: a chegada da sonda NS-42 ao litoral do Amapá para participar do simulado de emergência de perfuração no bloco marítimo FZA-M-59, na região. A atividade integra a Avaliação Pré-operacional (APO), último passo do processo de licenciamento ambiental conduzido pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
O exercício está previsto para começar no próximo domingo, 24, e deve durar de três a quatro dias, dependendo das condições logísticas. Durante o simulado, mais de 400 profissionais e uma estrutura que inclui helicópteros, embarcações de grande porte e a própria sonda NS-42 vão avaliar, na prática, a capacidade de resposta da Petrobras a eventuais acidentes, como derramamentos de óleo em alto-mar.
O Ibama verificará a eficácia dos equipamentos de contenção, o tempo de reação da equipe, o cumprimento dos protocolos de atendimento à fauna atingida e a comunicação com autoridades locais e comunidades tradicionais. Segundo a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, a empresa está mobilizando “a maior estrutura de resposta a ocorrências já levada ao Amapá” e seguirá protocolos de segurança rigorosos para garantir a aprovação da licença.
A exploração de petróleo na Margem Equatorial tornou-se um dos temas mais controversos da agenda energética brasileira. O governo federal, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Ministério de Minas e Energia, pressiona pelo avanço das licenças. O senador Davi Alcolumbre (União-AP) atua como um dos principais articuladores no Congresso.
Ambientalistas, por outro lado, alertam para os riscos ambientais e acusam o governo de caminhar na contramão da transição energética, ao insistir em combustíveis fósseis em vez de priorizar fontes renováveis de energia. Em 2023, o Ibama chegou a negar licença para exploração na margem equatorial. A Petrobras recorreu e aguarda uma nova decisão, enquanto busca demonstrar que possui condições de operar com segurança.
NOVA FRONTEIRA ENERGÉTICA
A Margem Equatorial é considerada a última grande fronteira exploratória do Brasil. Ela se estende do Rio Grande do Norte ao Amapá e ganhou notoriedade após descobertas expressivas de petróleo na Guiana, Guiana Francesa e Suriname.
Atualmente, a Petrobras só tem autorização para perfurar em áreas do Rio Grande do Norte, onde já realizou simulações semelhantes em 2023. O resultado do exercício no Amapá será decisivo para definir se a estatal poderá avançar sobre um dos blocos mais estratégicos — e polêmicos — da região amazônica.
A exploração é criticada por ambientalistas, preocupados com possíveis impactos ao meio ambiente. Há também a percepção por parte deles de que se trata de uma contradição à transição energética, que preza por menos combustíveis fósseis e mais energia renovável, que emitam menos gases do efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global.
Por sua vez, a Petrobras afirma que a produção de óleo a partir da Margem Equatorial é uma decisão estratégica para que o país não tenha que importar petróleo na próxima década. A estatal reforça que o local definido para a exploração fica a 540 quilômetros da foz do rio Amazonas.