THAÍSA OLIVEIRA E FÁBIO PUPO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado aprovou nesta quarta-feira (4) o nome do ex-secretário Executivo do Ministério da Fazenda Gabriel Galípolo para a diretoria de Política Monetária do Banco Central.
Indicado pelo governo Lula (PT), Galípolo recebeu 23 votos a favor e 2 contra na comissão. O nome ainda deve ser confirmado pelo plenário do Senado, mas a expectativa é que não haja obstáculos. A votação está prevista para esta quarta.
Durante a sabatina na CAE, o economista afirmou que só uma “taxa de juros neutra” de 4,5% ao ano não é “solução para crescer”, e fez acenos ao presidente da autarquia, Roberto Campos Neto.
“O crescimento do Brasil não depende só de uma questão externa. Como bem colocou o diretor-presidente do Banco Central, Roberto Campos, se a gente seguir com premissas de um crescimento potencial de 1,5%, 1,6%, e uma taxa de juros neutra de 4,5%, por mais sofisticado que sejam modelos e os economistas que tratam dos modelos, a relação dívida-PIB não vai apresentar um bom comportamento”, disse.
“Como também disse o presidente Roberto Campos, a única solução é crescer. E, para crescer, é preciso seguir com agenda econômica que vem sendo enfrentada agora mesmo em conjunto pelo Executivo, Legislativo e Judiciário”, completou.
Nome de confiança de Lula, Galípolo precisará se equilibrar entre a autonomia legal do BC e a missão creditada a ele de abrir caminho para o corte da Selic, um apelo do presidente ecoado por membros do governo e por quadros do PT desde o início da gestão.
A leitura petista é que o juro alto prejudica a atividade econômica, cuja retomada é vista como crucial para a consolidação de apoio popular e político ao governo Lula.
O secretário foi escolhido para assumir a diretoria de Política Monetária, uma das mais importantes da autarquia depois da presidência, ocupada hoje por Campos Neto, indicado pela administração de Jair Bolsonaro (PL).
Galípolo afirmou aos senadores que diretores do BC não devem opinar sobre a autonomia do BC, mas disse que é “a vontade das urnas” que determina o destino econômico do país.
“É óbvio que é o poder eleito democraticamente, a vontade das urnas, que determina qual é o destino econômico da nossa sociedade. É através desse debate que a gente vai determinar. A autonomia técnica e operacional é aquilo que foi determinado, e aquilo que os diretores devem perseguir e seguir.”
Além de Galípolo, Lula também indicou Ailton de Aquino Santos, servidor de carreira do BC, para comandar a área de Fiscalização. Se for aprovado pelo plenário do Senado, ele será o primeiro preto na diretoria da instituição. Ele recebeu 24 votos a favor e 1 contra na CAE.
Assim como Galípolo, Ailton afirmou que está otimista com o futuro. Ele destacou a importância da “independência” e “da autonomia” da área de Fiscalização e disse que pretende trabalhar para o crescimento das cooperativas de crédito.
Servidor do Banco Central há mais de 25 anos, Ailton também fez uma menção indireta à operação-padrão iniciada nesta segunda (3). Ele disse que a área “vem sofrendo um processo de encolhimento”, com boa parte dos servidores aptos a se aposentar, e que há “assimetria” em relação à remuneração de outras carreiras.
“Estamos enfrentando graves assimetrias entre a remuneração dos servidores do Banco Central e dos demais órgãos da administração pública com padrão de perfil similar ao do Banco Central. Isso enfraquece a Casa e coloca em risco a manutenção das entregas em excelência, tão reconhecidas pela sociedade”, disse.
Interlocutores do governo afirmam que a indicação de Galípolo é uma maneira de “marcar território” dentro do BC, que hoje tem a diretoria composta integralmente por nomes escolhidos por Bolsonaro. A postura rígida do colegiado em defesa da manutenção dos juros em 13,75% ao ano tem sido um terreno fértil para críticas fomentadas pelo governo.
Futuramente, a aposta é que ele seja o escolhido de Lula para suceder Campos Neto, cujo mandato na presidência do BC termina em dezembro de 2024.
O relator da indicação de Galípolo na CAE, senador Otto Alencar (PSD-BA), um dos principais aliados do presidente da República no Senado, afirmou que o economista deve “diminuir o conservadorismo do Banco Central”.
No passado recente, Galípolo já defendeu ideias consideradas menos ortodoxas para a condução da política econômica. Em 2022, ele assinou um documento junto com outros nove especialistas com propostas na linha da Teoria Monetária Moderna. Um dos coautores era André Lara Resende, expoente no Brasil da chamada MMT, na sigla em inglês.
Galípolo foi questionado pela CAE sobre a criação de uma moeda sul-americana, defendida por ele e pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em artigo no jornal Folha de S.Paulo em abril.
O economista fez uma distinção entre moeda comum, mencionada por ele, e moeda única (como o euro), e reafirmou que a ideia não é substituir as moedas nacionais.
Apesar das expectativas em torno da atuação do indicado no BC, Haddad disse que Galípolo não é filiado ao PT e não vai representar o pensamento do partido no colegiado.
Os dois nomes sendo sabatinados pelo Senado são os primeiros a serem indicados pela atual gestão de Lula para o BC. Pelo cronograma, os próximos mandatos a expirar são de Fernanda Guardado, diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos, e de Mauricio Moura, diretor de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta, ambos em 31 de dezembro deste ano.
Em dezembro do ano que vem, terminam os mandatos de Campos Neto, do diretor de Regulação, Otavio Damaso, e da diretora de Administração, Carolina de Assis Barros.
A lei também de autonomia do BC, aprovada em 2021, determina mandatos fixos de quatro anos ao presidente e aos diretores da autarquia, que podem ser renovados apenas uma vez e não são coincidentes com o do presidente da República.