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Panificação: O Pão que o Pará temperou

Chicória, jambu, castanha-do-pará, tucupi, cumaru, entre outros, trazem sabor e versatilidade aos pães, além de benefícios à saúde que são amplamente conhecidos.

Símbolo de pertencimento da nossa cultura, a comida paraense é rica e diversa. Motivada pelo amor aos ingredientes naturais da Amazônia, a professora de gastronomia Odeth Cavalleiro de Macedo passou a fazer experimentações bem paraenses. Foi assim que ela transformou sabores da nossa cultura alimentar em 25 receitas de pães totalmente surpreendentes e impactantes. Elas compõem o livro “Pães artesanais, uma viagem pela Amazônia”, previsto para ser publicado em novembro deste ano, em função da COP-30.

Chicória, jambu, castanha-do-pará, tucupi, cumaru, entre outros, trazem sabor e versatilidade aos pães, além de benefícios à saúde que são amplamente conhecidos. Mas o que realmente é interessante é ter iguarias como o famoso café com pupunha, ou o açaí com charque, ou ainda a maniçoba, que se antes só eram vistos servidos em forma de refeição, com seus sabores no formato de pães.

Formada em gastronomia pela primeira turma da Universidade da Amazônia-Unama/2015), a professora Odeth passou a fazer essas experimentações a partir de sua atuação no projeto Ter Paz, em que ela ministra cursos de formação de padeiro profissional, auxiliar de padaria, auxiliar de padeiro e formação básica de panificação, entre outros.

“Desse período de três anos, pensei, por que não utilizar os nossos insumos regionais para fazer pães? Já que nós temos uma gastronomia riquíssima e uma imensa diversidade cultural. Nós somos exóticos, então, quem disse que não dá para fazer pão com maniçoba, pão com tucupi, ou ainda um bolo de chicória? Depois que comecei esse questionamento, convidei um grupo de alunos formado por 10 pessoas para desenvolvermos juntos receitas em cima do nosso regionalismo e insumos regionais”, relembra Odeth.

Assim, ela conta, surgiu o pão de açaí com charque. E depois vieram outras criações. “Fizemos testes e, ao longo desses treinamentos que vão acontecendo, fazemos mais testes. Na sequência, fizemos o pão de chicória com alho, e o pão de pupunha com café. Essa é uma forma de valorizar os nossos insumos, porque os insumos paraenses são uma comida de pertencimento, dos nossos povos originários e nós temos que nos apropriar disso. A gastronomia paraense é a identidade do nosso povo”, considera Odeth Cavalleiro de Macedo.

Inusitado, um brigadeiro ganha um sabor diferenciado: o tucupi com o bolo de chicória. “Essa inspiração surgiu numa proposta de reaproveitamento alimentar, porque hoje nós somos, no Brasil, 33 milhões de pessoas em situação de fome. Então, nós precisamos de fato fazer alguma coisa para mudar esse cenário. E por que não usar nossos ingredientes, se nós temos tanta riqueza e tanta diversidade de insumos? Uma das nossas maiores riquezas no Brasil é a mandioca, que é fonte de alimentação do povo brasileiro, especialmente presente no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. O jambu, por exemplo, pode ser usado em um pão de jambu com castanha-do-pará. A castanha, por sua vez, se torna ingrediente de um pralinê de cumaru, que é uma pasta ou um doce feito com castanhas caramelizadas”, descreve a gastróloga.