Dr. Responde

Uso exagerado de telas vira o inimigo número 1 do sono

 Foto: Rogerio Uchoa/Diário do Pará
Foto: Rogerio Uchoa/Diário do Pará

Pryscila Soares

O contato com a luz emitida pelas telas dos celulares, TVs, tablets e notebooks, sobretudo no período noturno, inibe a liberação do hormônio melatonina, o que prejudica a capacidade do indivíduo de iniciar e manter o sono.

Ou seja, o excesso de exposição a telas é um vilão para o sono. E não ter uma noite de sono de qualidade pode implicar em inúmeros prejuízos para as pessoas de modo geral, principalmente para o desenvolvimento das crianças.

Otorrinolaringologista com ênfase em medicina do sono, Diego Vaz explica que ao utilizar as telas o nosso cérebro é estimulado. E, para dormir, se faz necessário desacelerar a atividade cerebral aos poucos como uma forma de mostrar ao organismo que está na hora do descanso.

“O uso excessivo de telas pode aumentar o risco de sedentarismo, obesidade, problemas oculares (miopia e ‘vista cansada’), ansiedade, irritabilidade, depressão e até mesmo dependências (‘vício por telas’ ou dependência digital)”, disse o especialista.

“Como as crianças estão na fase de maturação e formação do sistema neurológico, tanto a parte física cerebral quanto psicológica podem ser afetadas pelo abuso de telas, sendo o maior risco abaixo de 12 anos de idade, fase crítica do desenvolvimento humano em todos os sentidos”, alertou.

As crianças devem evitar a exposição a esses aparelhos pelo menos duas horas antes de dormir. Os pais precisam adotar algumas estratégias para reduzir o tempo de telas, conforme ressaltou o especialista.

“Negocie com elas o tempo e condicione esse tempo a algumas tarefas, como após limpar o quarto ou fazer o dever de casa. Busque outras atividades em que ela se movimente e incentive a prática de esportes. Proponha atividades que sejam feitas entre pai/mãe e filho (a) para que elas possam compreender melhor o mundo da tela e o mundo fora da tela. Caso você libere o uso de tela para a criança, fique junto, explique o que ela está vendo, como aquilo se aplica no mundo”, recomenda.

O especialista ressalta que cada organismo funciona de forma diferente. Por isso, segundo ele, não existe uma fórmula ou tabela a ser seguida quando o assunto é um tempo de duração de uma noite de sono ideal. Contudo, para adultos, o recomendado é dormir entre sete a nove horas seguidas, por noite. “Mas temos dormidores curtos e dormidores longos, que fogem a estes parâmetros e é perfeitamente normal para estes indivíduos”, acrescentou Diego Vaz.

Dentre os benefícios de ter noites de sono equilibradas, o médico destaca a regulação dos fatores que definem a nossa saúde física e mental, envolvendo o comportamento, aprendizagem, memória, emocional e qualidade de vida.

“O sono é essencial, pois é o momento em que removemos as toxinas do cérebro. Se dormimos pouco, vamos acumulando cada vez mais toxinas. A longo prazo, isto é um grande perigo para a nossa cognição, inteligência e memória”, pontuou o especialista.

SAÚDE MENTAL

Para a psicóloga Niamey Granhen, o indivíduo precisa estar com todas as suas funções em equilíbrio para viver de forma saudável. Regular o uso das telas é totalmente necessário em todas as fases da vida.

“O uso de telas acelera todo o funcionamento biológico e emocional. Na hora de dormir, você não tem o sono rem, quando ocorre um aprofundamento para recuperar essas funções. O sujeito já acorda muito cansado e não tem uma qualidade de vida em todos os sentidos. Fica mais irritado, afeta o funcionamento da memória, da atenção, da percepção. O sono é importante, assim como a alimentação, descanso e o lazer. É um conjunto de fatores”, afirmou.

A psicóloga lembra que o desenvolvimento do ser humano ocorre em três áreas fundamentais: biossocial, cognitiva e psicossocial. A biossocial é a saúde biológica e a motricidade. Uma pessoa que não dorme bem vai acordar cansada e pode sofrer com baixa resistência. A área cognitiva envolve memória, atenção, percepção e outras funções. Se não dormir bem, a pessoa fica com dificuldade de desenvolver essas funções.

A psicossocial envolve o desenvolvimento da personalidade, emoções e interação social. Ou seja, pode afetar o humor, causar irritabilidade e conflitos nas interações. A longo prazo, o uso de telas vai provocar um impacto danoso ao desenvolvimento global da pessoa. Crianças de zero a dois anos não devem ter nenhum contato com telas, conforme informou Niamey.

“A rotina precisa ser estabelecida na casa como um todo, com horário para a criança dormir e desacelerar. Somos uma máquina, vamos comparar com um carro que quando desliga, o motor não esfria imediatamente. Então, imagina a gente. Eu deitei, meu cérebro vai ficar tranquilo imediatamente? Não. Por isso que as doenças de hoje são ansiedade e muito estresse, porque as pessoas são muito agitadas. Precisa de uma rotina no pré-deitar. Ao invés de uma tela, você vai contar uma historinha para ir desacelerando. Os pais precisam organizar isso desde a fase de bebê”, pontuou.