Cintia Magno
A última edição do Boletim Epidemiológico da tuberculose, lançado pelo Ministério da Saúde em março de 2024, aponta que a doença continua sendo um importante problema de saúde pública a ser enfrentado. Somente em 2022, de acordo com o documento, foram registrados 5.845 óbitos pela doença em todo o país, uma média de 2,72 óbitos por 100 mil habitantes.
A presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), Dra. Margareth Dalcolmo, explica que a tuberculose é uma doença infectocontagiosa causada por uma bactéria chamada Bacilo de Koch, em alusão a Robert Koch, responsável pela descoberta do bacilo causador da tuberculose, ainda no final do século XIX. “É uma doença de transmissão de pessoa a pessoa. Tem conceitos antigos que diziam que era necessário separar copos e talheres para evitar a transmissão, mas tudo isso cai por terra, não tem o menor sentido porque a tuberculose é transmitida pela via aerógena, através da fala, da tosse, do espirro, de uma pessoa para outra”.
Ainda que, em alguns casos, possa evoluir para quadros graves, inclusive a óbito, a tuberculose é tratável e curável na grande maioria dos casos, desde que seguido o tratamento de maneira adequada. Tratamento este que é feito a partir de antibióticos. “No Brasil tem uma situação muito favorável porque os tratamentos, seja para a forma simples, seja para formas complexas, é totalmente governamental e gratuito, mesmo os medicamentos de alto custo”, avalia Margareth Dalcolmo.
“O grande problema da tuberculose é que o tratamento ainda é muito longo. Ela exige tratamento por seis meses, com o uso de medicamentos que são por via oral, que são medicamentos comprimidos, em um esquema padronizado, fornecido pelo SUS (Sistema Único de Saúde)”.
Apesar disso, a presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia destaca que o Brasil ainda tem uma média de 5 mil mortes por tuberculose todo ano; além de aproximadamente 90 mil casos novos da doença também a cada ano. “No Brasil, é uma mortalidade ainda absolutamente injustificável, visto que estamos falando de uma doença que é tratável e curável na grande maioria dos casos”, considera, ao ponderar que a tuberculose é uma doença que se comporta de maneira bastante oportunista em algumas situações.
“Por exemplo, em pessoas vivendo com HIV/Aids, a tuberculose é a doença mais comum. Pessoas vivendo com HIV/Aids têm muito mais tuberculose do que o resto da população e eles exigem também um diagnóstico e um tratamento muito eficaz, mas a tuberculose é curável nesses pacientes também. Os medicamentos para tuberculose permitem ser usados com a maior parte dos antivirais que são usados no tratamento de manutenção do HIV e Aids”.
Epidemiologia – Incidência da tuberculose é maior no cárcere
Em um país extremamente grande e diverso, não é difícil compreender que esses fatores também influenciam a epidemiologia da tuberculose. A Dra. Margareth Dalcolmo aponta que há áreas no Brasil que têm taxas de incidência de tuberculose semelhantes às de países europeus, enquanto há determinadas regiões em que a incidência é maior do que a média nacional. “O Brasil tem uma média de 38 casos por 100 mil habitantes, mas essa média quer dizer muito pouca coisa porque ela varia desde cidades como Manaus e Rio de Janeiro, que são as mais altas incidências no Brasil, e que chegam a 75% por 100 mil habitantes, portanto, o dobro da média nacional”, exemplifica. “Há determinadas populações que têm uma incidência marcadamente mais alta também, as mais altas de todas são da população vivendo em situação de rua e da população prisional. É nas cadeias no Brasil que é mais alta a incidência de tuberculose”.
No caso da população prisional, a especialista aponta que a incidência de tuberculose pode chegar a 2 mil casos por 100 mil habitantes, o que é centenas de vezes superior à média nacional. “O maior risco de contaminação por tuberculose no Brasil, hoje, sem dúvida é entre a população carcerária”.
Como medida para mudar este cenário, a pesquisadora destaca que o Brasil possui duas importantes formas de prevenir a doença. “A primeira é a vacina BCG, que é aplicada em todos recém-nascidos brasileiros que nasçam a partir de 2,5 kg de peso. Então, todo mundo recebe na maternidade e a vacina BCG protege contra formas graves e disseminadas da doença; e existem os tratamentos profiláticos que são dados àquelas pessoas que apresentam a chamada infecção latente, isto é, pessoas que são positivas ao teste de PPD, que é chamado Teste Tuberculínico, ou a uma medição de sangue que se chama IGRA, que também é feito no SUS e eles detectam que a pessoa não é portadora de doença ativa, mas de uma condição chamada ‘infecção latente’. Então, nesses casos é dado um tratamento profilático. Quando que isso ocorre? Quando a pessoa é contato de alguém com tuberculose, dentro da própria família, então nós protegemos os contatos fazendo tratamento profilático”.
POR DENTRO DA TUBERCULOSE
É uma doença bacteriana, diagnosticada em 100% dos casos, tratável e curável. A grande dificuldade de controle da tuberculose, no Brasil, ainda é a adesão ao tratamento. Pelo fato de ser um tratamento longo, algumas pessoas acabam abandonando-o com alguma frequência, o que é extremamente prejudicial porque, uma vez abandonando o tratamento, o paciente desenvolve resistência aos remédios e pode vir a apresentar as formas chamadas ‘resistentes’ ao esquema receitado, que são muito mais complexas, longas e caras para serem tratadas.
SINTOMAS
*Tosse por 3 semanas ou mais;
*Febre vespertina;
*Sudorese noturna;
*Emagrecimento.
*O principal sintoma da tuberculose pulmonar é a tosse. Essa tosse pode ser seca ou produtiva (com catarro).
Atenção! O Ministério da Saúde recomenda que toda pessoa com sintomas respiratórios, ou seja, que apresente tosse por três semanas ou mais, seja investigada para tuberculose.
TRATAMENTO
O tratamento da tuberculose dura no mínimo seis meses, é gratuito e está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). A tuberculose tem cura quando o tratamento é feito de forma adequada, até o final.
Fonte: Ministério da Saúde.
EM NÚMEROS
Em 2023, foram identificados 80.012 casos novos de TB no Brasil, correspondendo a uma incidência de 37,0 casos por 100 mil hab.
UNIDADES DA FEDERAÇÃO
Em 2023, 11 Unidades da Federação tiveram coeficientes de incidência de tuberculose superiores ao do país
1. Roraima: 85,7 casos por 100 mil hab.
2. Amazonas: 81,6 casos por 100 mil hab.
3. Rio de Janeiro: 70,7 casos por 100 mil hab.
4. Acre: 53,0 casos por 100 mil hab.
5. Pernambuco: 51,5 casos por 100 mil hab.
6. Mato Grosso do Sul: 50,5 casos por 100 mil hab.
7. Pará: 48,8 casos por 100 mil hab.
8. Espírito Santo: 44,2 casos por 100 mil hab.
9. São Paulo: 42,0 casos por 100 mil hab.
10. Rio Grande do Sul: 40,0 casos por 100 mil hab.
11. Amapá: 39,7 casos por 100 mil hab.
Média nacional: 37,0 casos por 100 mil hab.
*Os dados de 2023 são preliminares.
Fonte: Boletim Epidemiológico Tuberculose 2024 – Número Especial – Março de 2024 – Ministério da Saúde – Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente.