JULIANA MATIAS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Repelentes com icaridina, substância indicada contra a dengue pela OMS (Organização Mundial da Saúde), estão escassos nas farmácias da cidade de São Paulo. Principal dificuldade das fabricantes é a escassez da matéria-prima dos repelentes, no geral, em todo o mundo.
A icaridina é um ativo de origem natural, que proporciona até 10 horas de proteção, é o mais indicado pela OMS e o seu uso é permitido para gestantes e crianças a partir de 2 anos. A Folha procurou o repelente com icaridina na Drogaria São Paulo, Droga Raia e Drogasil de diversos bairros da cidade.
Apenas uma loja, da Drogasil, ainda tinha estoque do produto com icaridina. Em farmácias do distrito Jaguara, bairro na zona oeste de São Paulo que tem a incidência de dengue mais alta do município, não há estoque de nenhum repelente.
Procuradas pela reportagem, Drogasil e Droga Raia afirmaram que têm feito “todos os esforços para manter os estoques de repelentes, mas devido à alta demanda o abastecimento não tem sido regular como de costume”.
Além da icaridina, existem dois princípios ativos usados nos repelentes, todos vindos do exterior: o deet (dietiltoluamida), o ativo mais antigo, de origem química e inflamável; e o IR 3535, ativo da multinacional Merck. Em fevereiro deste ano, os fabricantes de repelentes já temiam o fim da matéria-prima no Brasil. A principal preocupação da indústria era o tempo para importação e questões alfandegárias.
A Henlau Química, que fabrica as marcas próprias das redes Drogaria São Paulo (Ever Care) e Raia Drogasil (Needs), além da sua própria marca, Sanlau, informou que dobrou a produção, mas toda ela “já está comprometida, inclusive a matéria-prima que deve chegar nessa semana”.
Para a Henlau, o principal obstáculo é a importação do princípio ativo, que está escasso no mundo todo, além de “dificuldades com prazo, decorrente dos problemas militares no Mar Vermelho”.
No dia 18 de março, a capital paulista decretou estado de emergência por dengue. Dados desta segunda (25), mostram que, em uma semana, a incidência de dengue na cidade passou de 414,1 por 100 mil habitantes para 559,5 por 100 mil habitantes. 77% dos distritos da cidade de São Paulo podem ser considerados epidêmicos na classificação da OMS.
O coeficiente de incidência é um critério da OMS e do Ministério da Saúde para classificar uma região como epidêmica quando há mais de 300 casos para 100 mil habitantes.
Segundo dados do painel de monitoramento da Secretaria de Estado da Saúde, nesta quarta (27), a capital tem maior quantidade de óbitos (19) no estado, seguida por Guarulhos (12), na região metropolitana, e Taubaté (12).
O Brasil vive uma epidemia de dengue sem precedentes. Segundo dados do Painel de Monitoramento das Arboviroses, do Ministério da Saúde, o país ultrapassou a marca de 2,3 milhões de casos prováveis de dengue em 81 dias deste ano.
Além de São Paulo, pelo menos oito estados (Acre, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina) e o Distrito Federal decretaram situação de emergência devido à doença desde janeiro deste ano.