Hoje (3) celebra-se o Dia da Conscientização contra a Obesidade Infantil. A data visa alertar a população sobre os riscos e cuidados necessários ao combate à obesidade infantil. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), no Brasil, 9,4% das meninas e 12,4% dos meninos são considerados obesos, de acordo com os critérios adotados pela organização.
Tânia Mara Perini, especialista em nutrologista pediátrica e docente dos cursos de pós-graduação da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), explica que as crianças estão na mira da obesidade infantil pois as famílias estão consumindo cada vez mais alimentos não saudáveis e multiprocessados.
“E cada vez menos possibilitando atividades físicas e brincadeiras em espaços abertos, ao contrário, confinando seus filhos em casa e em apartamentos com liberdade de telas. Essa combinação só pode dar em obesidade”, completa.
Segundo a médica, a obesidade é considerada mórbida na infância quando o IMC (Índice de Massa Corporal) é superior a 3 desvios padrões da mediana da referência da curva de IMC da OMS.
Para saber se a criança está com obesidade mórbida, Tânia Perini comenta que o diagnóstico é bem fácil e de acesso a todas as crianças. Na própria caderneta da criança estão as curvas de peso, idade, estatura e IMC.
“A curva de IMC deve ser preenchida pelo pediatra nas consultas de puericultura e caso ela se eleve progressivamente e ultrapasse as referências de sobrepeso ou obesidade, o pediatra faz o diagnóstico e deve já iniciar a investigação e tratamento”, disse.
A médica também afirma que a obesidade está associada a algumas das mais prevalentes doenças crônicas não transmissíveis na sociedade moderna, como hipertensão, dislipidemias, diabetes, doenças cardiovasculares, ainda os distúrbios do sono como apnéias, alterações ortopédicas, síndrome metabólica dentre outras.
Tratamentos
De acordo com a médica especialista, pelo fato de os programas de tratamento da obesidade serem na maioria das vezes frustrantes, os profissionais da área tentam voltar-se para programas de prevenção, e explica.
“Estamos vivendo uma transição entre a falta de alimentos para uma situação onde come-se muito, mas come-se mal, come-se mais do que nosso corpo precisa e mais do que se aguenta. Claro que a obesidade não depende apenas da comida, pois ela é multifatorial, possuindo causas genéticas, ambientais, endocrinológicas e psicológicas, dentre outras”.
Dessa forma, qualquer programa de tratamento exige equipes multidisciplinares para os cuidados necessários. Perini também destaca que não há tantos medicamentos liberados para tratamento na infância como para os adultos e, na maioria dos casos, a criança com obesidade está inserida em famílias de pessoas obesas e com hábitos alimentares que não ajudam, ou seja, a criança é fruto do meio, e a família é primordial no processo do combate à doença crônica.
“Não há sucesso em nenhum tratamento se não houver colaboração de todos os membros familiares e mudanças de hábitos de vida da família”.
A profissional ainda alerta que o sedentarismo infantil e o excesso de tela também vem contribuindo a cada dia com essa realidade. Além disso, as intervenções no estilo de vida das crianças mostraram um efeito limitado na composição corporal, com queda do IMC de apenas 1,25% k/m2 em média.
“As atitudes devem abranger muito mais que as orientações que já estamos oferecendo”, ressalta.
Ela ainda pontua que, apesar de largo uso, bem aceita e com critérios de indicação bem definidos na literatura médica para a população adulta, ainda hoje, os critérios de indicação e a aceitação da cirurgia como modalidade de tratamento na faixa etária pediátrica são tímidos e em fase de definição.
“Atualmente com autorização do Ministério da Saúde, a idade mínima para realizar cirurgia bariátrica é de jovens a partir de 16 anos, mas uma série de exigências faz parte do protocolo para a realização do procedimento”, ressalta.