O simples hábito de coçar os olhos pode desencadear um grave problema na visão: Ceratocone, doença caracterizada pela mudança na estrutura da córnea, que se torna mais fina e curvada, lembrando o formato de um cone. Ela ocorre pela junção de fatores como genética, fragilidade da estrutura da córnea e impacto do ambiente, principalmente fricção no globo ocular.
De acordo com a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), o ceratocone é uma das principais causas de quase 13 mil transplantes de córnea realizados no Brasil em 2020. Os mais acometidos pela doença são jovens entre 10 e 25 anos, mas pode progredir até os 40 anos de vida ou se estabilizar com o tempo. Há também o risco de atingir os dois olhos de maneira assimétrica, afetando mais um olho do que o outro.
Para conscientizar a população sobre o problema de saúde foi criado em 2006, pela National Keratoconus Foundation (NKCF), o Dia Mundial do Ceratocone – 10 de Novembro. A campanha é reforçada pelo Banco de Tecido Ocular do Hospital Ophir Loyola, único do Pará que atua no recolhimento, preservação e destinação de córneas em consonância com a Central Estadual de Transplantes (CET/PA).
O primeiro sinal é a alteração da visão. A presença de astigmatismo alto e mudanças de grau aceleradas servem de alerta. Se não tratada adequadamente, a doença continua a evoluir até precisar do transplante. De acordo com o oftalmologista do HOL, Allan Costa, o diagnóstico é feito por meio de exame oftalmológico e de imagem da córnea.
“A avaliação clínica e o histórico do paciente são analisados pelo oftalmologista, além de exames específicos, como a biomicroscopia, que tem por objetivo examinar as estruturas externas e internas do olho, sendo realizado através do equipamento lâmpada de fenda”, informa o especialista.
Procedimentos
Caso o ceratocone seja descoberto na fase inicial, a utilização de óculos é indicada para que o paciente possa enxergar normalmente, combatendo o astigmatismo causado pela condição. No entanto, à medida que avança, é prescrito o uso de lentes de contato para evitar a curvatura em formato de cone que a doença causa. O modelo da lente de contato depende do tipo e estágio de curvatura da córnea.
“A intervenção cirúrgica também pode ser uma opção em casos mais graves, sendo utilizada a técnica do crosslinking, que consiste na coleta de uma pequena amostra da córnea, onde colírios com vitamina B12 são aplicados nos olhos e, em seguida, raios ultravioletas são emitidos para fortalecer as fibras da estrutura. Já o transplante só é indicado em último caso, quando todos os dispositivos anteriores não forem mais eficazes na melhora da visão”, explica Allan Costa.
Há 12 anos, a assistente administrativa Ivi Verônica Salzer foi diagnosticada com ceratocone. Ela sempre teve dificuldades de enxergar, e a doença foi se agravando. “Os óculos não me serviam, e eu fiz os exames para trocá-los. No entanto, eu não tive a paciência necessária e aumentou mais ainda o meu grau. Eu usei lente por algum tempo, mas me incomodava demais e não se ajustava aos meus olhos. Também percebi que a minha córnea estava cada vez mais bicuda”, conta.
Ivi entrou na fila de transplante de córnea em 2016, e a cirurgia foi realizada cinco anos depois. “De 2019 a 2021 a fila do transplante começou a ser mais rápida, e eu acredito que as pessoas começaram a se conscientizar mais sobre o assunto. Hoje, eu estou enxergando totalmente do lado direito, e agradeço muito ao sistema de saúde e ao Hospital Ophir Loyola, pois hoje tenho uma qualidade de vida muito melhor”, afirma Ivi Salzer.
Fonte: Agência Pará