CUIDADO COM O ÁLCOOL

Beber excessivamente no fim de semana é tão danoso quanto consumo diário

Psicólogo do CEJAM explica que, a longo prazo, esse tipo de hábito também pode levar à dependência, além de impactar a saúde física e mental.

Foto: Divulgação
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Contrariando a crença popular de que apenas aqueles que bebem álcool diariamente podem sofrer danos à saúde, especialistas alertam que a prática de ingestão excessiva de álcool em um curto período, também conhecida como “binge drinking”, pode ser tão prejudicial quanto o consumo regular e contínuo. 

Esse padrão, que muitas vezes se restringe aos finais de semana, também pode contribuir para o desenvolvimento de doenças hepáticas, como cirrose e esteatose hepática, problemas de memória, doenças cardiovasculares e do sistema digestivo, além de aumento de sintomas ansiosos e depressivos. 

Estudo da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, publicado em 2023, afirma que a faixa entre os 35 e os 50 anos é a que mais ingere álcool seguindo esse padrão. No entanto, o psicólogo Agnaldo Vieira dos Santos, do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas III Jardim Ângela (CAPS AD III), gerenciado pelo CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, aponta que o hábito também vem se popularizando entre os mais jovens. 

“Embora as novas gerações estejam consumindo menos álcool em comparação às anteriores, pesquisas têm evidenciado um aumento expressivo desse padrão de consumo entre aqueles que optam por beber. Apesar desse formato parecer não ter consequências, ele afeta o corpo de maneira similar ao consumo diário e também prejudica a saúde mental. O mais seguro é não beber, mas se alguém escolhe consumir álcool dessa maneira pensando que está livre de problemas, precisa repensar essa atitude”, afirma. 

O especialista destaca a importância de ficar atento a certos sinais que podem indicar se o consumo de álcool, mesmo que limitado a dias específicos, está excedendo os limites. Mudanças comportamentais durante a semana, problemas financeiros decorrentes do consumo, conflitos familiares frequentes após o uso da substância e, principalmente, a incapacidade de passar um fim de semana sem beber, são sinais de alerta importantes. 

“Esse tipo de consumo também pode levar ao desenvolvimento de uma dependência. Isso acontece porque essa prática pode elevar gradualmente a tolerância ao álcool, gerando a necessidade de ingerir volumes cada vez maiores para se obter os mesmos efeitos. Assim, mesmo que o consumo seja restrito aos sábados e domingos, a tendência é que a quantidade de álcool consumida aumente progressivamente com o passar do tempo”, explica o profissional. 
 

Tratamento gratuito via SUS 

O CAPS AD, disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS), é uma unidade especializada que oferece tratamento para casos associados ao uso abusivo ou dependência de álcool. 

Para aqueles que estão procurando formas de deixar o consumo da substância, o tratamento pode ser uma alternativa viável e efetiva. No entanto, é importante ressaltar que o acolhimento é disponibilizado para indivíduos a partir dos 18 anos, enquanto os menores podem ser encaminhados ao Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPS IJ), sendo necessário o acompanhamento dos pais ou responsáveis. 

“A primeira etapa do tratamento é o acolhimento inicial, um passo crucial que envolve a escuta e compreensão dos fatores que levaram o paciente a buscar ajuda. A partir disso, elaboramos um Projeto Terapêutico Singular (PTS) provisório, personalizado para cada pessoa”, explica Agnaldo. 

Esse projeto pode incluir terapias em grupo e consultas com uma equipe multidisciplinar composta por médicos, psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, terapeutas ocupacionais e agentes de redução de danos. Para casos mais severos, o plano terapêutico conta, ainda, com a possibilidade de acolhimento noturno para desintoxicação, que tem duração de 14 dias. 

“A recente estigmatização do CAPS nas redes sociais não contribui para a promoção dos cuidados adequados em casos de alcoolismo. Quando uma pessoa decide buscar ajuda, é crucial que ela encontre informações corretas, receba apoio da família e seja acolhida com empatia e humanidade. Esses elementos são essenciais para incentivar a população a procurarem auxílio para enfrentar esse vício que segue sendo um problema de saúde pública”, finaliza o psicólogo.