Diego Monteiro
Na Casa de Plácido, em Belém, um grupo dedicado de voluntários trabalha incansavelmente para oferecer conforto, cuidado e esperança aos devotos que chegam de várias partes do Estado após dias de caminhada.
É uma missão que pede esforço e dedicação, mas para esses voluntários é uma oportunidade de fazer a diferença na vida daqueles que dependem dessa ajuda para seguir em frente e concluir suas promessas. Alguns voluntários já estão nesse trabalho há décadas, enquanto outros se juntaram a equipe no ano passado, mas todos compartilham o mesmo objetivo: servir ao próximo em nome da fé.
Naquele espaço, os voluntários dedicam horas por dia, às vésperas do Círio de Nazaré, para oferecer ações, que são carinhosamente chamadas de atos de amor, e envolve lavagem de pés, banho, massoterapia, curativo, atendimento multidisciplinar, entre outros. Há ainda uma programação alimentar completa, que envolve café da manhã e da tarde, lanche, almoço, janta e ceia.
A primeira parada dos peregrinos costuma ser na área do lava-pés, onde voluntários refrescam e higienizam os pés daqueles que caminharam por longas distâncias. “Quando dizemos ‘sim’ a Maria, estamos dizendo ‘sim’ ao próximo. Dessa forma nós doamos esses dias das nossas vidas para o cuidado daqueles que precisam da gente”, conta a voluntária Karla Ferreira, 51.
Com um total de seis anos nesse trabalho, Karla destaca que o serviço é para obra, por isso é gratificante. “Todos os anos eu me emociono, pois são pessoas tão diferentes de mim, mas que carregam um amor por Nossa Senhora que não tem explicação. Vejo que somos um canal do amor de Maria e tenho certeza de que eles se sentem amados por esse gesto tão importante e que é uma tradição”, disse.
Para este ano, a Equipe de Apoio ao Voluntário (EAV) espera receber um público ainda maior do que em 2022, e essa previsão reflete diretamente na produção de refeições que, segundo informações da EAV, aumentou em 20%. Em 2022, a Casa de Plácido serviu em média 120 mil alimentações, sendo que em 2023 a previsão é que esse número seja superior a 140 mil produções na cozinha.
Esses números impressionantes dependem de mãos habilidosas, como as de Maria Luiza do Amaral Silva, 72 anos. Em seu oitavo ano nessa função, quando questionada se pretende parar no próximo ano, a resposta é firme e direta: “Enquanto eu tiver força e saúde, estarei servindo aos meus irmãos todos os anos”, frisou, com a voz trêmula por causa da emoção.
Segundo Maria, a fé em Nossa Senhora de Nazaré é a força por trás do comprometimento de cada voluntário. “Eu fico cansada? Sim! Lidar com tanta gente gera muito trabalho. Mas pense na alegria de ver alguém chegando aqui exausto, e depois descobrir que essa pessoa conseguiu cumprir o que pretendia e no final honrar sua promessa. É verdadeiramente gratificante”.
Esse sentimento é compartilhado pelos colegas, que, juntos, formam um batalhão de solidariedade. “Desde que começamos a trabalhar, aprendemos o verdadeiro significado do Círio de Nazaré. Este momento nos enche com um sentimento incomparável, diferente de qualquer outra experiência que já vivemos. Apoiar e incentivar alguém tem um significado profundamente especial, algo que não tem preço”, conclui Maria.
Por causa desse trabalho que os pratos deliciosos ficam prontos e geram a sensação de missão cumprida, pelo menos por um breve momento, já que logo em seguida inicia-se um novo ciclo de preparação e distribuição de alimentos. Toda a comida é levada nos panelões e cada refeição é cuidadosamente disposta por voluntários, prato por prato, antes de ser entregue aos romeiros.
“É uma das melhores coisas da minha vida”
Pés lavados e alimentados, próxima parada é nas mãos do Waldemar Bulhões, 55, que, por causa da habilidade na massoterapia, tornou-se uma figura conhecida e querida pelos fiéis. “Faço isso há dez anos, então é comum receber pessoas que vieram em edições passadas. Quando me veem agradecem pelo serviço, pois só dessa forma que conseguem chegar até o final da promessa”, afirma.
Waldemar compartilha sua história de superação pessoal como inspiração para seu trabalho: “O que eu faço na Casa de Plácido é uma das melhores coisas da minha vida. Isso é um ato de amor e, acima de tudo, de muita gratidão. Lembro que quando tinha oito anos peguei tétano e fiquei paraplégico. Hoje estou curado. Então eu só tenho a agradecer e por isso estou aqui”, diz.
“Uma vez voluntário, sempre voluntário”, esta é uma das frases da enfermeira Izabel Leal, 41, e bastante falada por lá por outros voluntários. “Por isso é fácil encontrar pessoas que possuem anos de trabalho aqui. Com certeza estarei aqui, firme e forte no ano que vem. É muito gostoso estar aqui, amenizando a dor dos pés descalços, o cansaço do corpo suado e fortalecendo o espírito de cada um com atenção”.
Experiente no voluntariado, já que nesta edição do Círio de Nazaré a profissional da saúde completa dez anos no trabalho, o objetivo sempre é concluir o trabalho sem nenhuma intercorrência. “Por isso montamos uma estrutura para prestar um atendimento de enfermagem, que vai desde aferição de pressão, ou até mesmo casos mais graves como náuseas, vômitos e quadro exaustivo”, detalha.
Enquanto essas pessoas ajudam cada um dos peregrinos que chega, constroem um verdadeiro laço de fraternidade e esperança. “Toda vez que paro para pensar em tudo que fizemos fico até emocionada pois, dessa forma, com a fé em Nossa Senhora, tudo vai fazendo sentido em nossas vidas e isso nos fortalece”, conclui Izabel.