CÍRIO 2024

Em Belém, 33 paróquias são dedicadas à padroeira dos paraenses

A história das igrejas de Belém está diretamente ligada à figura de Maria, mãe de Jesus. Isso porque desde a construção da primeira igreja da capital, Nossa Senhora do Carmo, a imagem católica é exaltada não apenas na titulação, mas na liturgia e nas festividades. Resultado da experiência do povo com a fé, a devoção mariana nasce da confiança e admiração na Virgem Maria, que simboliza o caminho aos ensinamentos de Jesus e é considerada a “Mãe da Igreja” na crença cristã. 

“O título de uma igreja nasce da vontade popular de quem vive ali. Então, começa com uma capelinha ou uma choupana e vai crescendo até se tornar uma paróquia. Muitas vezes, alguém coloca uma imagem de Nossa Senhora e começa a chamar aquele pedaço pelo título de Nazaré, Fátima, Amparo. Cada igreja tem um santo porque é ele o responsável por dinamizar a espiritualidade daquela paróquia, das famílias que se encontram ali para viver a vida paroquial”, explica o padre Wiremberg José da Silva, vigário paroquial da Paróquia São Lucas Evangelista. 

Na capital paraense são 33 paróquias com devoção mariana que respondem à Arquidiocese Metropolitana de Belém. Quando criado, o arcebispado recebeu o nome de Santa Maria de Belém, que também é a padroeira da cidade. A primeira paróquia da capital foi intitulada Nossa Senhora da Graça, chamada atualmente de Catedral Metropolitana de Belém, a Catedral ou Igreja da Sé. Maria também é considerada a Rainha da Amazônia e padroeira do estado, na imagem de Nossa Senhora de Nazaré. Atualmente, seis dos oito santuários são dedicados a Nossa Senhora. 

Padre Wiremberg José da Silva, vigário paroquial da Paróquia São Lucas Evangelista.. Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.

Para além das mais conhecidas, outras igrejas carregam titulação mariana, como é o caso das paróquias Nossa Senhora do Amparo e Nossa Senhora de Guadalupe, localizadas na Região Metropolitana de Belém. A primeira foi criada a partir do desmembramento do Santuário Santa Rita de Cássia, enquanto a segunda traz um título de devoção portuguesa, já existia enquanto comunidade e foi desmembrada da Paróquia Divino Espírito Santo. 

“Além dessas igrejas que tem sob o título mariano, há outras que são indiretamente marianas. Na liturgia, todas são obrigadas a celebrar Maria, a Imaculada, Assunta ou um outro título que pede no Missal, que é da igreja como um todo. São 33 porque as paróquias se firmaram e a Diocese reconhece o patrocínio daquela igreja e a história daquela paróquia. Outra questão é que todas as paróquias da Diocese celebram às terças a novena do Perpétuo Socorro”, esclarece o especialista em Mariologia, padre Wiremberg. 

DEVOÇÃO 

A paróquia Nossa Senhora do Amparo é uma das igrejas situadas em Ananindeua que recebe titulação marianas. A devoção à santa, muito presente em Portugal, foi trazida ao Brasil após a descoberta das terras indígenas pelos portugueses. Um dos primeiros templos erguidos no país dedicado à Nossa Senhora do Amparo foi em Olinda, existente desde 1617. A santa é invocada para proteção dos fiéis católicos nas dificuldades, doenças e qualquer tipo de situação de perigo. 

Há dez anos, Rosileia Gurjão, 52 anos, faz parte do Ministério da da Música da Paróquia de Nossa Senhora do Amparo. Vinda de outra comunidade, ela diz que foi bem acolhida pelo corpo paroquial, mas, principalmente pela Virgem do Amparo, a qual se tornou devota. A admiração veio após testemunhar as várias graças alcançadas por fiéis que depositavam a esperança em Nossa Senhora do Amparo. 

Há dez anos, Rosileia Gurjão, 52 anos, faz parte do Ministério da da Música da Paróquia de Nossa Senhora do Amparo. . Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.

“Quando eu vinha cantar eu via aquela imensa devoção das pessoas pedindo por graças. São muitas graças alcançadas através de Nossa Senhora do Amparo, principalmente durante os dias de adoração. Eu sempre peço pelo amparo dEla, que me ajude na minha profissão, na minha devoção, nas bênçãos na família, na saúde. Que Ela sempre me ampare e me fortaleça”, disse a devota. 

Hoje, o canto não é a única forma de devoção. Desde 2023, ela é responsável por restaurar a imagem principal de Nossa Senhora do Amparo, função que veio após muita intercessão à santa para que ela transformasse uma atividade periódica em profissão. Atualmente, ela é artista plástica e trabalha com a pintura de imagens sacras cristãs, o que considera uma grande graça alcançada através da santa acolhedora, conhecida por interceder a favor dos filhos de Deus. 

“Eu sempre trabalhei com artesanato cristão para o Círio. Quando eu tive a graça de trabalhar com arte sacra, comecei pintando imagens de Nossa Senhora de Nazaré bem pequenas, mas sempre pedindo a Nossa Senhora do Amparo que me desse a graça de pintar a imagem dEla da nossa paróquia que estava muito deteriorada. Ano passado, eu consegui fazer o básico e restaurar a imagem dela. Hoje, com a minha especialização em arte sacra, eu vou dar uma nova roupagem pra Ela”, revelou a artista. 

Outra titulação de mariana muito devotada é Nossa Senhora de Guadalupe, que teve sua devoção iniciada no México, após a aparição da Virgem Maria a um indígena asteca. A lenda conta que Nossa Senhora teria aparecido várias vezes ao rapaz, Juan Diego, pedindo a construção de uma igreja no local das aparições. Na Região Metropolitana de Belém, a paróquia de Nossa Senhora de Guadalupe celebra a padroeira das Américas. 

Geovani Ferreira, 35, se tornou devoto de Guadalupe após conhecer os feitos da padroeira através das novelas mexicanas. A admiração pela santa faz parte da caminhada dele na fé cristã, que iniciou ainda criança pelo incentivo da mãe. Por isso, as conquistas pessoais ele atrela a fé em Nossa Senhora, santa milagreira que deu as condições para que as graças fossem alcançadas.  

“Eu pedi a Nossa Senhora que, quando eu crescesse, desse conta de construir a casa da minha mãe e eu consegui a graça. Eu também pedi intercessão de Nossa Senhora de Guadalupe para que fosse aprovado o financiamento da minha moto e assim foi feito cinco dias depois. Nossa Senhora de Guadalupe tem uma força interessante. Uma amiga colocou uma imagem dEla em casa pedindo pela saúde e que conseguisse pagar as dívidas do apartamento. Hoje ela está bem melhor e conseguiu quitar as dívidas e reformar o apartamento que ela mora”, contou o secretário paroquial. 

CURIOSIDADES

A devoção a Maria é uma prática iniciada após a escritura do Evangelho de Lucas, ainda no primeiro século. A figura católica é descrita na passagem bíblica da Anunciação de Maria, quando o anjo Gabriel disse que a mulher conceberia um filho chamado Jesus, o Filho do Altíssimo. À época, esse primeiro relato gerou atenção sobre quem era, onde morava e o que fazia Maria e até hoje é considerado um dos primeiros registros de devoção à imagem católica. 

“Em Lucas há um verdadeiro fundamento mariológico porque a Anunciação é o texto mais importante de todos e mais usado na liturgia. Ele representa uma cena evangélica em que a Virgem está no centro, como uma grande protagonista. O anúncio é dado a ela e aqui criam a devoção. Essa passagem bíblica traça da forma mais nítida o retrato humano e espiritual de Maria. O retrato humano, ela, mulher, torna-se mãe na carne a Jesus, mas, a nós, a mãe na graça”, explica o padre Wiremberg José da Silva, especialista em Mariologia. 

Essencialmente, a devoção é sustentada pelo aspecto histórico, cultural e artístico de um certo povo. No estado do Pará, a população devota grande admiração por Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e, principalmente, por Nossa Senhora de Nazaré. Por isso, a fé em Maria se transforma em romaria, como é o caso do Círio de Vigia de Nazaré, realizado há mais de 320 anos no município de Vigia, nordeste paraense. 

“A devoção depende da cultura de cada povo dentro de um determinado século e como esse povo entende a imagem devotada e expressa isso. Então, aqui no Pará, o povo também cria o Círio de Nazaré, que é a fé em Maria como expressão cultural do nosso povo”, explica o padre Wiremberg José da Silva, especialista em Mariologia.