Círio de Nazaré

E por 231 vezes, é Círio de Nazaré outra vez!

Início do Círio 2023. Foto: Luiz Octávio Lucas
Início do Círio 2023. Foto: Luiz Octávio Lucas

E outubro chegou, e com ele a maior festa religiosa do povo paraense e a maior procissão do mundo, o Círio de Nazaré. São 231 anos de uma devoção e fé que poucos conseguem explicar ou relatar. Só vivendo para saber. A grande procissão sai neste domingo, dia 08, da Catedral de Belém com destino à Basílica Santuário, erguida no mesmo local em que a Imagem foi achada em 1700, pelo caboclo Plácido.

Percorre o Centro Histórico de Belém e alguns dos principais monumentos representativos da história da cidade, como o Ver-o-Peso, Estação das Docas, Praça da República, entre outros. São em torno de seis horas, num percurso de 3,600 Km, em que mais de dois milhões de pessoas devem caminhar em oração, devoção e agradecimento.

“Nossa expectativa é superar o público do ano passado e com certeza ultrapassar os dois milhões de devotos, reunidos em um único momento, em oração pelas ruas da cidade. Isso você não vivencia em nenhum outro lugar do mundo, só aqui”, relata o coordenador do Círio 2023, Antônio Salame, em seu último Círio à frente da organização na Diretoria da Festa de Nazaré (DFN).

História – E por que o achado de uma Imagem se transformou em uma das maiores demonstrações de fé da humanidade? Relatos apontam que Plácido encontrara a imagem em uma bifurcação de um taperebazeiro (árvore do taperebá). Ele a levara para sua casa e a colocara em um pequeno altar de miriti, onde estavam um crucifixo e outras imagens de santos de sua devoção.

Movimento intenso na saída da procissão neste domingo. Foto: Luiz Octávio Lucas

No dia seguinte, a imagem teria sumido. Ao retornar ao local do achado, percebeu que ela se encontrava no mesmo lugar do dia anterior. O fato repetiu-se durante alguns dias e a notícia do “desaparecimento” se espalhou, provocando a intervenção das autoridades civis e eclesiásticas, fazendo com que fosse levada para o Palácio do Governo, para o Paço Episcopal e à recém-erguida Catedral, de onde ela também sumiu, sendo encontrada no mesmo local de origem. Por conta dos desaparecimentos, Plácido teria entendido que a imagem deveria ficar no local onde fora encontrada e ali construiu uma ermida para abrigá-la. O local do achado é onde hoje se encontra a majestosa Basílica Santuário.

Símbolos – Além disso, ao longo da história, incontáveis são os relatos de graças alcançadas por intercessão de Nossa Senhora de Nazaré. Desde a primeira procissão, em 1793, até hoje, alguns elementos foram incorporados à grande Romaria como: a Berlinda, carro especial para a condução da Imagem Peregrina, puxado pelos devotos; a Corda de 400 metros, divididas em 5 estações e dois núcleos; e os 14 Carros de Promessas. Com o passar do tempo, também, outras romarias e eventos foram integrados ao calendário oficial que conta, hoje, com 13 romarias. Em 2014, a organização do Círio recebeu, oficialmente, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), o certificado de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.

Foto: Irene Almeida/Diário do Pará

Integram o conjunto de carros do Círio de Nazaré, além da Berlinda: Carro de Plácido, Barca da Guarda Mirim, Barca Nova, Cesto de Promessas, Barca com Velas, Barca Portuguesa, Barca com Remos, Carro Dom Fuas e Carro da Sagrada Família, os quatro Carros dos Anjos, que são conduzidos pela Catequese da Basílica Santuário de Nazaré, e o Carro da Saúde.

O motivo da fé – Atualmente a Imagem Original permanece o ano todo no Glória, na Basílica Santuário, estando próxima dos devotos em maio e outubro, e uma outra Imagem, chamada Peregrina, participa de todas as festividades do Círio. Desde quando a Imagem Original foi entronizada no Glória, outra imagem, pertencente ao Colégio Gentil Bittencourt, passou a substituí-la nas romarias até 1969, quando foi confeccionada a Imagem Peregrina, que até hoje segue nas 13 romarias e visitas oficiais. A imagem possui status de Chefe de Estado, conferido por uma lei estadual paraense.

Este é o Círio de Nazaré, uma manifestação religiosa que representa todo um povo, independente de escolhas ou fé. Representa o povo, a economia, o turismo. A cidade se transforma, as pessoas se transformam. Em todos os cantos só se ouve uma voz: é Círio outra vez. Como explicar mais de dois milhões de pessoas reunidas em procissão, rezando, confraternizando e renovando a esperança em dias melhores!? Não há explicação. Há a vivência.