Círio de Nazaré

Dom Alberto: 'Expectativa de um Círio Missionário'

Dom Alberto Taveira, Arcebispo Metropolitano de Belém, e o Livro do Círio Oficial que chega ao recorde de tiragem, em sua 16ª edição
Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.
Dom Alberto Taveira, Arcebispo Metropolitano de Belém, e o Livro do Círio Oficial que chega ao recorde de tiragem, em sua 16ª edição Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.

Cintia Magno

Assim que a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Nazaré alcança o campo de visão, as mãos se elevam ao céu e os olhos imediatamente se enchem de lágrimas, acompanhando atentamente o caminho percorrido pela Berlinda em meio à multidão. Difícil de explicar em palavras, a emoção única proporcionada pelo Círio de Nazaré será novamente sentida por milhares de fiéis neste domingo (8), quando a 231ª edição da grande romaria toma as ruas do centro de Belém.

Com o tema ‘Maria, sinal de esperança para o povo de Deus em caminho’, o Círio 2023 contará com mais uma romaria em sua programação oficial, a Romaria da Acessibilidade, especialmente pensada para pessoas que necessitam de acessibilidade, como pessoas com deficiência e mobilidade reduzida, pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), idosos e quem mais queira participar. Além dela, outras 13 procissões prestam homenagens à padroeira dos paraenses ao longo de toda a programação.

Diante de meses de preparação para um caminhar ao lado de Maria, a expectativa não apenas dos devotos, mas também da Igreja Católica é de mais um Círio tranquilo e repleto de bênçãos. O Arcebispo Metropolitano de Belém, Dom Alberto Taveira Corrêa, aponta que a expectativa é que o Círio de 2023 seja, acima de tudo, um Círio missionário, despertando em cada devoto a sensibilidade de olhar ao redor em busca de fazer o bem a alguém. Confira a entrevista concedida pelo Arcebispo ao DIÁRIO.

P: Qual é a expectativa da Arquidiocese de Belém para mais uma edição do Círio de Nossa Senhora de Nazaré?

R: O Círio é um evento de evangelização. Ele é preparado durante todo o ano, nós escolhemos um tema – o tema deste ano é ‘Maria, sinal de esperança para o povo de Deus em caminho’ -, então, o Círio é um projeto de evangelização e de formação do povo de Deus e que, claro, encontra o seu ponto alto na celebração do domingo, o Círio de Nazaré. Então, a expectativa que nós temos é que a preparação tenha produzido muitos frutos. E o que a gente espera, aliás eu já propus isso em vários ambientes, é que esse seja um Círio missionário, que cada pessoa que participar do Círio procure olhar ao seu lado, olhar ao seu redor e verificar o bem que pode fazer a alguém. Da mesma maneira que Maria é um sinal para os outros, que cada um de nós seja um sinal de esperança, de alegria em um tempo tão conflitivo em que nós vivemos. Então, nós desejamos que as pessoas realmente encontrem, olhando para a figura de Maria, o apelo a serem também elas missionárias e portadoras da esperança.

 

P: O sr. falou sobre essa preparação, que também inclui as visitas feitas pela Imagem Peregrina, que nós temos acompanhado que, cada vez mais, têm ultrapassado as fronteiras do Estado. É uma forma de levar essa devoção dos paraenses por Nossa Senhora de Nazaré para o resto do Brasil?

R: Na nossa Arquidiocese, durante esse ano, passam de 600 as visitas da Imagem Peregrina nas paróquias, nas comunidades, nas instituições, nas escolas, nas universidades. Então, durante os meses de agosto e setembro, nós temos essas visitas às nossas regiões. Por exemplo, nestes dias nós estamos fazendo a visita começando em Ananindeua, passando por Marituba, Benevides indo por Santa Bárbara, chegando a Mosqueiro, paróquia por paróquia. Depois, nós temos durante o ano, as visitas a outras partes do Brasil e é muito expressivo o fato de que tantos lugares pedem que nós levemos a visita da Imagem Peregrina. Quando nós tivemos um grande encontro dos Bispos em Santarém, tomamos uma iniciativa muito bonita: cada diocese da Amazônia recebeu da nossa parte um presente, uma réplica da Imagem de Nossa Senhora de Nazaré. Então, esta é uma forma também de nós fazermos crescer a devoção, o amor à Virgem Maria. A imagem é um ícone, a devoção é com a Virgem Maria, é com a pessoa, é o amor a Nossa Senhora, que passa na nossa frente e é o sinal da nossa fé. Então, estamos divulgando pelo Brasil inteiro essa devoção à Nossa Senhora de Nazaré.

 

P: Esse ano a programação oficial do Círio chega a 14 romarias, com a inclusão da Romaria da Acessibilidade. Essa é uma demanda que vem das próprias comunidades, dos devotos?

R: Isso. É uma romaria que se chama ‘do silêncio’ e foi pedido, especialmente, pelas pessoas que trabalham com pessoas autistas. Para dar um exemplo, nós já temos na Paróquia de Nossa Senhora do Bom Remédio esta missa de acessibilidade. É impressionante como vão famílias, especialmente com crianças e adolescentes autistas, vindas de toda a cidade e que acorrem ao Jardim Satélite para essa missa que é preparada e vivida justamente com essas pessoas que estão dentro do espectro autista e que se sentem valorizadas, incluídas, participantes. Então, nasceu a ideia de que o Círio também dê uma resposta a essas pessoas e essa romaria será silenciosa, mas muito expressiva, muito significativa.

 

P: Vocês estão esperando um público grande de fiéis que vão acompanhar mais esta romaria?

R: A gente faz uma proposta e nós esperamos que a resposta seja grande. Eu digo que quando cheguei aqui, no meu primeiro Círio, em 2010, me falaram sobre a Romaria das Crianças e eu pensei ‘Ah, bom. Deve ser um grupo de crianças’ e quando eu vi tinham mais de 100 mil. Então, o Círio sempre tem respostas superlativas. Eu prefiro não falar de números, mas falar da proposta e saber que a cultura religiosa do Círio é uma cultura de respostas muito maiores do que nós possamos imaginar.

 

P: Todos os anos a Arquidiocese de Belém e a Diretoria da Festa de Nazaré fazem uma campanha pelo não corte antecipado da corda. Que mensagem o sr. poderia deixar para os promesseiros que vão acompanhar o Círio na corda, este ano?

R: Eu desejo que os promesseiros da corda tenham paciência porque a corda depois é partida. A paciência nos ajuda a servir aos outros, porque as outras pessoas também têm direito e têm o gosto de poder levar um pedaço da corda para sua casa.

 

P: O ideal é que ela seja levada até o CAN?

R: A ideia é que ela vá até o CAN. Por isso que eu fico em frente ao Colégio Santa Catarina. Eu vou no Círio até o Edifício Manoel Pinto, depois eu venho para o Colégio Santa Catarina, onde fico ali para abençoar todo o povo até que termine, até que o último romeiro passe. Eu fico ali para abençoar as pessoas porque eu sei que muita gente encontra, ali, esta oportunidade de um contato com a Igreja. Então, o nosso desejo é que as pessoas respeitem e que nós possamos ter o corte da corda na hora certa, no final, chegando no CAN.

 

P: E há alguma expectativa em relação ao horário que a procissão deve encerrar?

R: As estações vão chegando, conduzindo, eu faço a benção das pessoas que chegam e, ao meio-dia, no CAN, tem a missa que será celebrada por Dom Antônio, enquanto eu estou recebendo as pessoas ali para essas bênçãos. Só que o Círio não se encerra ali porque no domingo à noite, às 18h, já tem a missa presidida pelo Núncio Apostólico do Brasil [Dom Giambattista Diquattro], que é o representante do Papa no Brasil e que, aliás, participará de todo o Círio. Ele chegará na sexta-feira e acompanhará todo o Círio.