Cintia Magno
Para uma multidão de devotos, a 230ª edição do Círio de Nossa Senhora de Nazaré iniciou ainda antes do nascer do sol. Por volta de 4h de domingo (09), muitos romeiros já rumavam em direção à Igreja da Sé para acompanhar a Santa Missa que antecedeu a procissão. Fazendo o sentido contrário, seguindo em direção à Basílica Santuário de Nazaré, ponto de chegada da romaria, os promesseiros também cumpriam as suas promessas.
Aos 50 anos de idade, o belenense Léo Torres vivenciou pela primeira vez a experiência de cumprir uma promessa feita a Nossa Senhora de Nazaré e a emoção não poderia ser maior. No seu tempo, aproveitando o clima ameno da madrugada, ele saiu de casa acompanhado por uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré para caminhar o percurso do Círio.
“Foi uma promessa de saúde. Na pandemia eu fiquei muito mal e eu prometi a ela que viria acompanhando o Círio. Eu vim na Trasladação e hoje (domingo) ”, contou. “Eu sou paraense e todos os anos eu ia para um ponto ver a Berlinda passar com a minha família, eu via as pessoas cumprindo promessas e, hoje, depois de 50 anos de Círio, eu estou pagando a minha promessa”.
Sem conseguir conter a emoção de participar do Círio por mais um ano, e desta vez de uma forma diferente, Léo considera que a melhor maneira de entender o que é o Círio é vivendo a procissão. “Eu estou muito agradecido por esse momento que é tão nosso. O Círio nos toca de uma forma que só vivendo mesmo para saber”.
Antes que as ruas fossem completamente tomadas por romeiros, a auxiliar administrativa Leideana Silva de Souza, 33 anos, cumpria o trajeto do Círio de joelhos. Apesar da doe inevitável causada pela pressão dos joelhos no chão, ela não tinha dúvidas de que todo o sacrifício vale a pena. “Em 2019 a minha mãe precisou fazer a retirada de um mioma e durante uma novena eu tive uma revelação e fiz a promessa na intenção de que ela se curasse e tivesse uma boa recuperação”, contou. “Em 2019 eu cumpri a promessa pela primeira vez, com ela do meu lado, e não existe sensação melhor do que essa. Quando a gente chega na Basílica, apesar de todo o cansaço, parece que não existe mais dor nenhuma, só fica o sentimento de dever cumprido”.
Depois de dois anos de intervalo na promessa, em decorrência da suspensão da procissão presencial durante o período mais crítico da pandemia, Leideana voltou a seguir o percurso do Círio de joelhos. O medo de não conseguir chegar até o final, na Basílica Santuário, é inevitável, mas a força para conseguir seguir vem da própria Virgem de Nazaré. “É muito sofrido, bate o medo de não conseguir chegar, mas a gente pede força para Nossa Senhora e vai. Ela acompanha”, conta. “Eu faço isso não só pela cura, mas pela própria gratidão de estar viva”.
Já o motivo que levou a doméstica Shirlene Ferreira, 37 anos, a cumprir o trajeto da procissão de joelhos foi a realização de um sonho de sua filha. Enfrentado o período difícil da pandemia, Shirlene conseguiu comemorar os 15 anos da filha e não poderia deixar de agradecer pela graça alcançada. “Era um sonho muito grande de toda a família e estava muito difícil, mas eu pedi que Nossa Senhora concedesse essa graça e hoje eu estou pagando a minha promessa”.
À medida que o dia ia amanhecendo, novos promesseiros e romeiros chegavam. Quando a Santa Missa celebrada na Catedral Metropolitana de Belém foi encerrada e a Imagem de Nossa Senhora foi acomodada em sua Berlinda, por volta de 7h20, as ruas ficaram completamente lotadas de fiéis, já não sendo possível enxergar o asfalto no chão. Já por volta de 8h30, a Berlinda começou a fazer a curva para subir a avenida Presidente Vargas, um dos momentos mais delicados da procissão e que correu sem intercorrências.