Cintia Magno
Com o céu tomado por um azul escuro, os primeiros devotos iniciaram o trajeto de homenagens e agradecimentos à Nossa Senhora de Nazaré. Ainda durante a madrugada de domingo (08), centenas de pessoas já iniciavam o percurso desde a Catedral Metropolitana de Belém, rumo à Basílica Santuário de Nazaré. Muitos deles levavam consigo a gratidão manifestada das mais diversas maneiras.
Depois de 10 anos acompanhando o Círio de Nazaré na corda de Nossa Senhora, o professor vivenciou uma experiência diferente neste ano. Cumpriu o percurso da procissão de joelhos, reunindo forças de onde não se pode explicar. “É algo que não tem explicação. Eu passei 10 anos na corda, mas acompanhar o percurso de joelhos é muito difícil, ainda mais que eu estou passando por um luto, mas Nossa Senhora conforta e dá forças”.
Para que conseguisse percorrer o caminho antes das ruas completamente tomadas por fiéis, o professor saiu de casa às 3h. Pouco depois de uma hora, já alcançava a curva da avenida Boulevard Castilhos França, para a avenida Presidente Vargas. Além da força emanada por Nossa Senhora, ele contou com outra ajuda muito especial, o da própria mãe. “Ajuda de mãe não tem igual”.
Foi também de joelhos no chão que a enfermeira Nathália Araújo, 38 anos, manifestou sua gratidão à Nossa Senhora. Muito animada, ela conta que a companhia faz toda a diferença para conseguir cumprir a árdua missão de chegar até a Basílica Santuário. “A companhia é essencial, por isso eu fico tão tranquila. Essa é a segunda vez que eu cumpro o percurso de joelhos, no primeiro ano foi por motivo de doença de uma pessoa muito próxima. Dessa vez é por uma graça minha mesmo, uma conquista muito grande”.
Vestida com o jaleco de enfermeira e com um canudo em uma das mãos, Nathália agradecia pela formatura. “Não tem palavras para descrever o quanto é bom chegar até o final, lá na Basílica. É um misto de dever cumprido e emoção”, descreve. “Esse ano eu estou levando a cópia do meu diploma para deixar nos pés da mãe. Foi uma graça alcançada mesmo”.
A graça alcançada pela cozinheira Cristina Rayane, 30 anos, se refere à saúde da sobrinha, de apenas 4 anos, que hoje corre agitada por toda a casa. Ela lembra que a criança nasceu com paralisia cerebral e a perspectiva apontada pelos médicos, à época, era de que ela não conseguiria andar.
“Os médicos disseram que ela iria ficar em um estado vegetativo, se alimentando só por líquido, sem conseguir andar ou falar. Foi quando eu prometi a Nossa Senhora que se ela conseguisse andar, eu ia trazer as perninhas de cera pra agradecer”, lembra. “Hoje ela corre, brinca, come, fala tudo. Para uma criança que não ia conseguir nem andar, é uma graça muito grande ver ela assim”.
Devotos agradecem pela saúde
Assim como Cristina, a dona de casa Tainá Rafaela Nascimento, 24 anos, também entregou a saúde de uma criança nas mãos da Virgem de Nazaré, no caso, a do seu próprio filho. Ainda gestante, Tainá enfrentou várias complicações na gestação e também durante o parto. No momento de maior desespero, ela não hesitou em recorrer à mãe de Jesus.
“Ele nasceu quase sem respirar e naquele momento eu conversei com Nossa Senhora e pedi que ela não aceitasse que eu perdesse o meu filho. Eu prometi que, se ele ficasse bem, eu viria com ele de anjo por cinco anos”, conta, com o pequeno Ravi Luca, de dois anos, agarrado a ela.
“No primeiro ano que eu vim, ele não quis usar a asinha de anjo, então, eu decidi usar eu mesma e fazer o percurso de joelhos pra agradecer por essa bênção tão grande que é o meu filho. Ele é a minha força para cumprir a minha promessa”.
Ao longo de todo o percurso, mesmo antes do início da procissão, as manifestações de força pela fé são inúmeros. Cada um à sua maneira, os devotos agradeciam pelas mais diversas graças. A maneira encontrada pelo motorista Édson Amaral, 51 anos, para agradecer pela própria vida e pelas vidas de outras três pessoas foi levando uma Berlinda com a Imagem de Nossa Senhora no Círio. Há um ano, ele lembra que conseguiu sair ileso de um grave acidente e prometeu que levaria a homenagem durante todo o trajeto.
“Eu estava indo para Marabá e quando eu estava há 10 km de Tailândia, o pneu do carro estourou e a gente capotou. Apesar da gravidade do acidente, a gente saiu todo mundo ileso, só com ferimentos leves”, lembra. “Eu considero que foi um livramento ninguém ter se machucado. No ano passado eu acompanhei o Círio e naquele momento eu prometi que no ano seguinte eu viria trazendo uma Berlinda”.
Com tantas manifestações diferentes, a emoção toma conta não apenas quem cumpre a sua promessa, mas também quem presencia tudo isso. Apesar de já ter assistido a passagem da procissão em anos anteriores, esse foi o primeiro ano que ele acompanhou toda a romaria e ainda fotografando. “Eu acho que o mais difícil de acompanhar fotografando é o sufoco, a multidão mesmo”.