Trayce Melo
Nos dias que antecedem a festividade do Círio de Nazaré, romeiros de várias regiões do estado peregrinam até a Basílica Santuário, em Belém. Alguns chegam pedalando e outros caminhando.
O professor Rodrigo Costa utiliza uma bicicleta para percorrer cerca de 215 km de Bragança até Belém. Ele conta que sempre foi muito devoto de Nossa Senhora de Nazaré e já vai na corda há mais de 25 anos, por conta de uma promessa que fez pela saúde da sua avó. Sua história com o pedal começou em 2014, através de um convite de um grupo de promesseiros que pedalava até a Basílica.
Hoje em dia ele tem seu próprio grupo de ciclistas composto por 10 promesseiros. “Quando eu comecei no grupo de pedal, eu não tinha me preparado, estava acima do peso e tinha uma bicicleta não muito boa na época para seguir viagem, mas aceitei o desafio, foi um momento de superação. Hoje em dia, com 45 anos, minha preparação é intensa”, diz.
“A gente leva cerca de 15h pedalando, saindo da frente da Igreja de São Benedito. O pároco disponibiliza um carro de apoio para levarmos nossos utensílios”. O professor diz que os preparativos do grupo Cordeiros do Pedal, no qual é um dos fundadores, começam dois meses antes do Círio.
“Estipulamos esse tempo também para confeccionarmos uma camisa padronizada para o grupo, que é um marco. Na camisa colocamos elementos que remetem ao cartaz do Círio, símbolos do município de Bragança e a bandeira do Brasil, do Pará e de Bragança”, explica.
“É uma sensação indescritível fazer parte, vocês não imaginam a empatia das pessoas com a gente. A cada ano renovo minha fé. Após passarmos por anos tão difíceis, o Círio nos proporciona viver momentos inesquecíveis de devoção e amor ao próximo. Sempre faço boas amizades pelo percurso, inclusive faço parte também de um grupo da corda. Todos os anos no mesmo local nos reunimos e cumprimos nosso propósito, são pessoas de várias partes do estado”, diz Rodrigo Costa .
“As pessoas disponibilizam seu tempo de madrugada para ajudar e dar alimento a nós, romeiros, alguns deles nem são católicos. A gente dorme em qualquer lugar, as vezes o cansaço pesa, mas nossa padroeira dá forças ao grupo para concluirmos nosso trajeto. Esse ano vamos levar um aluno do curso de redação para filmar o trajeto, vai ser incrível documentar esse momento” .
FAMÍLIA
Esta emoção também é compartilhada por Natália Tavares, coordenadora do grupo Romeiros da fé. O grupo de Marapanim tem cerca de 149 romeiros. Natália diz que já faz parte do grupo há 19 anos e na frente da coordenação está há 4 anos. “Somos uma das maiores caravanas. A cada ano esse número de romeiros aumenta. Nosso maior desafio é arrecadar doações, já que o grupo é grande, mas com fé conseguimos arrecadar. Esse ano sairemos da Igreja Matriz de Nossa Senhora das vitórias na segunda-feira (2) para chegar na sexta-feira (6) em São Brás”, relata.
Ela considera o grupo uma família. “O nosso grupo se apoia muito. O nosso intuito é que todos cheguem bem, esse ano a camisa do grupo terá a foto com todos nós em Marituba para lembrarmos que além de romeiros somos uma família. Mesmo que a gente precise carregar algum, todos chegam na casa de ‘Nazinha’. Nossa caminhada não é só de um, é de todos nós”, comenta.
“Sempre digo que é meu último ano, mas quando chega na hora não consigo, minha fé e motivação falam mais alto. Minha mãe teve uma paralisia facial e fiz uma promessa pela melhora dela em agosto, no mesmo mês que acontece o Círio de Marapanim, de Nossa Senhora das vitórias. Minha mãe se recuperou e como forma de retribuir fui na caminhada. Não me esqueço desse dia, peguei muita chuva, me deu febre e fiquei desnorteada. Mas em Marituba encontramos um galpão, que nos serviu de abrigo. Eu fui a última romeira naquele ano a chegar, não tinha mais nem comida, mas eu consegui chegar até a Basílica, pela vitória da minha mãe. Hoje eu sigo peregrinando pelos meus filhos também”.
Castanhal
Outro grupo é o da Romaria de Nossa Senhora de Nazaré de Castanhal, que já está em sua 44ª romaria. José de Nazaré coordena o grupo de quase mil pessoas. Ele diz que são 79 km até a Basílica e 28h caminhando, com oito paradas no caminho. “Nossos preparativos começam em maio, através de ofícios para os órgãos públicos, para ter ajuda e proteção dos órgãos de segurança durante o trajeto. Nossa romaria é realizada através de doações e do apoio da Prefeitura”, diz.
“Esse ano temos uma berlinda nova feita em Icoaraci, toda ornamentada. Durante o nosso trajeto chegamos a rezar o terço 30 vezes. Também louvamos cantando e agradecendo. Contamos com carros de apoio, que disponibilizam água, frutas e primeiros socorros. No grupo tem pessoas de todas as idades. A minha esposa, Selma Abrantes, há 33 anos confecciona o manto junto a outra participante do grupo, Socorro Magalhães. Além disso, ela também toma conta da alimentação do grupo”, ressalta.
“A minha devoção vem de família, eu sou nascido em Belém, mas moro em Castanhal. Como meu nome já diz, foi uma homenagem do meu pai a nossa padroeira.Meu pai era proprietário de veículos, antes não tinham ônibus para os bairros, só passava na Almirante Barroso. Então ele ajudava esses romeiros com transporte e suporte. Mas a minha vida mudou mesmo quando em 1990 fiz uma promessa para Nossa Senhora me ajudar com um emprego, hoje em dia tenho 33 anos trabalhando nesse lugar”, afirma.
“Também eu e minha esposa passamos por algumas situações delicadas de saúde, operei do pâncreas, da vesícula, do estômago e da cabeça dos dois lados por conta de um coágulo. Minha esposa já chegou a ficar tetraplégica, por conta do covid-19, mas Nossa Senhora ainda tem um propósito para nós nesse mundo, por isso seguimos com o grupo peregrinando e louvando”.