Cintia Magno
Globalmente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que cerca de 300 milhões de pessoas no mundo sejam afetadas pela depressão, um transtorno mental caracterizado por uma tristeza frequente na maior parte do tempo. Motivo de preocupação em todo o mundo, a doença também atinge uma parcela importante da população brasileira. De acordo com a última Pesquisa Nacional de Saúde, realizada em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 16,3 milhões de pessoas com 18 anos ou mais de idade referiram ter recebido diagnóstico de depressão no Brasil, sendo 245 mil delas com domicílio no Estado do Pará.
De acordo com a médica psiquiatra e docente do curso de medicina da Universidade do Estado do Pará (Uepa), Valdilene Magno Pinto de Souza, a depressão se caracteriza por tristeza frequente na maior parte do tempo, aquela perda da capacidade de sentir prazer inclusive com atividades do cotidiano. “Apresenta, também, um cansaço excessivo, uma fadiga, pode apresentar alterações do apetite para mais ou para menos, um sono perturbado que pode ser também para mais ou para menos, sendo que na maioria dos casos a gente observa um quadro de insônia, aquela dificuldade de iniciar ou de manter o sono”, explica. “Podemos observar, também, no paciente depressivo, uma redução da concentração e da atenção, um sentimento de culpa muito exagerado que pode gerar um choro fácil”.
CHORO FÁCIL
O choro é outro sinal comum em um paciente que está com depressão, segundo a médica, um choro em que o paciente sente dificuldade de conter. Independente disso, a psiquiatra lembra que nem toda tristeza profunda está relacionada à doença. “A tristeza profunda pode não estar ligada à depressão. Existe uma diferença entre a tristeza e depressão. A tristeza, no luto, por exemplo, pode perdurar até dois meses, passando desse período nós já podemos avaliar o paciente melhor para ver outro tipo de situação ou patologia”, considera a dra Valdilene Magno.
“Nos primeiros sinais da depressão, nós podemos pensar no isolamento social, na dificuldade de conciliar o sono, nessa tristeza, o choro também é importante porque ocorre com bastante frequência, pode acontecer também uma alteração do humor que está ligada à irritabilidade, esse pensamento de culpa, o sentimento de inutilidade e o grande pessimismo. É importante lembrar, também, da redução da autoestima da pessoa, da autoconfiança, a pessoa acha que ela não serve para nada, ela não entende o motivo de estar viva”.
Um mal que não escolhe idade
A médica psiquiátrica Valdilene Magno Pinto de Souza lembra, ainda, que a depressão pode ocorrer em todas as faixas etárias, desde as crianças até os idosos. “A depressão no adolescente é algo que nós precisamos nos preocupar muito e partir para um atendimento mais individualizado em função de os adolescentes passarem por diversas situações, inclusive na escola. Aquelas situações chamadas bullying e que leva a um sofrimento muito elevado, a uma falta de vontade de ir para a escola”, considera.
“Nesse sentido, é importante que a família ouça o adolescente, com respeito, com cuidado, e o leve a um atendimento mais apropriado, com apoio de um psicólogo, de um psiquiatra para analisar e observar as causas daquela situação e daquela condição de depressão”.
No caso do adulto, a psiquiatra aponta que a depressão pode levar à uma condição de perda da vontade de viver, de resolver as coisas do dia a dia, o que acaba impactando na redução das suas atividades laborativas e no isolamento social. “Além da criança, do adolescente e do adulto, a depressão também pode acometer os idosos. Essa parcela da população que precisa ter uma atenção maior, também em função dos riscos que o idoso tem da questão do abandono. Muitas vezes o idoso é esquecido, não tem com quem conversar, as pessoas não dão aquela importância aos assuntos dos idosos, à convivência com os idosos, então, é como se eles fossem ficando de lado”.
Grávidas e escalpeladas – Vítimas comuns da depressão
A professora e médica psiquiátrica Valdilene Magno Pinto de Souza considera importante lembrar, ainda, que as mulheres grávidas podem apresentar depressão, evoluindo para uma depressão pós-parto, uma condição muito importante porque envolve vários fatores, a família, o bebê, as dificuldades que a mãe vai ter de cuidar dessa criança.
Outra situação que também demanda muita atenção, especialmente na região amazônica, é o atendimento aos casos de depressão que evoluem com as mulheres vítimas de escalpelamento. Da mesma forma, outras condições também podem evoluir para um quadro depressivo, segundo aponta a psiquiatra.
“Algumas situações como o AVC, o infarto agudo, a condição do paciente oncológico e os pacientes com sequela de Covid-19 podem evoluir com um quadro depressivo porque eles perderam a autonomia, muitos têm alterações motoras, dificuldade de andar, dificuldade de realizar as suas atividades habituais, uma incapacidade que pode ser transitória ou permanente e isso pode levar o paciente a apresentar um quadro depressivo que precisa ser tratado”.
TRATAMENTO
Quando diagnosticada, a depressão pode ser tratada a nível ambulatorial, com a presença do médico, do psicólogo e em alguns casos necessitando a introdução dos medicamentos antidepressivos. “Além disso, o paciente pode ser tratado nos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), onde existe uma equipe multiprofissional com médico, psicólogo, assistente social, educador físico. É importante o apoio da família, o respeito, a humanização e, em casos graves, que são aqueles casos em que o paciente apresenta uma depressão psicótica, ou a depressão com risco de suicídio, nós tratamos em nível hospitalar”, explica.
PARA ENTENDER – DEPRESSÃO
- A depressão é caracterizada por tristeza, perda de interesse ou prazer, sentimentos de culpa ou baixa autoestima, sono e apetite alterados, cansaço e falta de concentração.
- Quem sofre com essa condição pode também ter múltiplas queixas físicas sem nenhuma causa aparente.
- A depressão pode ser de longa duração ou recorrente, prejudicando substancialmente a capacidade das pessoas de serem funcionais no trabalho ou na escola, assim como a capacidade de lidar com a vida diária.
- Em seu estado mais grave, a depressão pode levar ao suicídio.
Fonte: Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).
BRASIL
- Pessoas com 18 anos ou mais de idade que referem diagnóstico de depressão por profissional de saúde mental, por grupos de idade, no Brasil.
- 18 a 29 anos – 5,9%
- 30 a 59 anos – 11,3%
- 60 a 64 anos – 13,2%
- 65 a 74 anos -11,8%
- 75 anos ou mais – 10,2%
PARÁ
- Especificamente no Estado do Pará, a faixa etária proporcionalmente mais afetada pela doença é a de pessoas com 75 anos ou mais, com um percentual de 6,4%.
Fonte: Pesquisa Nacional de Saúde 2019: Percepção do estado de saúde, estilos de vida e doenças crônicas. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).